As ilustrações e mensagens empoderadoras de Carol Rossetti

A designer e ilustradora levanta debates sobre representatividade, feminismo, inclusão amor próprio e perda, através de ilustrações

por Lídia Dias dom, 17/02/2019 - 10:00
Reprodução/Instagram/@carolrossettidesign Reprodução/Instagram/@carolrossettidesign

Você pode até não conhecê-la por nome, mas provavelmente já viu alguns dos seus desenhos 'rodando' a internet. Carol Rossetti caiu no gosto popular dos internautas em 2014, quando suas ilustrações tomaram as redes sociais. Através do projeto ‘Mulheres’, a designer e ilustradora discute temas ligados ao universo feminino e debate assuntos como representatividade, feminismo, inclusão e amor próprio. Em entrevista ao LeiaJá, Rossetti falou sobre ‘Mulheres’ e outros projetos que permeiam sua vida.

De acordo com a mineira, que mora Belo Horizonte, a obra teve início sem pretensão. “Comecei a desenhar mais pra praticar, foi algo bem espontâneo. A meta era fazer um desenho por dia. O pessoal gostou e começou a compartilhar.”, conta. ‘Mulheres’ ganhou repercussão internacional, foi traduzida para vários idiomas, saiu da internet e conquistou o mundo. As histórias contadas na série, antes baseadas em conversas com amigas, passaram a ser inspiradas em relatos feitos por mulheres de vários países à autora. Imagens com mulheres negras, trans, com deficiência ou com outras características são evidenciadas nas criações, sempre acompanhadas de uma frase 'reconfortante'.

Em 2015, foi lançado um livro homônimo do projeto, que conta com 130 ilustrações da série, sendo 30 exclusivas do livro, na época. A página do Facebook, que era seguida apenas pela família e amigos, atualmente tem mais de 310 mil inscritos. Carol também teve seu trabalho exposto na TEDWomen 2015, na Califórnia e palestrou no TEDx Vinhedo 2015, conferência que discutiu o poder de mulheres e meninas e as incentivaram a ser criadoras de mudanças.

Cores

Em 2016, após o sucesso de ‘Mulheres’, foi lançado ‘Cores’. O projeto em quadrinhos foi idealizado para o público infantil e conta histórias de um grupo de crianças que querem ser livres para brincar sem os preceitos estipulados pela sociedade. Carol afirma que é muito importante ajudar na luta para a desconstrução de preconceitos, mas que auxiliar na construção de cidadãos melhores também é fundamental. “Cores foi feito para o público infantil, mas acabou que os adultos também gostam e consomem o produto’, revela.

Assim como ‘Mulheres’, ‘Cores’ também virou livro e as obras podem ser adquiridas online.

O post do meu vizinho parece ser melhor do que o meu

Participando do projeto ‘Inktober’, no qual artistas compartilham um desenho por dia, durante 30 dias, no mês de outubro. Rossetti lançou o ‘O post do meu vizinho parece ser melhor do que o meu’, baseado na premissa de que ‘o gramado do vizinho é sempre mais verde’. Com traços simples, em tons rosados, a narrativa gráfica remete aos processos criativos de artistas independentes.

“A gente glamouriza muito, se compara muito e temos que administrar muita coisa. É necessário plano de marketing, saber como aquela arte vai chegar ao público. É um trabalho muito completo e diversificado,’ revela.

Nesse projeto, Rossetti nos conta a história de uma cineasta que é muito boa no que faz, mas que se compara constantemente com outros artistas. Durante a narrativa, Carol se coloca na história e diz que às vezes também se sente uma ‘fraude’ por demorar para concluir alguns trabalhos. ‘O post do meu vizinho é sempre mais verde’ pode ser lido na íntegra no Instagram da artista.

Vento do Norte

Em produção desde 2016, ‘Vento do Norte’ é o trabalho mais recente e atual de Carol Rossetti. Com uma abordagem um pouco diferente dos trabalhos anteriores, essa é a primeira graphic novel da ilustradora. Apesar dos personagens de Carol continuarem sendo empoderados e levarem representatividade, através de protagonistas negros, engajados em causas políticas e LGBTs, o tema central dessa história é ‘perda’.

“Em 2016, que chamo de 2000 e desespero, foi um ano muito pesado. Eu perdi uma amiga próxima para dengue e no mesmo ano meu avô morreu. Foram duas perdas diferentes, o meu avô já vinha doente há algum tempo, mas a minha amiga foi algo inesperado,” diz.

No entanto, a autora deixa claro que seu novo projeto não é só sobre dor, mas também sobre enxergar saídas em momentos difíceis. Sem data para o término, mas com previsão de 3 volumes, Carol acredita que o projeto tem sido bem aceito pelo público. ‘Sinto que acabo gerando ansiedade nas pessoas’, conta.

Questionada sobre como ela vê a importância de seus trabalhos no contexto social, Rossetti disse que tenta romper com rótulos estabelicidos para sociedade. “Todo pessoal que trabalha com narrativa, com ou sem imagem, constrói o que é visto como normal. Eu tento trazer uma representatividade mais abrangente, para uma sociedade que tem muitos abismos representativos”, explica.

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