Papão comemora 13 anos de conquista histórica na Bombonera

Em 2003, estreantes na Copa Libertadores da América, os bicolores derrotaram o poderoso Boca Juniors na temida casa do rival e eternizaram o nome do clube na competição

seg, 25/04/2016 - 07:57
Marcelo Seabra/Arquivo Iarley, o herói da Bombonera, em festa na Curuzu Marcelo Seabra/Arquivo

O Paysandu vivia o melhor momento da história da agremiação. Conquistou seis títulos entre 2000 e 2003. Faturou o Campeonato Paraense em 2000 e 2001. No ano seguinte, os bicolores conseguiram incrível façanha: a tríplice coroa ao ganharem o Parazão, Copa Norte e Copa dos Campeões do Brasil. A glória nesta última competição deu ao Papão a oportunidade de disputar a Copa Libertadores da América na temporada posterior. A base mantida durante essas temporadas, somada a contratações pontuais e ao certo anonimato, tornou o Papão uma das sensações do torneio. O time paraense terminou a primeira fase invicto e no primeiro lugar do grupo. Nas oitavas de final, veio o ápice do sonho: o triunfo sobre o Boca Juniors, em pleno La Bombonera. Apesar dos argentinos terem vencido na partida de volta, no Mangueirão, o legado alviceleste já havia se tornado inesquecível. 

“Caçula” no torneio, o Paysandu tinha na chave da primeira fase os já tarimbados Sporting Cristal (PER), Cerro Porteño (PAR) e Universidad Católica (CHI). A estreia ocorreu no dia 13 de fevereiro de 2003 contra o Sporting Cristal, fora de casa. A caminhada na competição internacional começou com vitória: 2 a 0, com gols de Robgol e Sandro. Na sequência, Cerro Porteño e Universidad Católica enfrentaram os bicolores em Belém. Os paraguaios levaram um pontinho para casa ao segurarem o 0 a 0, no Mangueirão. Porém, os chilenos cederam à pressão e, de virada, foram superados por 3 a 1 pelo aguerrido time bicolor. Robgol marcou duas vezes e Vélber fechou o placar.

No returno, os bicolores bateram novamente o Sporting Cristal, agora por 2 a 1, na capital paraense, com gols de Robgol e Jorginho.  Depois o Paysandu fechou a fase de grupos com dois compromissos como visitante. No Paraguai, goleou impiedosamente o Cerro Porteño por 6 a 2. Vélber, Robgol e Iarley fizeram dois gols cada. No Chile, empatou por 1 a 1 diante da Universidad Católica. Sandro fez o gol alviceleste.

O Papão encerrou a primeira fase da Libertadores em primeiro lugar no grupo com 14 pontos conquistados dos 18 possíveis. Foram três vitórias e três empates. No mata-mata, o “azarão” da competição iria enfrentar o Boca Junior, tetracampeão da competição. Por ter feito campanha melhor, os bicolores teriam a oportunidade de definir a classificação em Belém.

Passar da primeira fase invicto já era excelente para o Paysandu. Superou expectativas. Mas, para manter o sonho vivo precisaria superar um dos piores pesadelos: enfrentar o Boca Juniors no La Bombonera. Verdadeiro abatedouro de times brasileiros.  Mesmo com esse histórico, o Papão encarou o desafio.

Para isso, contava com alguns fatores pouco ressaltados: a base da equipe jogava junta havia cerca de quatro temporadas e o clube passava pelo melhor momento na história, tendo conquistado títulos de porte nacional e regional em um curto período de tempo. Isso tornou o time muito forte não só nos aspectos táticos e técnicos, mas, principalmente, psicologicamente. Os atletas tinham mentalidade vencedora e se conheciam muito bem.

Apesar disso, o Paysandu era visto com certo desdém pelo Boca Juniors. E esse anonimato também colaborou muito para os bicolores ganharem ânimo para a partida, como disseram dois jogadores que participaram daquela peleja histórica, Vanderson e Tinho. “Quando você joga fora de casa, na véspera do jogo, não treina no campo do adversário. Dificilmente você treina no campo que vai jogar para valer. E, lá, achei o estranho, na véspera do jogo, a nossa preparação no campo deles. Eles na verdade, como vimos em umas entrevistas em Buenos Aires, não acreditavam no Paysandu. Era um desconhecido para o Boca. No dia seguinte quem teve a surpresa foram eles, que pegaram um time montado, organizado e que taticamente se conhecia”, afirmou o ex-zagueiro Tinho.

Até que chegou o grande dia: 24 de abril de 2003, o gigante Boca Juniors enfrentava no pulsante La Bombonera o desconhecido Paysandu. Mas quem se agigantou foi o Papão.

Aos 23 minutos do segundo tempo, ocorreu o lance que se eternizou na memória do torcedor bicolor e de todos que acompanhavam aquela surpreendente partida. Sandro puxou contra-ataque e passou para Iarley. O veterano centroavante escapou da marcação e chutou cruzado para abrir o placar para o Paysandu. Diferentemente do que foi dito depois, não houve silêncio no estádio. Centenas de aficionados bicolores que estavam nas arquibancadas do La Bombonera fizeram ecoar os gritos deles com o tento histórico.

Como imaginado, a partida se tornou uma guerra nos minutos finais. Expulsões, brigas e o valente time bicolor, com nove jogadores em campo, segurando a pressão dos argentinos. Até chegar o outro momento que se perpetuou na memória dos que estavam presenciando o improvável: o apito final de Carlos Amarilla. O Paysandu venceu por 1 a 0. Placar mínimo no confronto, imensurável na vida do Papão.   

Os paraenses chegaram ao ápice da emoção. Era apenas o terceiro time brasileiro na história a conseguir a façanha de vencer o Boca Juniors na Argentina. A torcida ficou em êxtase. Mas o time não soube lidar com a conquista. Na partida de volta, em Belém, diante do Mangueirão lotado, mesmo com greve de ônibus, os argentinos devolveram a derrota com juros. A vitória por 4 a 2, com três gols do atacante Schelotto e outro de Delgado, encerrarou o sonho do Paysandu na Libertadores. Lecheva e Burdisso (contra) fizeram os últimos tentos do Papão na competição. E ficou a recordação. “É muito bonito você chegar na Curuzu e ser lembrado por isso. Não tem dinheiro que pague essa felicidade”, confessou o ex-volante Vanderson.

O Boca Juniors se sagrou campeão daquela edição da Libertadores ao vencer o Santos na decisão. Além disso, levou, também, o Mundial de Clubes, ao derrotar o Milan na final.

Legado - Pouco foi aproveitado após a brilhante participação do Paysandu na Libertadores. O clube passou a conviver com graves problemas financeiros, desmontou a base e, em quatro anos, estava na última divisão do Campeonato Nacional. Hoje dá sinais de recuperação. E pode, na temporada que vem, voltar a disputar uma competição internacional: A Copa Sul-americana, caso vença a Copa Verde. 

Campanha na Libertadores – Oito jogos, cinco vitórias, dois empates e uma derrota – 70,83% de aproveitamento.

1 – 13.02.03. Sporting Cristal (PER) 0  x 2 Paysandu – Estádio Nacional de Lima  

Sporting Cristal: Delgado, Soto, Leonardo, Rodriguez, Moisela, Pingo, Torres (Soya), Zegarra, Donizette (Omar), Sheput (Julinho). Técnico: René Wélber.

Paysandu: Alexandre Fávaro, Rodrigo, Gino, Jorginho, Luiz Fernando, Vânderson, Sandro, Jóbson, Iarley, Róbson, Balão (Vélber). Técnico: Dario Pereyra.

2 – 06.03.03. Paysandu 0 x 0 Cerro Porteño (PAR) – Mangueirão. Público: 37.223

Paysandu: Ronaldo, Rodrigo, Sérgio, Jorginho, Dênis (Luiz Fernando), Jóbson (Vélber), Vânderson, Sandro, Iarley, Róbson, Zé Augusto (Balão). Técnico: Dario Pereyra

Cerro Porteño: César Velasquez, Pacheco, Caballero, Nery Ortiz, Jorge Nuñes, Inca, Barreto, Aquino (Robson Lima), Salcedo, Dante Lopez (Jorge Achucarro), Hector Nuñes (Ávalo). Técnico: Carlos Báez.

3 – 11.03.03. Paysandu 3 x 1 Universidad Católica (CHI) – Mangueirão. Público: 20.195.

Paysandu: Ronaldo, Rodrigo, Jorginho, Sérgio, Dênis, Vânderson, Sandro, Vélber (Lecheva), Iarley, Balão (Zé Augusto) e Róbson. Técnico: Dario Pereyra

Universidad Católica: Cauteruch, Álvares, Lenci, Ramirez, Ponce, Vasquez, Verdugo, Gonzalez, Acevedo, Ormazával (Jorge Campos), Rubio, Verdugo (Gioino). Técnico: Oscar Mendes

4 – 18.03.03. Paysandu 2 x 1 Sporting Cristal (PER) – Mangueirão. Público:  22.410

Paysandu: Ronaldo, Rodrigo, Jorginho, Sérgio, Luíz Fernando, Vânderson, Sandro, Lecheva, Iarley, Vélber, Robson (Vandick). Técnico: Dario Pereyra.

Sporting Cristal: Delgado, Omar Zegarra, Vilalta, Rodriguez, Moisela, Pingo, Torres (Vasquez), Carlos Zegarra, Donizzete, David Soria (Sérgio Jr,) Flávio Maestri. Técnico: René Wélber

5 – 27.03.03. Cerro Porteño 2 x 6 Paysandu – Estádio 3 de Febrero.

Cerro Porteño: César Velasquez, Pacheco (Achucarro), Caballero, Nery Ortiz, Jorge Nuñes (Róbson Lima), Inca, Barreto, Aquino, Salcedo, Dante Lopez, Hector Nuñes (Ávalo). Técnico: Carlos Báez.

Paysandu: Ronaldo, Rodrigo, Jorginho (Gino), Sérgio, Luíz Fernando, Vânderson, Sandro, Lecheva, Iarley, Vélber, Robson (Vandick). Técnico: Dario Pereyra.

6 – 15.04.03. Universidad Católica 1 x 1 Paysandu – Estádio San Carlos de Apoquino.

Universidad Católica: Wirth, Ormazábal, Álvarez, Muñoz, Acevedo, Patrício, Villagra, Vasquez, Valdebenito, Pérez, Rubio (Gionio). Técnico> Oscar Mendes.

Paysandu: Marcão, Gino, Jorginho, Tinho, Dênis, Vânderson, Sandro, Lecheva, Iarley, Albertinho (Zé Augusto), Robson (Vandick). Técnico: Dario Pereyra.

7 – 24.04.03. Boca Juniors 0 x 1 Paysandu – La Bombonera

Boca Juniors: Abbondanzieri; Ibarra (Calvo), Burdisso, Crosa, Clemente Rodríguez, Battaglia (Moreno), Cascini, Cagna (Tévez), Donnet; Schelotto e Delgado. Técnico: Carlos Bianchi.

Paysandu: Ronaldo; Rodrigo (Gino), Jorginho, Tinho, Luis Fernando; Vanderson, Lecheva (Bruno), Sandro, Velber (Rogério); Robson e Iarley. Técnico: Dario Pereyra.

8 – 15.05.03. Paysandu 2 x 4 Boca Juniors – Mangueirão. Público: 57.330

Paysandu: Ronaldo; Rodrigo (Gino), Jorginho, Tinho, Luis Fernando; Vanderson, Lecheva (Bruno), Sandro, Velber (Rogério); Robson e Iarley. Técnico: Dario Pereyra.

Boca Juniors: Abbondanzieri; Burdisso, Schiavi, Crosa, Jerez, Battaglia,  Cascini, Cagna, Tévez,; Schelotto (Donnet) e Delgado. Técnico: Carlos Bianchi.

Por Mateus Miranda. 

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