Agricultores são ameaçados de morte, em Jaqueira (PE)

Nesta quarta (13), população do Engenho Fervedouro, que enfrenta disputa fundiária com a empresa Agropecuária Mata Sul S/A, flagrou repressão policial armada; em maio, outros ataques já haviam sido registrados

por Marília Parente qua, 13/05/2020 - 20:43

Flagra de policial apontando arma para camponês, nesta quarta (13). (Reprodução/ Instagram)

Para os moradores do Engenho Fervedouro, em Jaqueira, na Mata Sul de Pernambuco, cumprir com o isolamento social preventivo ao novo coronavírus recomendado pelo governo de Pernambuco tornou-se impossível nas últimas semanas. Nesta quarta (13), agricultores residentes do Engenho Fervedouro, registraram a presença de policiais na região, tendo um deles sido flagrado apontando uma arma de grosso calibre para um morador. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), os agentes afirmam estar no Engenho por determinação judicial e dar cobertura para o cercamento de uma área de suposta posse da empresa Agropecuária Mata Sul S/A.

Segundo os agricultores, o local a ser cercado contém plantações comunitárias e uma cacimba de água, utilizada para subsistência da população. No dia 7 de maio, representantes da comunidade registraram Boletim de Ocorrência, relatando que o camponês Ernande Vicente Barbosa da Silva, de 52 anos, está ameaçado de morte em decorrência de sua permanência no Engenho Fervedouro, em que reside há décadas.

No local, vivem 70 famílias de posseiros que enfrentam conflito fundiário com a empresa Agropecuária Mata Sul S/A, arrendatária de parte das terras da antiga Usina Frei Caneca. Outras ameaças de homicídio foram relatadas. Fontes do LeiaJá informaram que um usineiro tentou atropelar um dos posseiros, que conseguiu escapar. A população está deixando a quarentena na tentativa de se manter nas terras.

De acordo com a advogada da CPT, Luísa Duque, o juiz responsável pela inspeção das terras, não delimitou quais áreas seriam consideradas antigas- isto é, dos posseiros- e quais seriam as áreas novas de plantio. “A empresa tem se valido disso, dessa ausência de marcos geográficos, para avançar sobre posses antigas dos posseiros, consideradas antigas pelo próprio juiz. Então, já que não há nada marcado, a empresa vai e escolhe o que ela considera antigo ou novo”, explica. A advogada comentou ainda que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) chegou a realizar um levantamento detalhado acerca das posses. "Esse documento foi ignorado", completa.

Ela ressalta ainda que a própria caracterização das terras não foi orientada por um técnico, mas decorrente da avaliação do próprio juiz. "Ele delimitou a partir do que achou que era área de uso novo e antigo. Nesse processo, a comunidade já havia perdido muitas áreas antigas", conclui.

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