Mais de 82 candidatos e militantes foram mortos em 2020

Segundo levantamento, Pernambuco teve 13 homicídios com causas políticas desde janeiro

por Lara Tôrres ter, 10/11/2020 - 16:43
Pixabay . Pixabay

Um monitoramento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) registrou pelo menos seis ocorrências de agressões ou tentativas de homicídio contra candidatos foram registradas em todo o país. Considerando todo o ano eleitoral, foram 82 militantes e candidatos assassinados e 170 agressões de janeiro a outubro, de acordo com o levantamento do pesquisador Pablo Nunes, que coordena o CESeC.

“Não deixa de ser dramático o grau de violência contra pessoas que são mortas por defender suas bandeiras. A proximidade das eleições fez com que o número de casos aumentasse desde julho, mas os primeiros meses de 2020 já tinham sido muito violentos”, disse o cientista político ao jornal El País.

Para traçar uma comparação, na última eleição municipal do Brasil, em 2016, durante todo o período eleitoral (1º e 2º turnos) foram registrados 100 assassinatos políticos no país. Com 82 até o momento em 2020, ainda não chegamos ao dia da eleição do 1º turno. A primeira execução registrada foi do prefeito de Imbuia, no interior de Santa Catarina, João Schwambach (MDB), no dia 9 de janeiro, morto com dois tiros nas imediações da Prefeitura. Os disparos saíram da arma do motorista José Cardoso, que teria se suicidado depois do crime. Até o momento o mês de setembro, que marcou o início da campanha eleitoral, foi o mais violento de todos com 13 homicídios catalogados. 

Pernambuco teve 13 assassinatos ligados à política desde o mês de janeiro e o município de Gameleira, com 30 mil habitantes, teve dois dos seus 11 vereadores assassinados em crimes que seguem sob investigação. 

Em Itambé, na divisa com a Paraíba, que tem o apelido de “Fronteira do Medo”, o empresário Adson Mattos foi assassinado no mês de agosto por fazer denúncias e críticas a políticos, 10 anos após a execução de seu primo Manoel Mattos (PT), que era vereador e ativista dos direitos humanos. 

“É um estado que há muito tempo figura como um dos lugares onde há mais atentados contra políticos. Nas cidades do interior, rivalidades políticas passam de pai pra filho, e a violência se reproduz de geração para geração”, diz Pablo Nunes.

O Rio de Janeiro registra 8 assassinatos e outro grande problema: a presença de milicianos no jogo eleitoral. Em 2016, nove políticos foram assassinados em regiões controladas por milícias, especialmente na Baixada Fluminense. Nos casos recentes, a polícia investiga se há relação dos crimes com grupos armados paramilitares. 

Para tentar coibir a influência violenta de milicianos nas eleições municipais de 2020, a Polícia Civil criou uma força-tarefa para combater o crime organizado na Baixada. A primeira operação, em outubro, levou à morte de 12 suspeitos de integrar milícias. Os trabalhos são coordenados pelo delegado Giniton Lages, responsável por prender os supostos executores da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, crime que está há mais de dois anos sem identificação dos mandantes. 

A operação, no entanto, não bastou para impedir o assassinato de  Renata Castro, cabo eleitoral ligada a um tradicional clã político da cidade, a família Cozzolino (PP), e que fazia campanha para o policial Pablo Vasconcelos (PSL), candidato a vereador. Na semana de sua morte, Renata denunciou nas redes sociais e à Polícia Federal que estava sendo ameaçada por pelos vereadores Clevinho Vidal (PCdoB) e Felipe da Gráfica (PTB), que negam as acusações.  Em agosto, a pré-candidata a vereadora Tia Sandra (PSB) foi morta por traficantes. 

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