Relatório mostra violência contra jornalistas no Pará

Em 2022 foram registradas 21 situações de ataque a profissionais e à liberdade de imprensa. Caso de Tucuruí está entre os mais graves.

sex, 03/03/2023 - 16:54

O Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor), em parceria com a Comissão de Defesa da Liberdade de Expressão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Pará), lançou o primeiro Relatório de Violência contra Jornalistas e a Liberdade de Imprensa no Pará, na UNAMA - Universidade da Amazônia, em Belém, na noite da última quinta-feira (2). O evento também foi transmitido via internet pelas redes do sindicato.

De acordo com os dados apresentados no relatório, em 2022 foram registradas 21 situações de violência contra os profissionais da categoria no Pará, colocando o Estado como o terceiro no ranking brasileiro e o mais violento da Amazônia legal. Já em todo o Brasil, foram 376 ocorrências.

O repórter cinematográfico Sandro André Ferreira, de 49 anos, foi uma das vítimas da violência contra os profissionais da imprensa, no município de Tucuruí, no sudeste paraense, em dezembro de 2022. Ele tem um canal de notícias no YouTube, e ao fazer uma reportagem sobre o não funcionamento dos postos de saúde da cidade foi agredido por um assessor do prefeito e teve seus equipamentos de trabalho, como câmera e tripé, recolhidos.

Ao tentar fugir da situação, Sandro entrou em um veículo e sofreu perseguição. Durante a fuga, o carro foi trancado em frente uma oficina mecânica e novamente o profissional foi agredido, dessa vez pelo próprio prefeito do município, Alexandre Siqueira, que ordenou aos seguranças que segurassem os braços do repórter e o atingiu com um soco no olho e outro no pescoço. Veja, aqui, nota de repúdio da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas).

“Esse evento é muito importante, ele nos traz a sensação de respaldo. Depois das agressões aconteceu algo inusitado comigo, passei de vítima a acusado, porque o prefeito abriu um boletim de ocorrência alegando que eu estava rodeando a casa dele, mas tive o apoio do sindicato e da OAB”, relatou Sandro.

Enfrentamento

O presidente do Sinjor-PA, Vito Gemaque, ressaltou a relevância do evento para o Estado. “Sem informação a gente não pode mudar a realidade. No momento em que estamos apresentando esse primeiro relatório diversas autoridades terão a noção da gravidade do problema no nosso Estado. Tendo essa noção podemos criar políticas públicas”, destacou.

Durante o lançamento do Relatório, Gemaque ainda enfatizou que a iniciativa também é uma forma de conscientizar a sociedade de que o trabalho da imprensa é essencial para que as pessoas possam se informar com credibilidade e espantar as fake news. “A gente espera abrir pontes. Nós já temos um diálogo muito bom com a Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB, e o contato com alguns parlamentares e representantes de órgãos também. Nesse sentido, queremos formar mais e mais parcerias e criar ações para enfrentar e fazer com que o Estado do Pará seja um exemplo para o Brasil a respeito da segurança da imprensa”, detalhou.

O relatório estadual será divulgado para toda a sociedade. Primeiro do Pará, esse tipo de estudo já é realizado nacionalmente por algumas instituições e entidades que acompanham a violência contra jornalistas. “Nunca teve um trabalho local dos sindicatos mostrando a realidade dos estados, porque há diferenças. Por este motivo, o relatório estará disponível para que qualquer pessoa, estudante, pesquisador, órgãos de segurança e a sociedade em geral possam ter acesso. A disseminação da informação vai beneficiar a nós jornalistas e sensibilizar a população”, observou.

Questão endêmica

Para Mauro Vaz Júnior, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB-PA, a publicidade ajuda a proteger a categoria. “Nós estreitamos muito a relação entre a OAB, o Sinjor, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a Fenaj, para que juntos consigamos compor barreiras para essa questão, que é endêmica e crônica aos profissionais de imprensa, que é realizada muitas vezes por agentes políticos, sendo um elemento muito característico da nossa região”, pontuou.

Vaz ainda detalhou como funciona a parceria entre as instituições. “Quando há uma agressão, nós já temos um canal direto de comunicação interna nosso e já temos alguns procedimentos adotados e um repertorio de ações jurídicas e métodos de como agir perante a administração pública para que o profissional agredido tenha todo o amparo”, frisou.

Para a universitária Fernanda Cabral, 18 anos, aluna do 5º período do curso de Publicidade e propaganda da UNAMA, é muito importante mostrar para a sociedade esses dados. “Mesmo que pareçam ser pequenos para a maioria, mas para nós, profissionais de comunicação, os dados  são alarmantes e mostram que a gente, ao sair de casa para entregar a notícia e fazer o nosso trabalho, corre riscos. Precisamos preservar a comunicação para preservar a democracia”, comentou.  

O coordenador do curso de Comunicação Social da UNAMA, Hans Costa, declarou que foi um prazer a universidade receber um evento que discute a liberdade de imprensa na Amazônia e que ajuda a elucidar, publicizar as informações e propor soluções para que casos de violência não se repitam.  

“O objetivo desse evento é pensar em soluções para que a liberdade de imprensa não seja cerceada em nenhum tipo de situação. Ao apresentar esses dados é importante a gente mostrar para a sociedade o quanto o jornalista acaba sofrendo violência durante o exercício da sua profissão e também que no período de eleições o quanto foi violento o exercer o trabalho jornalístico”, observou.

Durante a programação, cópias do Relatório foram distribuídas para representante de algumas entidades. Para ter acesso ao documento, basta entrar em contato com o sindicato pelas redes sociais (@sinjorpaou via aplicativo de mensagem e solicitar o Relatório, que será encaminhamento para o e-mail do solicitante. 

Por Suellen Santos (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

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