Exposição revela cena paraense na Semana de Arte Moderna

Professor Paulo Nunes, doutor em Letras, explica como a arte paraense causou impacto no modernismo brasileiro

ter, 20/12/2022 - 09:31
Arquivo pessoal Professor Paulo Nunes alerta para a desvalorização dos artistas regionais no cenário nacional Arquivo pessoal

A exposição “Místicos e Bárbaros: Corpo, Sabor e Fé” exalta a presença de artistas paraenses dentro do cenário da Semana de Arte Moderna de 1922. O evento, com visitação gratuita, foi organizado pelos colecionadores de obras de arte que são membros do Poder Judiciário paraense e ocorre até o dia 15 de janeiro de 2023, de segunda a sábado, de 8 às 15 horas, e no domingo, de 9 às 13 horas, no Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA), em Belém.

A Semana de Arte Moderna foi uma manifestação sócio-artístico-cultural realizada de 13 a 18 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo, a fim de propor uma nova elaboração da arte nacional. Ao completar 100 anos, a Semana ainda representa um marco nas artes brasileiras.

Na exposição do TRE-PA, pinturas, esculturas e objetos com estilo modernista englobam os acervos pessoais de advogados e juristas, mostrando a presença regional dentro dos parâmetros artísticos nacionais. O nome da exposição é baseado no livro do poeta paraense Antônio Tavernard.

No Pará, apesar da intensa atividade literária, a realidade na década de 1920 era difícil. Pouco se explorou sobre a temática na região, por conta da distância e da desvalorização dos artistas locais.

Para o professor Paulo Nunes, doutor na área de Letras e pesquisador sobre a “Geração Peixe Frito”, grupo de escritores paraenses de grande influência no modernismo brasileiro, faltou reconhecimento ao trabalho desenvolvido no Estado. “Não tínhamos contato com São Paulo. Nosso Brasil era outro, ia praticamente até a Bahia. Norte e Nordeste, mais próximos, tinham mais o que aprender, trocar e dialogar. Nós, amazônidas, devido às nossas revistas culturais, como ‘A Semana’ e a ‘Belém Nova’, publicávamos autores sudestinos e sulistas, portanto os conhecíamos. Mas o contrário não ocorria. Quanto a desvalorizar e desconhecer o que nossos artistas produziam, até hoje, no geral, é importante deixar a Amazônia como locus do exótico, do primitivo: é um modo de nos desvalorizar”, disse o pesquisador.

Paulo Nunes destaca, também, a importância de dar palco às obras regionais, visto que existem pintores, escultores, escritores, entre outros, que possuem uma relevância histórica no mundo das artes a ser considerada. “É como se tivéssemos de ‘matar um leão por dia’ (desculpe a metáfora antiecológica). Espaço de valorização no eixo São Paulo/Rio de Janeiro é briga constante, como se precisássemos do aval do outro para sermos reconhecidos. Grandes autores, talvez eu esteja enganado, produzem sem se preocupar com o julgamento do outro; eles produzem o melhor que sabem... Veja os exemplos de Eneida, Dalcidio Jurandir, Max Martins, Bruno de Menezes, Lindanor Celina. Eles marcaram porque fizeram bem feito, para nos emocionar. Suas obras atravessaram o tempo”, explicou.

Por Giovanna Cunha (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

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