Melancolia entra na 3ª semana, na Fundaj

Público pernambucano tem lotado as sessões do filme do dinamarquês Lars von Trier

sex, 19/08/2011 - 11:11
Divulgação Diretor conduz a narrativa com delicadeza e muita feminilidade em seus personagens Divulgação

“Que começo!”. Essa é a exclamação sentida assim que o prólogo de “Melancolia” (2011), do cineasta dinamarquês Lars von Trier, acaba. E que pese a exclamação, seguida de um profundo respiro, pois o filme estava apenas começando. O impacto vem sendo sentido pelo público pernambucano nas concorridas sessões do Cinema da Fundação. O filme entra agora na sua terceira semana de exibição.

Ao som de “Tristão e Isolda”, de Wagner, o espectador é convidado a mergulhar na complexa trama sob a temática do universo – tanto o universo familiar quanto o universo-universo, aquele com planetas, estrelas e... melancolia. A sensação, na composição de imagens do prólogo, é que esta seria uma narrativa permeada pela interrupção, com a protagonista Justine (Kirsten Dunst, que ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes 2011 pelo papel) está revisitando recortes de sua vida, momentos que estão o tempo todo sendo interrompidos. O que pode parecer até simples, como o uso simbólico do nome “Melancolia” ser um planeta que se aproxima da Terra, von Trier traduz com maestria, delicadeza e muita feminilidade em seus personagens.

O duo de irmãs, interpretados por Kirsten Dunst (Justine) e Charlotte Gainsbourg (Claire), são as duas pontas que conduzem a narrativa do filme. O início é romântico e até bobo, com Justine e seu recém-marido Michael (Alexander Skarsgård) tentando sair de uma emboscada com o carro, rumo ao cerimonial de seu casório. Destaque para a figura de Claire, que em um primeiro momento aparece como a fortaleza da família, e em um segundo, chega às vezes de uma pessoa desesperada, como talvez você e eu nos sentíssemos ao saber que o fim se aproxima. E se aproximou.

O tempo todo, o marido de Justine (como todos os outros da trama) parece não acompanhá-la, em termos de alcançar a complexidade sentida e expirada por ela – uma transformação na natureza que chegaria para o fim da vida terrestre, traduzida por Justine na dificuldade de cumprir um ritual banal, como o casamento, uma instituição tida como “falida” pela antipática mãe da noiva no discurso da festa. E, depois, passamos a concordar com ela. Assim como todo o esforço da irmã Claire de que a festa saísse bem, em vão.
 
A narrativa é dividida em dois momentos (1 – Justine; 2 – Claire). No primeiro, somos convidados pela câmera atípica a entrar em um constante “esforço de ser” para todos os envolvidos, remetendo à complexidade do universo familiar. Em paralelo, só vamos entender um pouco mais (não inteiramente) da agonia da primeira parte, na segunda.

Outro ponto forte é a naturalidade das interpretações dos atores conseguida pelo cineasta. O marido de Claire, John (Kiefer Sutherland), está “inacreditável” como um fissurado na ideia de aproximação do planeta. O uso da câmera livre, que dá a impressão de uma filmagem caseira, sem enquadramentos lineares, nos aproxima das tensões vividas.

“A vida só existe na Terra e não por muito tempo”, diz Justine, próximo ao final da trama. Aliás, o desfecho é uma das cenas mais bonitas do filme (afora o prólogo, obviamente). E mais bonita não no sentido eufórico do efeito especial utilizado (este, já estamos acostumados a ver em filmes hollywoodianos), mas na sutileza da imagem.

 

COMENTÁRIOS dos leitores