Autores paraenses têm dificuldades para chegar ao leitor

Depois da Feira do Livro, escritores voltam para o anonimato por causa do desinteresse das editoras e da falta de livrarias especializadas em títulos regionais

seg, 05/06/2017 - 17:42

A XXI Feira Pan-Amazônica do Livro, encerrada no domingo (4), ofereceu aos visitantes a oportunidade de conhecer os livros escritos por autores regionais que falam das características, cenário, costumes e crenças paraenses por meio da poesia, crônica, conto e até mesmo literatura de cordel. Apesar do grande número estandes na Feira, ainda foram poucos os de autores regionais.

Segundo o escritor de poesia e literatura de cordel Francisco Mendes, apesar as obras serem de boa qualidade, a dificuldade de vendê-los e o desinteresse das grandes editoras é grande. “A dificuldade é muito grande, não só poesia regional, como todo livro que é feito no Estado. Nós não temos uma livraria, nós não temos ninguém interessado em distribuir esses livros, a não ser pouquíssimos autores que conseguem varar esse mercado que é muito fechado”, explica. “Essa aqui é a grande vitrine, a Feira do Livro. Mas são só 10 dias no ano e depois? Vai pra onde esse livro?”, critica.

Os livros chamam atenção principalmente de professores e alunos e têm preços que variam de R$ 5,00 a R$ 160,00. De acordo com a publicitária Letícia Pinheiro, o livro “Brigue Palhaço”, do advogado e escritor Agildo Monteiro Cavalcante, que fala de um episódio da Cabanagem, foi o mais vendido no estande da Academia Paraense de Letras e o público leitor é principalmente formado professores. “Os professores de história que dão aula pras crianças do Ensino Fundamental compram muito”, afirma.

Amélia Conor é professora aposentada e diz que já leu muito os livros regionais e hoje os lê para a neta caçula, que fica encantada com a narrativa da história. “Minha neta diz: ‘E isso acontecia mesmo, vovó?’ Não, isso é uma história pra gente contar, pra gente desenvolver nosso pensamento. E ela diz: ‘Um dia eu vou escrever uma história de uma velha que contava histórias’. É assim que a gente começa a desenvolver o interesse”, conta a professora.

A professora aposentada ainda diz que a leitura das obras paraenses é importante. “Acho importante para conhecer nossa história, para conhecer nossa origem, conhecer quem somos nós, para cobrar esse direito de ser reconhecido, para colocar a história dentro do contexto atual.”

O escritor Francisco Mendes lançou o livro de poesias “Novas Imagens, Outros Olhares”, que fala sobre outro modo de olhar a mesma cidade, Belém, em três vertentes: amor, dor e silêncio. “Esse livro traz um olhar diferenciado das coisas, das imagens que eu já fiz anteriormente, eu fiz com uma nova visão, uma nova imagem daquilo que eu já tinha visto. Mesmo eu falando de água, de rio, de chuva, de Belém, da minha cidade, mesmo eu falando dessas coisas batidas, o leitor vai conseguir fabricar uma nova imagem”, explica.

Por Irlaine Nóbrega.



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