Pyongyang critica duramente Washington

Há várias semanas o regime norte-coreano intensifica os ataques verbais contra Washington e Seul

sex, 12/06/2020 - 07:04
KIM Won Jin Manifestação de estudantes norte-coreanos em Pyongyang, em 8 de junho de 2020 KIM Won Jin

A Coreia do Norte não poupou críticas aos Estados Unidos nesta sexta-feira (12) e acusou o país de hipocrisia, no segundo aniversário da histórica reunião de cúpula entre o presidente Donald Trump e o líder de Pyongyang, Kim Jong Un.

Há várias semanas o regime norte-coreano intensifica os ataques verbais contra Washington e Seul, chegando inclusive a ameaçar a celebração da eleição presidencial nos Estados Unidos em novembro, caso o país continue interferindo nas questões coreanas.

Nos últimos dias, Pyongyang também criticou os desertores norte-coreanos, que enviam a partir do território sul-coreano, por cima da zona desmilitarizada, panfletos que denunciam as autoridades de seu país de origem. A Coreia do Norte chegou a cortar os canais de comunicação oficiais com o Sul.

Nesta sexta-feira, a Coreia do Norte fez as críticas mais duras aos Estados Unidos em meses. O ministro norte-coreano das Relações Exteriores, Ri Son Gwon, acusou Washington de hipocrisia e de pretender derrubar o regime, antes de afirmar que as esperanças de 2018 se "transformaram em um pesadelo".

- "Promessas vazias"" -

Em 12 de junho de 2018, Trump e Kim protagonizaram um aperto de mãos histórico diante das câmeras do mundo inteiro, na primeira reunião de cúpula entre um presidente americano e um líder norte-coreano.

Pouco depois, Trump escreveu no Twitter que Pyongyang "não era mais uma ameaça nuclear".

Além do aspecto simbólico, o encontro produziu uma declaração a favor da desnuclearização da península. A segunda reunião entre Kim e Trump, em fevereiro de 2019 em Hanói, terminou em fracasso, depois que os representantes dos dois países não conseguiram chegar a um acordo sobre as concessões de Pyongyang em troca de uma possível flexibilização das sanções internacionais.

Os diplomatas americanos continuam afirmando que Kim se comprometeu a renunciar ao arsenal nuclear, mas Pyongyang não tomou nenhuma medida a respeito.

Afetada pelo peso das severas sanções, a Coreia do Norte diz que merece uma compensação por sua moratória sobre os testes nucleares e os testes com mísseis balísticos intercontinentais, assim como pelo desmantelamento da central para testes nucleares de Punggye-ri ou a repatriação dos restos mortais de militares americanos mortos durante a Guerra da Coreia (1950-1953).

"Não há nada mais hipócrita que uma promessa vazia", afirmou Ri, de acordo com a agência estatal KCNA.

- "Desesperança" -

Trump sempre menciona a relação que conseguiu estabelecer com Kim, que ele encontrou uma terceira vez em junho de 2019 na zona desmilitarizada entre as duas Coreias. O presidente americano deu alguns passos em território norte-coreano, algo histórico.

Mas o chanceler norte-coreano afirmou que os avanços diplomáticos não podem ser baseados apenas nas "relações pessoais entre nosso líder supremo e o presidente americano".

"A esperança de melhorar as relações, que era grande alta e foi observada pelo mundo inteiro há dois anos, converte-se, agora, em desesperança, caracterizada por uma deterioração rápida", disse o ministro.

Para o chanceler, embora as populações dos dois países desejem a paz, Washington "quer claramente agravar a situação".

"Como consequência, a península coreana se transformou agora no ponto mais perigoso do mundo e se vê ameaçada de maneira permanente pelo fantasma da guerra nuclear", declarou Ri.

Em 1º de janeiro, Kim Jong Un declarou o fim da moratória sobre os testes nucleares.

Ri Son Gwon acusou o governo dos Estados Unidos de querer, com a desculpa de melhorar as relações, provocar uma "mudança de regime" em Pyongyang e explicou que a Coreia do Norte decidiu fortalecer a sua dissuasão nuclear para "lidar com as constantes ameaças de guerra nuclear dos Estados Unidos".

A Coreia do Norte executou vários testes nucleares com projéteis de curto alcance nos últimos meses. Japão e Estados Unidos consideraram que o país organizou testes de mísseis balísticos.

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