Através da dança, Clube das Pás uniu eternos namorados

O clube, um dos mais tradicionais do Recife, é o principal local de encontro para os casais apaixonados da terceira idade

por Eduarda Esteves seg, 12/06/2017 - 15:29

Quando começa a tocar o clássico 'La Vida Es Un Carnaval', Júlio César pega Júlia pela mão, a leva até o centro do salão de dança, laça o braço em torno da cintura dela e, no ritmo da salsa, os dois trocam carinhos de rostos colados e dançam como se fosse a primeira vez. É uma segunda-feira nublada e, mesmo com a temperatura marcando 24ºC no Recife, o clima ameno não impede que frequentadores do Clube das Pás esquentem a pista de dança e lotem as mesas do local.

Mal escureceu e o piso de madeira do salão já está encerado, brilhando como cada objeto da decoração do clube. Nos pisos laterais, as lanternas coloridas de LED davam um charme ao local e traziam a atenção dos frequentadores à pista de dança. No teto, um globo espelhado e os jogos de luzes acompanham os passos experientes de quem faz dos salões de dança um ambiente de retomada da memória afetiva e de paquera. 

No Clube das Pás, idade não é sinônimo de velhice e apesar do processo de envelhecimento ser comumente associado a perdas, o local, fundado no fim do século 19, transborda juventude. Lá não há muitas regras. Muitos chegam com um par, outros preferem ir desacompanhados para se divertir entre amigos e aproveitar os clássicos entoados pela orquestra do clube.

No início do ano 2000, os olhares começaram a se cruzar, mas apenas quatro anos depois veio o primeiro contato. O baterista Júlio César, 58, e a professora Júlia Varela conversaram pela primeira vez em 2004, no Clube das Pás. Músico da orquestra oficial do local, ele a observava de cima do palco, mas a timidez o impedia de iniciar um diálogo. Júlio relembra que em um certo dia tomou coragem e pediu ao entregador de flores do clube que deixasse uma rosa na mesa de Júlia. 

Entre o intervalo de uma música e outra, a professora se recorda do início da aproximação do casal. "Eu não sabia quem tinha me entregue a rosa. Fiquei muito curiosa e perguntei ao vendedor, ele me disse ser de uma pessoa que me observava há muito tempo. Quando eu segurei a rosa, ele olhou pra mim e fez sinal de que tinha sido ele", conta Júlia, que completa 13 anos de casada com o baterista em 2017.

A história de Júlio e Júlia começou no salão de bailes da terceira idade e tem o companheirismo como principal pilar. "Eu achava muito bonita a maneira dele tocar bateria, ele ficava lá de cima olhando pra mim e eu sentada na mesa de pista. A paquera aconteceu naturalmente com pequenos gestos", explica a professora. Para eles, a fórmula para manter o amor ao longo dos anos é vivenciá-lo de forma plena e intensa.

Unidos pelo amor a dança, Marilene de Lima, de 57 anos e Álvaro Guedes, de 58, também deram início ao relacionamento no salão do Clube das Pás. Há 15 anos juntos, eles optaram por não casar e se consideram eternos namorados. O casal se conheceu no dia 25 de maio de 2003. "Eu estava me divertindo com uma amiga e sentia que ele estava me olhando de longe, do outro lado da pista de dança", relembra Marilene. 

A relação dos dois foi ditada a passos mais lentos. Foram meses se olhando até a primeira dança. Assim como na dança de salão, Álvaro resolveu guiar as primeiras conversas e na noite de um domingo deu o primeiro beijo em Marilene no centro da pista de dança. "Ela é minha eterna namorada e companheira. Fiquei interessado assim que olhei, mas fui criando situações e a intimidade foi acontecendo", recorda. 

Para este 15º Dia dos Namorados juntos, Marilene conta que já planejou o presente de Álvaro, mas confessa estar mais ansiosa com o que vai receber do seu par. "Ele é um brincalhão, mas sabe ser muito romântico. Sempre me presenteia com flores, chocolate e é muito cortês. Estou ansiosa pelo nosso dia". 

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