Há um ano, manchas de óleo marcavam o Nordeste

Marinha concluiu o inquérito de investigação sem descobrir quem são os culpados pelo desastre ambiental

por Jameson Ramos dom, 30/08/2020 - 12:43

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Neste domingo (30), completa-se um ano do desastre ambiental causado pelo vazamento de óleo que atingiu, principalmente, o Nordeste brasileiro. Mesmo tendo passado todo esse tempo, até hoje não se sabe quem são os responsáveis por essa tragédia. Praias, mangues, rios e áreas de proteção ambiental de ao menos 130 municípios dos nove Estados do Nordeste, do Espírito Santo e do Rio de Janeiro foram afetados por fragmentos ou manchas do petróleo cru.

A primeira mancha de óleo foi oficialmente identificada em 30 de agosto, no município de Conde, na Paraíba. Quatro dias depois, o material foi encontrado na Ilha de Itamaracá, Pernambuco. Em 1º de outubro, a Bahia foi o nono e último Estado do Nordeste a registrar os fragmentos de petróleo cru, com a primeira mancha identificada na Mata de São João. Por fim, fragmentos estavam sendo achados no Espírito Santo desde 7 de novembro, e no Rio de Janeiro, desde 22 de novembro.

Para se ter noção, em janeiro deste ano o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontava que 433 locais atingidos pelo óleo ainda tinham fragmentos da substância. 

Paraíba foi o primeiro Estado do Nordeste com as manchas. Foto Chico Peixoto/LeiaJá Imagens/Arquivo

No mês de junho de 2020, a Marinha informou que continuava monitorando o aparecimento de pequenos fragmentos de óleo no litoral nordestino. Praias e costões dos estados de Alagoas e Pernambuco foram os locais onde registrou-se a continuidade de localização dos fragmentos do petróleo cru de origem desconhecida.

Especialistas apontavam que esses novos aparecimentos estavam acontecendo porque, após permanecer por meses em repouso no fundo do mar, a substância voltou a se soltar devido à ação das correntes marítimas combinadas a fatores meteorológicos.

Ainda no mês de junho deste ano, novas ocorrências foram registradas nas praias do Cupe e Muro Alto, localizadas em Ipojuca, e na praia de Tamandaré, na cidade que leva o mesmo nome. 

Foram toneladas de petróleo retirados do mar. Foto Arhur Souza/LeiaJá Imagens/Arquivo

Quando a população nordestina ainda se recuperava de tudo o que foi causado pelo vazamento do óleo, veio a pandemia da Covid-19 e uma realidade que os trabalhadores e moradores dessas localidades pensavam que não ia mais se repetir: o vazio das praias. Depois de meses fechadas por conta do novo coronavírus, até este domingo (30), nas praias de Pernambuco só está permitido o banho e que os banhistas fiquem na faixa de areia, sem cooler e com máscara. 

Essa situação pandêmica, segundo os trabalhadores da praia do Cupe, afasta os turistas e, consequentemente, quebra o ciclo econômico do local que está estagnado desde o mês de março, quando os decretos de isolamento social começaram em Pernambuco.

“Sempre quando acontece qualquer tragédia que atinge as praias nós somos os primeiros impactados com tudo isso. Se não tem turista, nem ninguém vindo para a praia não tem dinheiro e ninguém pra gente vender os nossos serviços”, diz um jangadeiro que não quis se identificar. Ele complementa dizendo: “Na época do óleo aqui nós, trabalhadores, fomos os primeiros a limpar todo esse litoral. Agora que a gente precisa do governo, ficamos mais de cem dias sem trabalho.”

Situação foi crítica, principalmente para quem trabalha no Litoral. Foto Arthur Souza/LeiaJá Imagens/Arquivo

Posicionamento Marinha

A Marinha do Brasil, responsável pelas investigações, aponta que terminou todo o seu trabalho, mas não identificou os culpados pelo derramamento de óleo. Agora, um relatório do que se foi apurado será entregue à Polícia Federal, que continuará investigando.

"A MB conduz, de forma ininterrupta, desde o aparecimento dos primeiros vestígios de óleo nas praias, uma investigação complexa, contando com a participação de diversas instituições, técnicas, científicas e especializadas, brasileiras e estrangeiras e tem trabalhado de forma cooperativa com o inquérito criminal instaurado pela Polícia Federal", revela.

Segundo a Marinha o relatório com conclusões entregues à PF contribui para a identificação do provável causador e a origem do crime ambiental. "Os trabalhos permanecerão até que o responsável seja identificado. É importante destacar que a MB e a PF trabalham juntas, e a PF vai consolidar essas informações para o desdobramento da investigação", pontua.

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