Bolsonaro e um 7 de setembro para tentar demonstrar força
Este é o primeiro Dia da Independência dele como presidente brasileiro e Bolsonaro deve aproveitar sua ligação com os símbolos nacionais para tentar difundir o chamado espírito de patriotismo
Um dia para demonstrar força. É assim que deve ser o primeiro 7 de setembro de Jair Bolsonaro (PSL) como presidente da República neste sábado. A data marca a Independência do Brasil e é festejada com pompas pelas Forças Armadas e Militares do país, das quais o presidente é oriundo.
Capitão da reserva, o presidente vai acompanhar as comemorações em Brasília, onde pretendia saltar de paraquedas, mas foi impedido por recomendações médicas e fará um desfile em carro aberto.
Um dos parâmetros que deve aferir a força de Bolsonaro é o convite que ele fez aos brasileiros nos últimos dias, para que saiam de casa vestidos de verde e amarelo neste sábado. Alegando que o ato difundiria o chamado espírito de patriotismo, Bolsonaro justificou que o uso das cores serviriam para reforçar aos demais países, por exemplo, que a Amazônia pertence ao Brasil.
Além disso, outra carta na manga do presidente - que ostenta a maior reprovação nos primeiros meses de governo, de acordo com pesquisa do Datafolha, dos últimos quatro governos - é a tentativa de reunir grandes empresários, donos de rede de televisão e líderes evangélicos ao seu lado na hora do desfile cívico. Bolsonaro convidou personalidades como Silvio Santos, Edir Macedo e Luciano Hang para subirem ao palanque presidencial.
Na avaliação do cientista político Elton Gomes, “o presidente da República não tem uma grande máquina partidária, diferentemente do PT que tem ramificações, e não dispondo disso usa muito habilidosamente os símbolos nacionais ao seu favor”. E, por isso, “este 7 de setembro vai ser grande teste de força e um elemento simbólico para o governo”.
“Agora o presidente, que deixou o Exército em uma condição desvantajosa, volta como chefe maior do país e das Forças Armadas, valendo-se muito do prestígio das Forças Armadas no Brasil para potencializar seus ganhos políticos”, salientou o estudioso.
Segundo Gomes, como esta será a primeira vez “em muito tempo que os militares realizam uma parada neste dia e estando com um presidente alinhado aos parâmetros militares”, o evento terá “grandes dimensões”. Inclusive, o orçamento destinado para o desfile foi de R$ 971,5 mil, 15% a mais do que em 2018.
Sobre o pedido para os brasileiros vestirem verde e amarelo, se daria certo, o cientista político observou que parcela dos simpatizantes a Bolsonaro, cerca de 30% da população, deve atender ao pedido.
“Muitos fizeram uma comparação com o [Fernando Collor] que pediu para o povo vestir verde e amarelo em sua defesa e o resultado foi que as pessoas saíram de preto, mas agora acredito que a situação dele não é igual a de Collor. Ele já estava sem apoio político, sem apoio popular e o país vivia o colapso do confisco da poupança. Já com Bolsonaro a economia começa a reagir timidamente, ele goza ainda de muito apoio popular, tem a figura dos ministros [Sérgio] Moro e [Paulo]Guedes que são instrumentos positivos para o governo”, ressaltou.
Em contrapartida a “demonstração de poder de Bolsonaro”, o cientista político também observou que o dia também “vai refletir a polarização que vive o país”, uma vez que lideranças de esquerda e movimentos estudantis já convocaram os militantes a saírem às ruas vestindo roupas pretas em protesto ao governo.
“Vai ser uma disputa para saber quem vai ter mais manifestações favoráveis e contra o governo. A oposição vai fazer manifestações importantes principalmente nas grandes capitais. Os dois lados vão clamar vitória para si, mas vivemos no contexto em que o que mais importa não é o que acontece, mas com o povo percebe aquele acontecimento”, ponderou.