Especialistas avaliam o possível adiamento das eleições

A PEC para alterar a data das eleições municipais será votada nesta quarta (1º)

por Victor Gouveia qua, 01/07/2020 - 14:17
Elza Fiúza/ABr A tendência é que a realidade da Covid-19 no período eleitoral seja a variante que vai fazer diferença no resultado Elza Fiúza/ABr

A Câmara dos Deputados vota, nesta quarta-feira (1º), a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 18/20 que pode adiar as eleições municipais para novembro. Com fortes indícios de que a prorrogação seja confirmada em razão da pandemia, o LeiaJá conversou com especialistas para analisar os impactos ao cenário político.

A cientista política Priscila Lapa acredita que a mudança trará incerteza ao resultado do pleito, pois o cidadão precisará do sentimento de credibilidade para confiar no sistema eleitoral. "Mexer na data da eleição é mexer na Constituição e você fazer isso com o jogo em curso, cria aquele clima de insegurança", pontuou sob a ótica jurídica ao destacar que não é à toa que o calendário eleitoral é definido previamente, com regras de filiação, realização de convenções e da própria campanha em si.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso, já havia garantido a eleição para 2020. A intenção é assegurar um dos elementos constitutivos das democracias: a periodicidade, explica o cientista político Elton Gomes. "O que se temia era que gerasse uma espécie de prorrogação de mandato, e isso o sistema político tem muito receio. A tendência é um novo perfil de campanha eleitoral", compreende, ao enfatizar a intensificação no uso das redes sociais.

Oposição ou situação? Quem ganha com o adiamento

Os especialistas divergem quanto aos ganhos políticos, mas concordam que a postura para enfrentar a pandemia poderá ditar o resultado. Na visão de Priscila Lapa, os prefeitos em mandato recebem o adiamento como prejuízo, tanto que os deputados do Centrão, frente que comanda o maior número de prefeituras, vai de encontro ao projeto e à extensão da campanha.

"Eles entendem que um tempo menor de campanha os favorece. Você dá menos tempo de estreantes se tornarem conhecidos [...] para quem está começando e precisa ganhar atenção e a confiança do eleitor, é ruim. Esse processo acaba favorecendo quem está no poder", descreveu a especialista.

Já Gomes acredita que a narrativa de desvios na compra de equipamentos para o combate à Covid-19 será o grande trunfo da oposição nos grandes centros. Por isso, os ‘desafiadores’ seriam beneficiados com as novas datas. "Esse tipo de situação beneficia o desafiador em geral. Diante de crises, o governo [em exercício] tende a ser responsabilizado pelos eleitores, o que abre uma janela de oportunidade para a oposição. Porém, no interior dificilmente a variável influencie, pois prevalece a lógica do familismo, coronelismo e, principalmente, do empreguismo", comentou.

Priscila Lapa concorda que os escândalos de corrupção na pandemia serão explorados pela oposição. "Os gestores tendem a ser multo julgados em relação ao seu desempenho na pandemia. A gente tem uma série de escândalos e superfaturamentos envolvendo gestores municipais e estaduais, e isso vai entrar de forma muito incisiva na pauta da eleição", concluiu.

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