Cultura oriental é um dos diferenciais da Feira do Livro

Fãs de mangás encontram na loja Comix uma excelente opção para adquirir coleções e produtos raros

ter, 30/05/2017 - 10:49

A XXI Feira Pan-Amazônica do Livro retornou este ano com um diferencial para suprir a necessidade de um público crescente na capital paraense. A leitura de mangás e histórias em quadrinhos (HQs) faz parte da cultura jovem e abrange um nicho exigente de fãs que se expande ano após ano. Os diversos lançamentos de adaptações desse universo nos cinemas criam uma demanda pelo acesso às obras originais. A volta da Comix na feira, após três anos longe de Belém, não podia acontecer em melhor hora já que se torna um diferencial e ajuda a reforçar a necessidade desse tipo de loja em eventos literários.

As HQs, com o grande sucesso do Universo Cinematográfico Marvel e filmes da DC Comics, a exemplo da trilogia cavaleiro das trevas, conseguiram emplacar muito bem nas mais variadas lojas da cidade, porém a cultura Otaku, como é conhecido o fã de mangás e animes, mesmo crescendo ainda não teve um desenvolvimento tão acelerado em visibilidade como as HQs e isso tem uma explicação. Por conta de muitos heróis das histórias em quadrinhos da Marvel ou DC já estarem na boca da população brasileira há diversos anos e pela própria cultura americana ser muito disseminada no Brasil, os mangás acabaram caindo no fosso do preconceito. Ao tratar de assuntos como religião e ter claras influências dos dogmas orientais, muitas pessoas de idade avançada associavam até mesmo o satanismo a essas obras: “Você ter um baralho de Yu-gi-oh era ser um satanista”, brinca Felipe Barata, estudante de Biomedicina, ao se lembrar do período de popularização dos produtos relacionados ao mangá Yu-gi-oh no Brasil. Ele acredita que o fato de o brasileiro tratar as discussões de religião de forma limitada prejudica a visibilidade da cultura, e lojas como a Comix estariam ajudando em descontruir essa ideia.

Os mangás contam de um ponto de vista diferente a cultura de um continente que não estamos acostumados a ver. Eles apresentam narrativa de uma forma linear, o que ajuda positivamente as pessoas, diferentemente das HQs, que não são lineares e acabam, às vezes, misturando e confundindo a história, explica Felipe. A opinião do jovem é a mesma de diversos outros apaixonados pela cultura japonesa, localidade de origem da maioria dos mangás, que acreditam que existem diferenças gigantescas entre os públicos de cada tipo de história.

Flávio Lopes, aluno de Engenharia Ambiental, aponta que os mangás foram sua porta de entrada ao mundo dos livros em geral. Ele não somente lê as obras orientais, como já leu grandes clássicos da literatura, a exemplo das obras de Shakespeare e Nietschze. “Muitos amigos meus que não gostavam hoje em dia já gostam, até porque virou uma coisa mais popular. Quando eu era criança era muito difícil achar um colega na sala que curtisse”, afirma Flávio, com nostalgia e gratificação por ver essa comunidade crescendo e em consequência incentivando a leitura.

Em Belém a falta de lojas de mangás se torna um pesadelo. O fato de o país ter um custo muito alto faz com que a oferta desses produtos nem sempre seja o suficiente na capital. Se o fã perde um exemplar de uma série contínua, por exemplo, ele terá que comprar pela internet. Apesar de parecer uma solução fácil, o consumidor normalmente terá que pagar frete e em muitos casos pagar um valor mais alto no próprio produto. Soma-se isso a espera de recebimento da encomenda e cria-se uma segunda dor de cabeça. É uma quebra de ritmo total. Ter uma loja em um evento como esse facilita para que as pessoas consigam acompanhar e comprar edições que não existem aqui.

Segundo o sócio-diretor Ricardo Jorge, a Comix, loja de vendas exclusiva de Mangás e HQs, originária da cidade de São Paulo e que atua no mercado há 30 anos, é vista como um diferencial pelos seus produtos. Ela traz em sua bagagem 15 toneladas de mercadoria com mais de cinco mil edições diferentes e aproximadamente 100 mil exemplares divididos entre os segmentos: mangás, quadrinhos, álbuns, edições de luxo, lançamentos e edições raras. Ricardo diz estar feliz de voltar a Belém e de ouvir os clientes parabenizando pelo retorno e desejando que a loja retorne em 2018.

Na Feira Pan-Amazônica consegue-se encontrar diversos livros. Entretanto, encontrar quadrinhos, uma coisa de que crianças e adultos gostam, se torna uma missão árdua e isso dá força e incentivo para o retorno da Comix, visto que o custo para vir a Belém é muito alto e o transporte é bem complicado, por conta da difícil missão de não fechar no vermelho e conseguir pagar as contas, como expõe Ricardo. O foco principal da loja são os colecionadores, porém sempre que é possível ela pratica preços tabelados no mercado e que são os mesmos valores encontrados na loja física na cidade de São Paulo. O diretor ainda expõe que mesmo a procura pelos produtos tendo subido exponencialmente por produções originais da Netflix e outras adaptações, por exemplo, a expectativa de vendas está baixa este ano pela atual situação do mercado, que teve um decréscimo de 40% nas vendas. A condição econômica de recessão dos últimos anos no Brasil parece ter atingido a procura.

Gabriel Silva, aluno do IFPA (Instituto Federal de Educa~]ao do Pará), afirma que a popularidade e difusão facilitaram na conquista da queda do estereótipo que o leitor de mangás carregava. “Se não gosta é porque ainda não leu”, afirma Gabriel, comentando que quando se tem o primeiro contato de verdade com mangás a pessoa muda para sempre de opinião, passando a acompanhar as obras. “São histórias que te envolvem que são contínuas, que têm início, meio e fim e isso te faz querer ler mais”, explicou. Para quem ficou interessado em conhecer esse mundo, Ricardo Jorge convida todos a visitarem o estande da Comix, aberto até o último dia (04/06) da XXI Feira Pan-Amazônica do Livro.

Por Bruna Helena, Carolina Borges, Carla Mercês, Gabriel Cruz, Ingrid Albuquerque e João Costa.

 

 

 

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