ONU pede ajuda recorde de US$ 5 bilhões para o Afeganistão
Os Estados Unidos, cuja retirada acelerada da ajuda militar precipitou a volta do Talibã ao poder, anunciaram uma primeira doação de US$ 308 milhões
A ONU pediu um recorde de US$ 5 bilhões para financiar a ajuda necessária este ano para garantir o futuro do Afeganistão, que está à beira de uma catástrofe humanitária.
Os Estados Unidos, cuja retirada acelerada da ajuda militar precipitou a volta do Talibã ao poder, anunciaram uma primeira doação de US$ 308 milhões.
É uma solução de emergência, mas "o fato é que, sem (essa ajuda), não haverá futuro" para o Afeganistão, declarou o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, em Genebra, na segunda-feira (10).
O plano da ONU exige US$ 4,4 bilhões dos países cooperantes para financiar as necessidades humanitárias em 2022. Trata-se da maior quantia solicitada para um único país, informou a entidade em um comunicado.
Essa quantia permitirá a entrega de alimentos e o apoio à agricultura, financiará serviços de saúde, tratará a desnutrição, fornecerá acesso à água, saneamento e educação.
Cerca de 22 milhões de pessoas, mais da metade da população afegã, precisam de ajuda urgente.
A isso, serão adicionados US$ 623 milhões para ajudar os 5,7 milhões de refugiados afegãos em cinco países vizinhos, principalmente Irã e Paquistão.
O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, alertou que, "se o país entrar em colapso (...), veremos um êxodo de pessoas muito mais importante. E esse deslocamento de pessoas será difícil de enfrentar dentro e fora da região, porque não vai ficar dentro da região".
Os Estados Unidos anunciaram uma primeira doação de US$ 308 milhões destinada, sobretudo, a alimentos, saúde e proteção contra o inverno rigoroso, informou a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), em um comunicado.
- Nada para os talibãs -
Desde agosto, o Afeganistão está sob o comando dos talibãs, que retomaram o poder após derrubarem o governo apoiado pela comunidade internacional e pelos militares americanos por duas décadas.
As sanções impostas para tentar pressionar os radicais islâmicos a fazer concessões, especialmente em relação aos direitos das mulheres, mergulharam o país em uma grave crise econômica. Este quadro se agrava com uma seca de vários anos.
Griffiths insistiu em que os fundos, que representam 25% do Produto Interno Bruto (PIB) oficial do país, não passarão pelos talibãs e serão usados diretamente por cerca de 160 ONGs e agências da ONU no local.
A distribuição é facilitada pela situação de segurança, "a melhor dos últimos anos", segundo Griffiths.
A decisão de dezembro do Conselho de Segurança da ONU de fornecer ajuda humanitária por um ano, juntamente com os gestos de boa vontade de Washington, ajudaram a tranquilizar os atores financeiros, paralisados pelo medo de sanções. Este cenário privou o país da liquidez necessária para sua operação.
Funcionários públicos, educadores e profissionais de saúde não recebem salário há meses.
A comunidade internacional procura uma forma eficaz de pressionar o Talibã a mudar, em especial, a forma como trata as mulheres, agora privadas de direitos essenciais conquistados durante 20 anos de luta.
Por isso, Grandi explicou que a ajuda da ONU "também cria um espaço de diálogo com o Talibã que é muito valioso".
"Nossos colegas no terreno falam com eles todos os dias. Certamente falam de acesso, entregas, necessidades, mas também falam das mulheres no trabalho, das meninas nas escolas, dos direitos das minorias", insistiu.
"É um espaço que devemos preservar", reforçou Grandi, reconhecendo que levará tempo para "avançar em direção à estabilidade e, quem sabe, talvez a uma forma de normalização".