Sob chuva, Marcha da Maconha chega a 10ª edição no Recife

Movimento combate a política de guerra às drogas

por Jorge Cosme dom, 26/06/2016 - 18:30

A décima edição da Marcha da Maconha do Recife começou sob pancadas de chuva na tarde deste domingo (26), na Praça do Derby, área central da capital. Apesar da chuva ter feito com que os participantes guardassem seus cartazes e se espalhassem, os momentos iniciais do ato já contava com um bom público.

Entre o público estava Ubirajara Ramos, ou Capitão Presença, como disse se chamar o senhor em vestimentas de super-herói que carrega como brasão uma folha de maconha. Ubirajara é auditor fiscal da Secretaria da Fazenda e pesquisador independente. Desde 2014, ele costuma vender nas marchas e demais eventos sobre legalização o seu livro “Tá todo o mundo enganado!”.

Ele explica o título: “Eu descobri que há 173 anos, na Inglaterra, já se tratava crianças com cannabis. Mil e uma informações foram omitidas ou deturpadas e essa visão foi comunicada de geração em geração. O que dizem de que leva à loucura, que vai te matar, que vai te deixar doido, é tudo mentira, não tem base científica”, conclui o escritor.

A coordenadora da marcha, Ingrid Farias, explica que o objetivo é desmistificar que a luta pela legalização é apenas pela utilização de algumas drogas ilícitas. “A luta é por uma mudança na política de drogas, que precisa levar em consideração as questões de gênero, de raça, de classe. Para nós, a marcha é um instrumento para lutar por uma política de drogas pautada pela saúde, assistência social e cuidado com a autonomia das pessoas, e não pelo genocídio da juventude negra”, afirma. 

Para os movimentos antiproibicionistas, a guerra às drogas sempre foi um erro. “Sem nenhuma dúvida’, complementa Farias. “A ONU reconhece isso na última sessão sobre drogas, que aconteceu há dois meses, quando comprova que não existe nenhum tipo de sucesso na garantia de você conseguir preservar vidas”. Ainda de acordo com a coordenadora da marcha, já é possível ver resultado desde o início do movimento.

“O STF [Supremo Tribunal Federal] já está há um ano julgando a descriminalização do porte e do uso de algumas drogas. Semana passada houve o despeso em cima das pessoas que são presas [réu primário] por tráfico de drogas porque era considerado crime hediondo. Tudo isso vem da luta da marcha da maconha, da luta da redução de danos e antimanicomial”, conclui a militante.

Governo Temer – A coordenadora Ingrid Farias também destaca que os movimentos pela legalização da maconha não aceitam o governo interino de Michel Temer como legítimo e que ele representaria um retrocesso. “É um governo golpista, que não respeita nosso voto. A partir disso, a gente compreende que não é possível dialogar uma política de drogas com esse governo”, lamenta ela. 

“Nós continuaremos nas ruas fazendo pressão popular, mas não fazemos acordo, principalmente com o ministro colocado para Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, que quer internar compulsoriamente os usuários de drogas no Brasil”, finaliza Farias, referindo-se a um projeto de lei do ministro Osmar Terra, que prevê internação compulsória de dependentes químicos. 

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