Líbia inicia mês santo do Ramadã imersa no caos

Após um avanço surpreendente, as tropas do autoproclamado Exército Nacional da Líbia (ENL) estão paradas às portas de Trípoli, retidas pelas forças leais ao GNA, incluindo grupos armados da cidade de Misrata

seg, 06/05/2019 - 11:45
FADEL SENNA Combatentes leais ao Governo de Acordo Nacional (GNA) em confronto com tropas fiéis ao marechal Haftar, no subúrbio de Trípoli, em 25 de abril de 2019 FADEL SENNA

Envolvida em um conflito sangrento, a Líbia parece mais do que nunca mergulhada no caos no início do mês sagrado do Ramadã após a convocação do marechal Haftar para redobrar os esforços para a conquista de Trípoli, sede do governo de União Nacional (GNA).

Após um avanço surpreendente, as tropas do autoproclamado Exército Nacional da Líbia (ENL) estão paradas às portas de Trípoli, retidas pelas forças leais ao GNA, incluindo grupos armados da cidade de Misrata.

Os combates estão ocorrendo nos subúrbios do sul da capital e mais ao sul da cidade.

Desde 4 de abril, confrontos e bombardeios deixaram pelo menos 432 mortos, 2.069 feridos e mais de 50 mil desabrigados, segundo a ONU, que multiplicou os pedidos pelo fim das hostilidades.

O primeiro-ministro do GNA, Fayez al-Sarraj, iniciará nesta terça-feira uma viagem de dois dias para se reunir com o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, com a chanceler alemã Angela Merkel e com o presidente francês Emmanuel Macron. O objetivo é aumentar o apoio contra a agressão "do Marechal Haftar, anunciou nesta segunda-feira o Ministério das Relações Exteriores.

No domingo, a Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (Manul) pediu novamente uma "trégua humanitária de uma semana" por ocasião do início do Ramadã nesta segunda-feira.

O marechal Haftar se opôs a esse pedido e instruiu suas tropas a "infligir uma lição ainda mais dura" às forças que defendem a capital líbia e ao GNA "para arrancá-los de nosso amado país", segundo uma mensagem lida por um porta-voz do ENL, general Ahmed Al Mesmari.

- Presidente do Parlamento "provisório" -

Com o início nesta segunda-feira do "mês abençoado do Ramadã, o mês da jihad", a guerra santa, o marechal Haftar pediu às suas tropas que sejam "corajosas e implacáveis" para erradicar o "terrorismo".

No nível político, o Parlamento da Líbia deu um novo rumo, no domingo, a uma divisão duradoura, depois que 42 deputados dissidentes indicaram um presidente parlamentar "provisório", como alternativa ao atual presidente, Aguila Salah, que apoia o marechal Haftar.

O Parlamento, composto por 188 deputados eleitos em 2014, está baseado no leste, depois de deixar Trípoli após a tomada da cidade por uma coalizão de milícias. Primeiro se estabeleceu em Tobruk, e depois foi em 13 de abril para Benghazi, reduto de Haftar.

Após o lançamento da ofensiva, 42 deputados decidiram boicotar as atividades da câmara, para denunciar a operação militar e a linha seguida pelo presidente Aguila Salah.

Esta guerra é "injustificada", afirmaram em sua primeira reunião em Trípoli.

Em sua segunda sessão no domingo, eles nomearam um presidente "provisório" do Parlamento, Dean Sadeq al-Keheli, "por um período de 45 dias".

Com apenas 42 deputados, essa assembleia não possui a representação exigida pela Declaração Constitucional (ou seja, metade mais um deputado, 95 deputados) para realizar juridicamente uma sessão parlamentar.

A comunidade internacional reconhece o Parlamento baseado no leste, mas não no governo de Abdullah al-Theni, que emergiu daquele Parlamento e também está localizado no leste.

Desde o final de 2015, a comunidade internacional apoia o GAN, criado após um acordo político interlibio, patrocinado pela ONU e baseado em Trípoli.

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