Recifenses valorizam a educação, mas nem todos estudaram

Conclusão é de um estudo qualitativo promovido pelo Instituto de Pesquisas UNINASSAU. Entre cidadãos que não estudaram por falta de oportunidades, há arrependimento

por Nathan Santos qua, 07/06/2017 - 10:10
Paulo Uchôa/LeiaJáImagens Recifenses entrevistados afirmam que valorizam a educação Paulo Uchôa/LeiaJáImagens

A educação é, sem dúvidas, um dos principais caminhos de ascensão social, mas a carência de oportunidades ofusca esse privilégio na vida de muitas pessoas. Essa é uma das conclusões do mais recente estudo do Instituto de Pesquisas UNINASSAU. De maneira qualitativa, cidadãos pertencentes às classes C e D, moradores de vários bairros do Recife, foram ouvidos e expuseram suas visões de mundo, entre elas a que aborda o universo educativo. A pesquisa foi realizada em parceria com o LeiaJá e o Jornal do Commercio.

Os entrevistados, com idades que variam de 16 a 64 anos, enxergam a educação, de forma praticamente unânime, como um instrumento que pode mudar suas vidas, principalmente em aspectos financeiros. Porém, a pesquisa concluiu que existem alguns fatores que impedem a dedicação de recifenses. Muitos não estudaram porque começaram a trabalhar cedo em “casas de família” ou precisaram ajudar os pais. Sobretudo, a análise qualitativa também revela que os entrevistados maduros apresentam arrependimento por não terem estudado.

Em um contexto oposto ao dos recifenses que não gozaram de oportunidades educacionais, há também entrevistados que afirmam ter tido chances de estudar. Entretanto, de acordo com a análise da pesquisa, eles não aproveitaram as oportunidades. Entre os questionados considerados maduros, existe o consenso de que a educação é valiosa; Os que são pais verbalizam, enfaticamente, o desejo de que “os filhos estudem”.

Auxiliar de reposição em uma rede de eletrodomésticos, Rodrigo Barbosa, de 27 anos, expressa o sentimento de que a educação poderia ter proporcionado a ele uma vida melhor, economicamente falando. Quando criança, o recifense precisou trabalhar comercializando refrigerantes ao lado do pai em jogos de futebol, pois era necessário ajudar a família. De acordo com Barbosa, sua juventude sem recursos financeiros suficientes, a necessidade de trabalhar e alguns problemas familiares prejudicaram seu percurso nos caminhos da educação. Ele não chegou a concluir o ensino fundamental, mas almeja, quando tiver oportunidade, participar de um curso preparatório para supletivo.

Para Rodrigo, a educação é o meio que pode proporcionar melhorias econômicas e sociais em sua vida. “A educação oferece situações melhores em nossas vidas. Ela é a base de tudo, por meio dela você aprende e pratica coisas boas. Pelo lado do comportamento, você sabe chegar e sair dos lugares, além de ajudar ao próximo. Quando a gente fala em educação escolar, ela nos ajuda a ter bom desempenho em entrevistas de emprego e nos faz mostrar aos filhos que a escola é importante”, opina o jovem recifense, em entrevista ao LeiaJá.

Em sintonia com a conclusão da pesquisa que remete ao desejo de educação para os filhos, Rodrigo está entre os que acreditaram nos benefícios educativos para suas crianças. Pai de duas garotas de cinco e sete anos de idade, o jovem defende que as meninas devem estudar. “Elas precisam do estudo para ter um futuro melhor. Hoje, eu entendo a importância da educação”, comenta o recifense. 

Graduação

Ainda de acordo com o estudo do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, independente da renda, os eleitores maduros não têm ensino superior. Em meio aos entrevistados, as justificativas para a falta de graduação são “Não tivemos oportunidade” e “Não temos dinheiro”.

Os obstáculos apresentados pelos entrevistados para o não ingresso na universidade também trazem uma reflexão sobre base de ensino. De acordo com a pesquisa, eles afirmam que não podem estudar em uma faculdade gratuita, porque não têm “estudo”, ou seja, não reúnem preparo para a aprovação.

Já em relação aos aspectos financeiros, estudar em instituições de ensino privadas, que exigem mensalidades, não é possível para os entrevistados. A falta de dinheiro para arcar com as despesas da faculdade é o argumento apresentado. “Parte deles revela a esperança de um dia obter diploma de nível superior”, diz a pesquisa.

A conclusão de um curso superior representa ainda a ideia de que uma graduação pode render bons frutos, principalmente financeiros. “O diploma serve muito”, “Só com eles podemos ganhar dinheiro” e “Se com diploma emprego é difícil, imagine sem” foram algumas das visões identificadas nos entrevistados durante a pesquisa.

Análise

Segundo o coordenador da pesquisa e cientista político, Adriano Oliveira, o estudo aponta, de maneira muito clara, como a educação representa uma forma de mudar a realidade de muitos recifenses. Oliveira analisa ainda que a conclusão de uma universidade ainda é um feito admirado pelo povo da capital pernambucana.

“A educação é instrumento de mobilidade social. Estudar significa ampliar as oportunidades. O diploma de nível superior é valorizado, pois através dele é possível conquistar e manter o emprego. Os eleitores maduros mostram tristeza por não ter conquistado o diploma. Os jovens revelam esperança para conquistar o diploma”, comenta Adriano Oliveira.

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