Coronavírus: o impacto da pandemia no trânsito

Pesquisa mostra que 54% da população de periferia das capitais passaram a usar aplicativos de transporte para se locomover com menos risco para a saúde

por Alex Dinarte sex, 25/09/2020 - 13:23
Wikimedia Com menos carros nas ruas, houve queda de 25% nos registros de acidentes envolvendo pedestres no período entre janeiro e agosto Wikimedia

O período de pandemia e o receio do contágio pela Covid-19 influenciaram na maneira da população utilizar meios de transporte. É o que aponta um levantamento da empresa de tecnologia 99, especializada em mobilidade urbana.

No estudo, 54% da população da periferia de capitais como Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, passaram a apelar aos aplicativos de transporte por carros particulares para transitar pelas cidades com menos risco para a saúde. O estudo também mostra que 19% dos entrevistados que residem fora do centro das maiores cidades não tiveram a opção de permanecer em quarentena.

Para o advogado e consultor em segurança viária André Garcia, a condição socioeconômica foi um dos pontos fundamentais para que a população procurasse utilizar modais alternativos de transporte em meio à pandemia.

“Estamos todos no mesmo mar, mas em barcos diferentes. A classe média e alta, que mora em melhores bairros, está mais perto dos pólos de trabalho e educação, todavia contam com transporte individual (automóvel, motocicleta ou aplicativo), enquanto a classe popular, relegada à periferia, tem como principal meio de mobilidade o transporte público”, aponta o especialista.

De acordo com Garcia, o mau desempenho do serviço de transporte público também favorece o desenvolvimento de outros segmentos de mobilidade urbana, como a utilização de motocicletas. Além do menor risco de exposição ao coronavírus, as motos trouxeram benefícios para a sociedade em tempos de crise. “O setor de duas rodas demonstra boa recuperação e foi a salvação de vários setores com os motoboys. Por ter valor agregado, manutenção mais acessível e grande economia de combustível, a moto é alternativa para sair do caro transporte público e se salvaguardar em relação ao Covid-19”, completa o consultor em segurança viária.

Redução nas mortes

A queda na fluência de carros pelas ruas durante a pandemia também colaborou para a redução dos índices de morte no trânsito. Números do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga SP) mostram que houve queda de 25% nos registros de acidentes entre carros e pedestres no período entre janeiro e agosto de 2020, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Embora tenha havido menos prejuízo, o consultor e professor de Legislação de Trânsito Julyver Modesto de Araujo destaca uma alta após a flexibilização de algumas atividades nos grandes centros.

“Já percebemos que os números voltaram a aumentar. Foram 408 mortes em julho e 447 em agosto, o que exige ações dos órgãos de trânsito para manter as condições de segurança viária”, enfatiza Araujo.

Para o especialista, um dos legados que o tempo de crise sanitária pode deixar em benefício da mobilidade urbana é o trabalho em casa. “O período de pandemia trouxe a oportunidade de reduzir os deslocamentos, em especial por conta do home-office, que deve ser uma tendência para muitas empresas e funcionários, mesmo após o término deste período”, declara.

Ainda segundo Araujo, o surto também fez com que o poder público fosse posto à prova com a prestação de serviços de transporte nas grandes cidades. “A Covid-19 impôs desafios aos órgãos públicos, inclusive para atender aos deslocamentos inevitáveis, embora houvesse recomendação de isolamento”, aponta. “Tornar mais seguro o deslocamento para o trabalho é um desses exemplos, pois exige a oferta maior e com mais qualidade do transporte coletivo, utilizado por grande parte da população”, conclui.

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