Estudante do Pará vence concurso nacional de redação
Laryssa da Silva Pinto, de 15 anos, moradora de Oriximiná, ganhou o primeiro lugar em etapa de seleção internacional com o tema "Escreva uma carta para você mesmo aos 45 anos"
A vencedora nacional deste ano do Concurso Internacional de Redação de Cartas, promovido pela União Postal Universal (UPU) e realizado no Brasil pelos Correios, é do Pará. Laryssa da Silva Pinto, de Oriximiná (cerca de 1800 km de Belém), foi a campeã da 45° edição do concurso. A aluna tem 15 anos e estuda na escola Professor Jonatas Pontes Athias, no primeiro ano do ensino médio. O tema deste ano foi " Escreva uma carta a você mesmo aos 45 anos".
Mais de 2.600 escolas públicas e particulares, em todo o Brasil, participaram do concurso deste ano com 4.419 redações de estudantes de até 15 anos, cerca de 700 redações a mais do que em 2015. Escolhida por uma comissão julgadora com representantes dos Correios, Ministério das Comunicações, Unesco do Brasil e Ministério da Educação, a vencedora da fase nacional receberá R$ 5.000 e troféu, em cerimônia realizada em Brasília. A escola receberá R$ 10.000 e troféu.
A redação de Laryssa da Silva Pinto irá, agora, representar o Brasil na etapa internacional, a ser realizada em Berna, na Suíça. O Brasil já venceu a fase internacional, que acontece desde 1972, em três oportunidades e é o 2º país em número de vitórias, atrás apenas da China, com cinco. Ano passado, o estudante de Rondônia Leonardo Silva Brito, campeão na etapa nacional, alcançou a 3ª colocação na fase internacional da competição, em uma disputa que envolveu 1,5 milhão de alunos de 65 países. Em 2015, o tema do concurso foi “Escreva uma carta para descrever o mundo onde gostaria de crescer”. A classificação final do concurso por Estado está no link http://www.correios.com.br/sobre-correios/sustentabilidade/vertente-social/concurso-internacional-de-redacao-de-cartas
Leia a redação vencedora:
"Cara ViDavida,
Tenho pensado muito sobre você esses dias. Você bem sabe que ter 15 anos não é nada fácil. Parece que tentei fugir tanto da infância, que agora, quando me deparo com as incertezas, medos e pressões da adolescência, só me resta recorrer a você, o meu futuro.
Neste momento em que eu a escrevo, meu olhar está parado, como se tudo estivesse em um mesmo ponto. Os pensamentos voam, e, em minha opinião, se vê melhor o mundo com eles do que com os próprios olhos. Como disse um certo escritor “o pensamento atravessa as cascas e alcança o miolo das coisas. Os olhos só acariciam as superfícies”. Então, o que toca dentro de mim agora é a imaginação. Não pretendo ser a dona da verdade, pois esta, muitas vezes, não nos permite errar. O que permeia toda a minha mente agora são mais dúvidas que verdades. E é assim que começo a dizer o que meu presente espera de você.
Eu gosto da palavra dúvida. Ela nos permite mudar de opinião, não ser certo nem errado. A dúvida nos concede a escuta, e disso o mundo está muito carente. Já me encantei inúmeras vezes com os questionamentos do outro e isso me fez mudar de lugar, de opiniões. Desse modo, não tome minhas palavras como verdades irrefutáveis, mas considere o que for sensato.
Diante disso, espero que esta sede em compreender o meio a minha volta também permaneça em você. Eis, portanto, minha primeira expectativa: que não me canse de aprender. Contudo, para aprender é preciso também ensinar, então, acrescente em minha espera mais um princípio: faça-me aluna e professora do mundo.
Mas, por favor, não me ensine a fazer armas, bombas e guerra. Quero aprender a fazer paz, fazer justiça e ser amor. Quero ver no reflexo do mundo a minha casa e nas pessoas, minha família. Lecione-me, para que eu seja capaz de ser o que tanto falta em nosso redor hoje: a tolerância.
E, quando digo “ser” tolerância, embaso-me que hoje, na teoria, muitos dos politicamente corretos condenam Charlie Hebdo, entretanto, não estão aptos a enxergar nas preferências sexuais, vestuárias, políticas e religiosas do outro uma oportunidade para serem passíveis e compreensíveis. Por isso, minha segunda expectativa é que você seja inteiramente aberta ao diferente.
E por falar em religião, eis nossa principal solução, nosso principal problema e nossa maior descoberta até hoje. Afinal, é a nossa crença que nos concede vivacidade, já que por meio dela, acreditamos em algo maior e mais forte do que nós, a ponto de saciar nossos medos, nossas apreensões e todas as nossas impossibilidades humanas.
Entretanto, esse refúgio vem tornando-se cada vez mais motivo de rivalidades, bombardeios e mortes, ao ponto de que minha terceira expectativa é o fim do desrespeito a Alá, a Javé, a Buda, aos Orixás, a Jesus, a Tupã, enfim, é o surgimento de uma era ecumênica.
Uma vez que o tempo é capaz de curar, eu espero também que ele seja capaz de findar nossas mazelas internas e externas. Já que é impossível termos uma sociedade melhor se nós não formos pessoas melhores, se não abandonarmos nossas deficiências éticas e nossas corrupções diárias que mesmo que não incluam desvios de verbas ou lavagens de dinheiro, como fazem alguns dos nossos líderes políticos, são alicerçados nos mesmos motivos que os levam a corromper-se mais a fundo: o egoísmo.
Perante isto, minha quarta expectativa é que vivamos o melhor que o outro tem a nos oferecer, tendo em mente que nós devemos nos manter em conjunto, por que estamos entrelaçados ao ambiente que nos cerca. Reconheçamos, pois, isto. Somos ecossistema.
E quando enfim, esta consciência de respeito mútuo for levada em conta, tenho certeza de que serão as desigualdades sociais, de gênero e econômicas que se extinguirão, e não a nossa fauna, a nossa flora e os nossos biomas. Espero isto de você também, pode incluir: escrúpulos.
Porém, o mundo atual não é constituído apenas de consecutivos deslizes. Temos algo que transmite o que sentimos, que toca, que emociona e que está presente no interior de cada ser vivo, talvez no seu próprio existir, na sua conexão com o planeta. Esta dádiva que edifica o meio é a arte. E se todo artista é também um pouco altruísta, espero que esta se solidifique ainda mais no coração do mundo e na alma humana.
Posto todas essas minhas expectativas do auge da minha juventude e do mundo no ápice da sua insanidade desumana, considere-se, pois, um bote salva vidas. Desde já, por favor, reconheça sua importância em mudar. Tanto a mim, quanto ao mundo. Você não é só o porvir, você é a esperança. Mas sou eu, agora, que posso escolher que amanhã quero para o mundo. Porque o futuro é o segundo que se segue após este ponto final.
Com amor,
Eu 30 anos mais nova que eu mesma."
Informações da asseessoria de comunicação dos Correios.