Comissão da Verdade ouvirá jornalistas para apurar mortes

Na ocasião serão divulgados documentos inéditos da Operação Cacau ocorrida em 1973

por Élida Maria ter, 21/07/2015 - 19:31

Membros da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara realizarão na próxima quinta-feira (23) uma sessão pública para ouvida dos jornalistas Oldack Miranda e Mariluce Moura. Os depoimentos, que reforçam as investigações dos assassinatos sob tortura de José Carlos Novaes da Mata Machado e Gildo Macedo Lacerda, militantes da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), em 1973, ocorrerão às 9h, no auditório do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado de Pernambuco (SINDSEP/PE), 

De acordo com um dos relatores do caso, Manoel Moraes, a sessão pública irá trazer fatos novos. “O fato novo que vamos tratar nesta oitiva são os documentos da Operação Cacau, que trazem o último depoimento de Gildo Lacerda e citam os nomes de Oldack Miranda e Mariluce, viúva de Gildo”, afirmou.

A documentação faz parte de monitoramento realizado pelos órgãos de repressão sobre dirigentes da APML à época da ditadura militar (1964-1985). E este mesmo rastreamento culminou com a prisão em efeito cascata de integrantes da antiga Ação Popular - AP.

Sobre o caso - Em 19 de outubro de 1973, José Carlos Novaes da Mata Machado foi preso em São Paulo e conduzido por policiais à paisana para a sede do DOI-CODI paulista. Em 22 de outubro, o ex-vice-presidente da União Nacional dos Estudantes nos anos 69/70, Gildo Macedo Lacerda foi detido junto com a companheira Mariluce Moura, em Salvador. O casal foi levado ao Quartel do Barbalho, por agentes do Exército e conduzido às sessões de tortura. Grávida, Mariluce nunca mais viu o companheiro. Apenas soube da viuvez através do capelão do Exército, que lhe dera um exemplar do Jornal do Brasil noticiando as mortes de ‘subversivos’ da Ação Popular em tiroteio no Recife.

Reclusos, Mata Machado e Gildo Lacerda foram encaminhados ao Destacamento de Operações de Informações do IV Exército, no Recife. Torturados por agentes da repressão até a morte, em seguida ‘protagonizaram’ o emblemático “Teatro da Caxangá”. As circunstâncias das mortes de Mata Machado e Gildo Lacerda permanecem envoltas em mistério após 41 anos do suposto tiroteio orquestrado por agentes de segurança, na Avenida Caxangá, em 28 de outubro de 1973.  A Nota Oficial dos órgãos de segurança de Pernambuco relatava um tiroteio envolvendo os militantes com uma terceira pessoa, de codinome “Antônio”. O documento informa, ainda, que José Carlos e Gildo Lacerda teriam encontro marcado no Recife com ‘um subversivo de nome Antônio’, que reagira atirando nos companheiros, acusando-os de traição, fugindo em seguida. Na versão policial, ‘Antônio’ seria Paulo Stuart Wright, político catarinense desaparecido e cujo corpo nunca foi encontrado, após a prisão pelo DOI-CODI de São Paulo.

Operação Cacau: Documentos oficias e confidenciais, pertencentes ao Ministério do Exército (IV EX- 6a RM Quartel General – Segunda Seção),  com 84 páginas, revelam que, em junho de 1973, foram iniciadas, em Salvador, “investigações e diligências que visavam assinalar e destruir célula da APML estruturada na Bahia. As atividades foram denominadas “Operação Cacau”, sob a responsabilidade e condução direta do Centro de Informações do Exército. Ao CIE cabia orientar, coordenar e supervisionar todas as atividades de segurança interna e contrainformações com eventual apoio da Agência de Informações (SNI Salvador/Bahia)”. Essa documentação faz parte do acervo do Serviço Nacional de Informações (SNI) e encaminhado à Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara pela jornalista Juliana Dal Piva, do Rio de Janeiro. 

*Com informações da assessoria

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