Para Santos Cruz, combate à corrupção trouxe 'desilusão'

Ex-ministro voltou a criticar o envolvimento dos filhos de Bolsonaro na gestão e cravou: 'Eu não entraria em um partido hoje do presidente de jeito nenhum'

por Victor Gouveia seg, 06/01/2020 - 11:31
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil O general da reserva reafirmou sua inocência após ser acusado de 'traição' por Carlos Bolsonaro Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Exonerado em junho do comando da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto Santos Cruz avaliou o primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro. O ex-ministro criticou o envolvimento dos filhos do presidente na gestão e a inconstância com seu discurso de campanha. Na visão do general, o combate à corrupção trouxe 'desilusão para muita gente'.

Junto com o antipetismo, o combate à corrupção foi o ponto que elevou Jair Bolsonaro à cadeira presidencial. Contudo, Santos Cruz destaca que apenas um ganhou visibilidade. "O combate à corrupção não ficou tão caracterizado e acho até que em alguns pontos se afastou, se afastou disso aí. E isso aí eu acho que trouxe desilusão para muita gente", avaliou à BBC Brasil.

Ele criticou a interferência dos filhos no Governo e propõe que os ministros mais próximos - general Augusto Heleno, Jorge Antônio Oliveira, Onyx Lorenzoni e o general Eduardo Ramos- devem alertá-lo sobre tal participação. "O que não é normal é o que está acontecendo aqui quando você vê a interferência, familiares se metendo no Twitter, dando opinião sobre conduta de ministro”, descreveu.

Tido como o responsável por sua demissão, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) atacou Santos Cruz nas redes sociais e divulgou uma suposta conversa no WhatsApp onde criticava Jair Bolsonaro. Ele se defende e garante que as imagens são ‘coisa falsa’. “Coisa falsa sendo entregue para o presidente, mas o presidente não quer dizer quem é que entregou a falsidade para ele. Então, esse tipo de atitude são coisas que saem da normalidade", afirmou.

Ele reafirma a inocência ao relatar que viajava de avião no momento da conversa ‘forjada’. "Uns criminosos vagabundos de baixo nível fazem aquilo, entregam para o presidente [a imagem], incrivelmente ele acredita naquilo e incrivelmente ele até hoje se nega a dizer quem levou aquilo para ele. São coisas que não se pode esperar de uma autoridade que tem essa responsabilidade", disparou.

Com dois dos três filhos investigados, além da suspeita de seu antigo gabinete ter admitido familiares como funcionários fantasmas no período em que era deputado, o general da reserva preferiu não tomar partido sobre a corrupção envolvendo o clã Bolsonaro, mas entende que "a partir da hora que se incorre nesse erro que seja cumprida a lei. Não acho que são cidadãos acima da lei".

Para o general, Bolsonaro largou o PSL pela confusão interna para deter o controle das verbas dos fundos partidários e eleitoral. "Eu vejo uma disputa de liderança principalmente por controle de recursos, o fundo partidário é muito forte no Brasil e no ano que vem o fundo eleitoral é outro valor grande (serão R$ 2 bilhões, dos quais cerca de R$ 185 milhões devem ir para o PSL). Então, eu vejo essa divisão, essa briga toda, mais vinculada a controle de recursos de fundo partidário, de fundo eleitoral, do que de discordância em filosofia", declarou.

Santos Cruz reforça o compromisso com a política e revela que recebeu convites de partidos, dentre eles o PSDB. Contudo ainda analisa propostas e cravou que não voltará a formar parceria como presidente. "Eu não entraria em um partido hoje do presidente Bolsonaro de jeito nenhum. Ele tem valores que não coincidem com os meus; ele tem atitudes que eu acho que não têm cabimento", explicou sobre a possibilidade de filiar-se ao Aliança pelo Brasil.

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