Virtuosi promove diálogo entre música erudita e popular
Começou nesta quinta (14), no Teatro de Santa Isabel, a segunda edição do festival Virtuosi Sem Fronteiras, com o pianista André Mehmari
O Teatro de Santa Isabel abrigou, nesta quinta (14), a abertura de mais uma iniciativa do Virtuosi, o projeto Sem Fronteiras. A programação segue diariamente até o próximo domingo (17) com apresentações da harpista Cristina Braga, do pianista Eduardo Farias, do violoncelista Dimos Goudaroulis em parceria com o percussionista André Contreras e do saxofonista Leo Galdelman, que contará com a Orquestra Jovem de Pernambuco para acompanhá-lo. Todos os concertos são gratuitos, mas é necessário retirar o ingresso na bilheteria do teatro.
Pontualmente às 20h, o maestro Rafael Garcia - diretor artístico do festival - foi ao palco dar início à programação e chamar o pianista André Mehmari para uma apresentação solo. "Este teatro é lindo", disse o músico no início da apresentação. Sem o auxílio de partituras, Mehmari abriu o concerto com a Suite Pulcinella, de Pergolesi e Stravinsky. Ao fim da primeira peça, o pianista saudou o público de forma leve. Chamando o programa de "cardápio", ele incitou os presentes a interferir na apresentação, escolhendo o que seria tocado. "A ideia é vocês terem um leque de opções e quero ouvir de vocês o que vocês querem ouvir", avisou o músico.
Em seguida, tocou uma suíte inspirada em Milton Nascimento, pois é "Sempre bom pedir a bênção a Milton". O compositor Ernesto Nazareth foi o próximo. Mehmari executou os tangos Famoso e Rebuliço, obras pouco conhecidas deste genial compositor brasileiro. Com grande apuro técnico e uma interpretação passional, Mehamri rapidamente conseguiu criar empatia com o público que, aos poucos, se soltou e começou a participar da escolha do que seria tocado.
Simpático, o pianista comunicava-se ao fim de cada música e aceitava até pedidos que não estavam previstos no programa. Os pedidos renderam, entre outras, uma suíte mesclando os clássicos Águas de Março e Fascinação. Também houve espaço para Mehmari tocar uma composição própria, Um anjo nasce, misturada com Beatriz, de Edu Lobo.
Com uma atitude por vezes próxima a de um jazzista, André Mehmari foge ao padrão do músico erudito sisudo e abre espaço para a improvisação, algo nada comum na música clássica. A escolha do pianista foi muito feliz: ele encarna exatamente o objetivo do Virtuosi e especificamente do projeto Sem Fronteiras, de difundir a música erudita e fazê-la dialogar com a popular, dando-lhe uma feição mais amigável a aberta. "A música está se abrindo e os ouvintes percebendo que não se deve demarcar gêneros porque isso empobrece a escuta", opina Mehmari.
Para o pianista, que também é compositor, é necessário que a música clássica volte a permitir o improviso, prática comum no fim do século 19 extinta no século seguinte. "A construção dessas suítes feitas na hora é um desafio que eu encaro com bom humor e alegria, porque geralmente encontro plateias maravilhosas que pedem coisas que eu gosto", conta Mehmari ao LeiaJá. A noite ainda reservou uma estreia: Mehmari descobriu uma música inacabada de Ernesto Nazareth e a terminou, apresentando o resultado em primeira mão ao público presente no Teatro de Santa Isabel.
As amigas Clara Caiaffo, Adilma Alves e Mabel Albuquerque não conheciam o trabalho de André Mehmari e vieram assistir a mais um espetáculo do festival Virtuosi, que elas já acompanham. "Estamos encantadas", afirma Clara, completando que "Essa mistura é um espetáculo". Para Adilma, o momento mais especial da apresentação foi quando o pianista mesclou - de improviso e atendendo a pedidos do público - a Sonata ao Luar, de Beethoven, com a canção My way, eternizada na voz de Frank Sinatra.