Túmulos ilustres são visitados no cemitério de Santo Amaro

Políticos, artistas e até desconhecidos viraram símbolos depois da morte

por Rachel Andrade qui, 02/11/2023 - 17:17
Júlio Gomes/LeiaJá Memorial da Menina Sem Nome, no Cemitério de Santo Amaro, no Recife Júlio Gomes/LeiaJá

O Cemitério de Santo Amaro, localizado no centro do Recife, é o lugar de descanso eterno de cerca de 30 mil pessoas. Entre milhares de anônimos, o espaço acolhe jazigos de famílias famosas e importantes para a história de Pernambuco, como políticos, artistas e figuras religiosas, e que são massivamente visitados todos os anos no Dia de Finados, celebrado nesta quinta-feira (2). Confira alguns dos nomes conhecidos que estão em Santo Amaro, e recebem visitantes o ano todo. 

Menina Sem Nome 

Nenhum túmulo é mais famoso no Cemitério de Santo Amaro do que o da Menina Sem Nome. Enterrada como indigente (sem identificação), a garotinha foi vítima de uma morte violenta em 1970, na praia do Pina, zona Sul do Recife. Seu corpo foi enterrado sem identificação, e por não haver sinalização da família, a história correu a cidade. 

Memorial da Menina Sem Nome. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

Mais de 50 anos depois de seu falecimento, a Menina Sem Nome é conhecida por devotos, que fazem preces e agradecem as graças alcançadas levando brinquedos e doces para seu túmulo.  

Uma dessas é pessoas é Antônio Carlos Renovato, que faz parte do Santuário do Morro da Conceição, na zona Norte do Recife, e é devoto da garotinha anônima. “Todo dia 2 [de novembro] a gente tá aqui para reverenciar as maravilhas que ela fez na vida da gente. Eu chego aqui 5h30 da manhã, e a gente só sai daqui de noite, quando termina tudo”, disse. 

Antônio Carlos, devoto da Menina Sem Nome. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

“Os devotos, tudo que pedem a ela, alcançam. Eu alcancei muita graça com ela. A gente canta, a gente trabalha aqui o dia todo”, continuou Antônio. Os organizadores do memorial da Menina Sem Nome arrecadam doações de brinquedos, que são repassadas para a ala infantil do Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP). 

Atualmente é o sepulcro mais visitado no Cemitério de Santo Amaro, segundo Adriano Freitas, diretor administrativo e de finanças da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), órgão responsável pela gestão dos cemitérios públicos da capital pernambucana. “O túmulo da Menina Sem Nome, é indiscutível, que é o mais movimentado, o top 1 mesmo, bem distante do segundo. A gente até botou um toldo lá para receber mais pessoas, que vêm o dia todo lá, trazendo brinquedo, bolo, trazem doces. A população tem mesmo uma afeição muito grande pela Menina Sem Nome, um respeito muito grande”, contou. 

Adriano Freitas. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

Chico Science 

Francisco de Assis França teria 57 anos de idade se estivesse vivo, mas todos ainda lembram dos grandes feitos alcançados por Chico Science, como era conhecido no meio artístico. Um dos precursores do Movimento Manguebeat, em meados dos anos 1990, Chico faleceu em 97 em um acidente de carro em Olinda, na Região Metropolitana do Recife. Desde então, seu túmulo é visitado por fãs e admiradores da cultura de mangue levantada por ele. 

É o caso de Pereira Campos Júnior, artista do Recife, e fã de Chico Science, que visita seu túmulo não apenas no Dia de Finados, como também em outras datas relacionadas ao cantor. Para ele, a força do Movimento Manguebeat cresce com o passar do tempo. “Até então continua influenciando outras ‘figurinhas’ por aí. Chico dizia: ‘a gente ouve muito de fora, vamos pôr o que é nosso pra fora’, e tem muita coisa aqui para ser experimentada, com a ciência que Chico teve”, comenta, relembrando os ideais do artista. 

Pereira Campos homenageia Chico Science. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

O túmulo de Chico Science é ornamentado com imagens e frases de sua autoria, como trechos de músicas e mensagens de familiares e admiradores. 

Família Arraes-Campos 

Entre os ilustres políticos que descansam eternamente em Santo Amaro, os dois mais memoráveis são Miguel Arraes, falecido em 2005, e seu neto Eduardo Campos, que foi vítima de um acidente de avião em 2014, quando era pré-candidato à Presidência da República. 

Túmulos de Eduardo Campos e Miguel Arraes. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

Dois ex-governadores de Pernambuco, as famílias Arraes e Campos ainda se mantêm na política, sendo um dos filhos de Eduardo, João, prefeito do Recife, e outro, Pedro, deputado federal, todos filiados ao PSB. Da parte de Arraes, a neta Marília, foi candidata à prefeitura do Recife e ao governo do estado nas últimas eleições, e sua irmã, Maria, é deputada federal pelo Solidariedade.

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