Depoimentos revelam crueldade contra trabalhadores baianos

"Baiano bom é baiano morto", diziam os chefes dos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha

sab, 04/03/2023 - 11:31
RBS TV/Reprodução Trabalhadores são resgatados de vinícolas. RBS TV/Reprodução

Depoimentos de trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, reiteram o tratamento degrante que recebiam de seus empregadores. Nos relatos, cedidos ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), são reveladas diversas humilhações verbais que eram praticadas, bem como atos de tortura física, incluindo uso de spray de pimenta e de choques elétricos. 

A RBS TV teve acesso aos depoimentos prestados às autoridades. Trabalhadores, a maioria de origem baiana, costumavam ser acordados aos gritos de "acorda, demônio, vai trabalhar", entre 4h30 e 5h, por funcionários da pousada em que ficavam alojados. O vocativo "demônio", aliás, era frequentemente utilizado por funcionários armados responsáveis por vigiá-los durante sua produção.

Também eram proferidas ainda ofensas de cunho xenofóbico contra os trabalhadores, a exemplo de "baiano bom é baiano morto". As agressões físicas incluam choques elétricos, cadeiradas, socos e spray de pimenta.

Além disso, os trabalhadores eram submetidos a jornadas de trabalho de 15 horas diárias, com intervalo de uma hora para almoço. De acordo com os relatos, a comida era fria e azedava, por ser mantida por turnos inteiros fora de qualquer aparelho de refrigeração. 

O caso

O caso veio a público depois que três trabalhadores conseguiram fugir do alojamento em que eram mantidos e denunciaram a atuação de seus empregadores para agentes da Polícia Rodoviária Federal, no dia 22 de fevereiro. Foram resgatados 207 trabalhadores contratados pela terceirizada Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA para atuar em três das principais vinícolas gaúchas: Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton.

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