Desempregado, homem cria forma inusitada de pedir emprego

Sob o forte sol recifense, Gustavo da Silva ergue cartaz na Agamenon Magalhães em busca de uma oportunidade de trabalho

por Nathan Santos qui, 16/06/2016 - 12:18

Entre o trânsito intenso da Avenida Agamenon Magalhães, um dos principais corredores de mobilidade do Centro do Recife, um homem de 43 anos usou a criatividade para fugir das garras do desemprego. Gustavo José da Silva, morador da comunidade da Joana Bezerra, é mais um brasileiro vítima da falta de empregos, agoniado por saber que precisa, o mais rápido possível, garantir o sustento dos três filhos, com idades de 3, 10 e 15 anos. Oito meses é o tempo que o motorista não consegue ao menos uma fonte de renda. Nem os corriqueiros bicos de eletricista e serviços gerais, que antes supriam os períodos de crise financeira, estão disponíveis para o Gustavo. Diante de tantas circunstâncias negativas, ele teve a ideia de pedir trabalho de uma forma diferente e que, a cada instante de contenção no trânsito, chama a atenção de quem passa pelo local.

Há uma semana, nas imediações do bairro da Ilha do Leite, Gustavo ergue um cartaz quando o sinal fica vermelho, por incontáveis vezes, cuja mensagem clama por uma oportunidade de emprego. De 2003 a 2011, ele passou por várias empresas na função de motorista e depois começou a fazer pequenos serviços na função sem vínculo contratual. Porém, há oito meses, o rapaz não consegue emprego. Destacando que nenhuma situação adversa fere sua dignidade, o trabalhador faz questão de dizer que luta para ganhar dinheiro de forma honesta e achou na publicidade própria, chamada por ele agência de emprego pessoal, uma forma de expor para a sociedade a imensa vontade de voltar a ter um trabalho digno.

“Peguei R$ 80 emprestado para confeccionar a faixa. Como não tenho condições financeiras de gastar dinheiro com passagem de ônibus para colocar currículo nas empresas por aí, até porque já fiz isso e não tive respostas, resolvi criar o cartaz para chamar a atenção do povo. Já trabalhei até de armador, em obras da construção civil, mas, de um tempo para cá, não teve mais emprego. Preciso sustentar minha família, mas quero e sempre vou fazer isso honestamente, porque trabalhador é aquele que não fica sentado esperando a oportunidade cair no colo”, contou Gustavo ao LeiaJá.

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Gustavo é o retrato de tantos outros brasileiros que amargam o desemprego. Entre inúmeros índices que descrevem a cruel crise que afeta o País, um estudo divulgado recentemente pelo Instituto Teotônio Vilela aponta que, no ano passado, 2,6 milhões de brasileiros perderam empregos, resultado caracterizado como o maior volume registrado num conjunto de 59 países.

Indo de encontro aos índices negativos e alimentando a esperança por uma vida mais digna, a atitude de Gustavo reflete também em quem presencia seu pedido de emprego. Para o serralheiro Adriano Barbosa, a atitude do motorista é louvável e merece ser reconhecida pelos empregadores. “Acho muito legal a forma como ele procura emprego. A situação está difícil, várias vagas deveriam existir e infelizmente o desemprego continua muito grande”, opina o serralheiro.

De acordo com a promotora de eventos Andreza Maria da Silva, a história de Gustavo reflete a situação do Brasil. “Do jeito que as coisas estão com esta crise, ele achou uma forma de chamar a atenção em busca de emprego. Só ele sabe o que está passando”, completou. Quem acompanha bem de perto o dia a dia do motorista é a ambulante Clécia Maria do Nascimento, que comercializa pipocas e água mineral no mesmo ponto onde Gustavo fica. No vídeo a seguir, ele opina sobre a ideia do cartaz:

Para quem quiser conhecer e principalmente ajudar Gustavo, ele fica próximo ao Instituto Cervantes, de domingo a domingo, das 5h ao meio dia. Os telefones para contato são (81) 98478-1191 e 98610-9374.

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