Festival Osga promove a cultura do audiovisual

Jornalistas Lorena Montenegro e Mário Camarão defendem a relevância do cinema para a reflexão sobre a realidade

qui, 13/02/2020 - 10:39

"O cinema não é apenas uma expressão artística. Nesses tempos obscuros em que vivemos no Brasil e no mundo, a arte cinematográfica se torna uma ferramenta muito potente, porque reflete sobre a realidade, ampliando o que vemos na tela”, explicou Lorena Montenegro, crítica de cinema. Segundo ela, por meio do contexto histórico e do discurso do realizador das obras é possível entender melhor o espirito de cada era. O cinema, de acordo com Lorena, também cumpre a função de dar relevância e espaço para grupos minorizados.

Para Lorena, o audiovisual tem funções sociais, políticas e econômicas. “Quando o Bolsonaro diz que faz muito tempo que nao há filmes brasileiros bons sendo feitos, ele desmerece a capacidade artística das pessoas que movimentam a indústria cinematográfica brasileira e também invalida todo o desenvolvimento de um mercado que gera muito emprego e movimenta a economia criativa de uma maneira absurda. Hoje, o cinema é o carro-chefe da economia criativa do país, dando visibilidade e oportunidade para muitas pessoas”, afirmou.

Lorena destaca que a arte cinematográfica brasileira contribui de forma positiva e fundamental para a sociedade, pois ela não só fala sobre temas e períodos difíceis sobre os quais nós temos pouco conhecimento ou reflexão, como também traz visibilidade para o país, reforçando valores importantes e reafirmando a identidade do povo. “Ter uma cinematografia própria é uma forma de defender a sua soberania. Ter um mercado que não seja 90% ocupado por filmes norte-americanos é importante. Assim, as crianças brasileiras crescem se enxergando e vendo exemplos que elas podem seguir de algo próximo à realidade delas”, esclareceu Lorena.

“Eu ministro cursos de cinema, de crítica, de roteiro e de criação, e o que mais me dá satisfação é ensinar jovens das periferias de Belém. É muito bom estar envolvida em projetos que têm essa preocupação, pois é dessa maneira que vejo a transformação social, de fato, acontecendo”, disse a crítica de cinema.

Segundo Lorena, é preciso cada vez mais ter diversidade de etnia, de gênero, de raça e de nacionalidade no cinema mundial. “É necessário ter pessoas diferentes que não sejam as que sempre estiveram com esses meios de produção artística nas mãos”, reiterou.

Em Belém, o Festival Osga de Vídeos Universitários, que existe há 16 anos, valoriza a produção audiovisual independente na Amazônia e no Brasil, servindo de vitrine pra alunos de todas as escolas e universidades brasileiras que produzem vídeos alternativos, vídeos documentários, vídeos ficcionais, etc., de acordo com Mário Camarão, coordenador do curso de Comunicação Social da UNAMA – Universidade da Amazônia e coordenador do Osga.

Segundo Mário, o Osga é um festival sério e comprometido com as causas e discussões do cenário contemporâneo. “A cada ano, o Festival propõe um tema suscetível para discutir a realidade, a conjectura e a liberdade de expressão do país A escolha do tema deste ano, ‘O livro é a felicidade encadernada’, é inspirada no escritor paraense João de Jesus Paes Loureiro e é interessante por refletir este tempo de descrédito em relação à ciência, à cultura, à educação e ao conhecimento”, declarou o professor.

“Nós incentivamos os alunos a essa prática durante o ano inteiro nas aulas das disciplinas ligadas ao audiovisual, em oficinas, em bate-papos, etc. É muito importante que eles aprendam roteirização, captação de imagem, edição de imagem e produção de video”, diz Mário. O professo informa que recebe muito material de pessoas que produzem vídeos no cotidiano, que estão acostumadas com a praticidade dos celulares, o que facilita a produção.

“Temos orgulho de manter um festival que é tão bem recebido por todos e que tem uma grande credibilidade, formado por professores, alunos e profissionais técnicos da área cinematrográfica que avaliam os produtos inscritos de forma precisa”, concluiu o coordenador.

Por Ana Luiza Imbelloni.

 

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