Em entrevista, Joanna Maranhão declara "dever cumprido"

A nadadora de 26 anos recebeu a equipe do Portal LeiaJá e contou os motivos que levaram ao fim da carreira

por Lívio Angelim sex, 31/01/2014 - 20:13

Foram-se 23 anos dedicados à natação. O início da carreira foi precoce, tal qual o fim. Nesta sexta (31), Joanna Maranhão anunciou a aposentadoria. Depois de disputar “incontáveis mundiais e Sul-Americanos, além de Pan-Americanos e os três Jogos Olímpicos”. Aos 26 a recifense recebeu a equipe do Portal LeiaJá e contou sobre a o adeus às piscinas. “Me sinto com a sensação de dever cumprido”, desabafou.







A decisão



- Meu corpo, minha mente, minha família, nossos atos foram sempre voltados para minha rotina de treinos. Não poderia jamais chegar e dizer, ‘gente parei!’. O primeiro momento que eu senti foi no Mundial (em Barcelona), que não era o ambiente em que eu queria estar. Pelo menos, não como atleta



- Já comecei a ir tirando um pouco o pé (dos treinamentos), estudar mais. E passei a me testar, de pedir dispensa da seleção e ficar olhando a coisa pela TV para ver se dava saudade. Quando vi que não tava dando, eu pensei: “pô, passou”.



- Foi mais fácil para eu sentir e decidir isso do que para minha família. Mainha está sofrendo muito. Não tem mais aquele negócio de ‘tem que comprar o pão que Joanna precisa comer. Joanna, hoje, tem que comer isso. Olha a hora do treino de Joanna’. Foi assim a vida toda. Tenho 26 anos, nado desde os 3 de idade.



O sentimento de vergonha do egoísmo olímpico



- Comecei muito cedo, tenho 12 anos de seleção já. Mas, eu tenho um tempo de carreira razoável. E criei uma consciência em relação à política desportiva. A partir do momento que o Brasil se tornou sede olímpica eu vi que a coisa ficou egoísta demais. Tem muito dinheiro envolvido, eu vejo cifras de obras aparecendo e não me sinto bem fazendo parte disso. Porque as prioridades são outras e esporte não é só isso. É muito pouco se dedicar para ganhar só uma medalha. O atleta é muito mais do que isso. E vejo muita gente pensando somente em si. 



O preço da verdade: R$ 412 mil



- A minha modalidade continua com os mesmos problemas, sem critérios claros. As coisas não mudam. Eu gritei durante anos só.  E, de 2007 para cá, todos os boicotes que sofri de clubes e confederação me renderam uma dívida de R$ 412 mil, que é o que minha família deve hoje. Mas, eu considero isso um troféu mesmo. Porque nunca perdi dentro do País, fui para três Jogos Olímpicos, três Pan-Americanos e nunca me vendi. Definitivamente, nenhuma vitória, nenhuma derrota, nada na minha carreira... Nenhum cartola e ninguém que está no sistema poderá dizer que fez parte disso. Porque fiz tudo por conta própria, às custas da minha família, pedindo empréstimos a bancos. Todos comentavam, “Joanna reclama muito, mas ela tá aí ganhando”. Só que eles não sabiam o que custava. E custou esse montante. Mas, minha família é muito forte. Já estou trabalhando e estudando e, em dois anos, vou quitar essa dívida.







Melhor sem holofotes



- Estava falando com meu terapeuta e ele perguntou: “Joanna o que é que você quer agora?”. E eu respondi: “Na minha vida tudo sempre foi muito grande, né? Sul-Americano, Panamericano, Jogos Olímpicos... Eu quero coisas pequenas agora. Eu quero ter minha família, meu estudo. A vida de uma pessoa normal”. O fato de eu entender que não quero mais essa grandiosidade toda que rege o esporte demonstra que estou pronta para isso. E se meu terapeuta disse isso é porque está certo. Ele me conhece melhor que ninguém.



Fora das piscinas, as alternativas prevalecem



- Minha meta, hoje, é terminar o curso de Educação Física. Quero sugar de Nikita todo conhecimento que ele puder me passar. E com Keycy também, porque nunca vi uma pessoa com tanto tato para iniciação. Já estou perguntando muita para ela, ando sempre com um caderno, anotando tudo. Estou com eles aqui e o que puder passar para os meninos (alunos) da parte de alto-rendimento, vou fazer. Mas eles também passam muita coisa para mim. Também estou trabalhando com alguns idosos. Então, assim, é do alto-rendimento à qualidade de vida. Estou me dando o direito de escolher. De saber onde que vou me sentir melhor, me identificar mais e... Encaro!

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