Antigos cassinos do Recife contam história da capital

O investimento por trás da existência dos cassinos na capital pernambucana era a presença das tropas estadunidenses na cidade

seg, 13/07/2020 - 09:25

Um país de proporções continentais como o Brasil, não só em termos de território como também em diversidade e população, carrega em si várias histórias fascinantes. Temos ao longo da linha do tempo contos locais que à primeira vista podem parecer importantes apenas no microcosmo da localidade em questão, mas que, numa visão global, acabam incorporarando vários elementos que fazem do Brasil um país tão interessante e diferente em relação aos seus pares.

Pernambuco é um local abençoado por tais histórias, que acabaram criando culturas e tradições que extrapolam as fronteiras do estado. Antes mesmo da chegada dos europeus à costa do estado em 1500, a região que hoje compõe o estado serviu de abrigo para povos pré-históricos e diversas tribos indígenas, como mostram sítios arqueológicos com mais de 11 mil anos no Parque Nacional do Catimbau.

A partir da colonização, Pernambuco tornou-se um dos pontos centrais da nova nação, o Brasil. A principal região exportadora do pau-brasil e da cana-de-açúcar, produtos que integraram o Brasil à economia mundial, tem em si até hoje o legado tanto dos portugueses que aqui se estabeleceram quanto dos holandeses que almejaram para si a conquista da nação por meio de sua “invasão” – a partir do Recife – no século XVII.

O turista rapidamente percebe o legado dos povos que por ali passaram a partir do estilo arquitetônico de prédios antigos e recentes da região. Entre eles, estão os cassinos, estabelecimentos que viraram moda no Recife e no resto do Brasil na década de 1940. A motivação e o investimento por trás da existência dos cassinos na capital pernambucana era a presença das tropas estadunidenses na cidade, algo que se deu por conta do estreitamento das relações entre Brasil e Estados Unidos durante e após a Segunda Guerra Mundial. Com a chegada de empresas e empresários do país norte-americano, viriam também bases militares ao longo da nossa costa, incluindo em Pernambuco.

Não é por menos que uma das antigas casas de jogos mais célebres da cidade tem o nome de Casino Americano. Construído durante a Segunda Guerra Mundial, o local foi responsável pela grande valorização do bairro do Pina, no Recife. Na década de 1940, bingos e jogos de cartas no Cassino Americano poderiam render grandes prêmios, que hoje, com a evolução da tecnologia e o advento da internet, têm sua contraparte em plataformas online que oferecem jackpot por meio de modalidades diversas, como os famosos caça-níqueis. À época, o prédio de estilo moderno abrigou não só tropas estrangeiras, como também shows de grandes artistas brasileiros que usavam os palcos da casa para entreter seus clientes de classe média/alta.

O Cassino Império, com sua fachada típica de prédio colonial, é outro exemplo de legado deixado pelos estrangeiros que um dia foram parte central do Recife. O edifício que hoje funciona como centro empresarial recebeu shows da princesinha do samba, Ely Camargo, e também da cantora Marlene.

O último exemplo não é menos importante: o Grande Hotel do Recife, inaugurado em 1938, no bairro de Santo Antônio. Entre 1946 e 1955, o prédio que teve como inspiração o famoso Copacabana Palace – hotel que fica na praia de mesmo nome no Rio de Janeiro – abrigou também um dos grandes cassinos brasileiros. Sua beleza acabou atraindo os olhos do famoso escritor francês Albert Camus, que se hospedou por lá durante sua passagem no Brasil, assim como os do presidente francês Charles de Gaulle e de sua contraparte brasileira, Getúlio Vargas. Atualmente, um tribunal de justiça está instalado no prédio em que o hotel funcionava. No entanto, sua arquitetura que une o estilo moderno da década de 1930 com o art nouveau francês e que serviu de inspiração para o “palácio” carioca continua inteira.

Quem sabe um dia uma casa com tanta história poderá reviver parte dos seus dias de glória. Uma vez que a crise atual for coisa do passado, quiçá a revitalização do prédio e sua reativação em uma nova função, seja ela por meio de iniciativa pública, privada ou com parceira entre os dois âmbitos, dará ao antigo cassino o legado – e a admiração – que sua história merece.

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