Acuado, Bolsonaro apela para a "velha política"

O presidente distribui tudo o que pode ao Centrão, que reúne 221 dos 513 deputados federais

por Jameson Ramos ter, 26/05/2020 - 18:14
Marcos Corrêa/PR Ele antes defendia o fim da "velha política", mas atualmente está jogando o mesmo jogo Marcos Corrêa/PR

Para impedir que um processo de impeachment contra o presidente da República seja aceito na Câmara dos Deputados, é preciso que 171 deles, que corresponde a um terço da Câmara, votem contra. Com a corda no pescoço, Jair Bolsonaro (sem partido) cai de joelhos no que chamava de "velha política" e distribui tudo o que pode ao Centrão, que reúne 221 dos 513 deputados federais.

Esse conhecido bloco na Câmara dos Deputados cresceu e ganhou força sob a liderança do deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso por supostas práticas de corrupção ativa, passiva e de lavagem de dinheiro. Mesmo sem a presença do Eduardo, o bloco se mantém - um pouco "reformulado" e com novos deputados - mas o 'modus operandi' é o mesmo: ou o presidente dá o que se é pedido, ou ele não consegue governar e poder correr o risco de passar por um processo de impeachment, algo bem parecido do que aconteceu com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). 

Para continuar como presidente, Bolsonaro possibilitou a ampliação da participação do grupo no Banco do Nordeste, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), entre outros, cargos em ministérios e postos estratégicos na área da saúde - que está com bastante verba por conta do combate ao Covid-19. 

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), agora tem como diretor de Ações Educacionais Garigham Amarante Pinto, indicado político do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O FNDE, inclusive, era um dos postos mais desejados pelo Centrão, já que é responsável pela execução de políticas educacionais do Ministério da Educação, órgão com orçamento de R$ 54 bilhões - só neste ano. Ainda está em negociação a presidência do FNDE e um dos partidos com mais chances de abocanhar o cargo é o PP, presidido pelo senador Ciro Nogueira, do Piauí.

Loteando esses cargos ao Centrão, Bolsonaro deixa bilhões de reais sob controle desse bloco. Se Bolsonaro conseguir manter a fidelidade do Centrão, pode ser que nem a sua interferência política na Polícia Federal para proteger a sua família das investigações, nem o seu desalinhamento com as recomendações de combate a pandemia, nem as suas participações nas manifestações que pedem a volta de movimentos antidemocráticos e o fechamento do Supremo Tribunal Federal, nem sequer o vídeo comprovando parte do que se "especulava" vai fazer com que ele sofra um processo de investigação e perca o seu mandato.

Em depoimento ao Congresso em Foco, um importante líder do Centrão disse que, com a saída de Sergio Moro, "Não mudou nada. Não vamos trocar o capitão pelo general", isso mesmo depois do então ministro da Justiça ter revelado as motivações.

 

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