Dallagnol seguiu pistas falsas para tentar prender Lula

Na tentativa de fazer um flagrante e acusar o réu de peculato, investigadores da Lava Jato seguiram pistas falsas contra o ex-presidente

qui, 11/03/2021 - 19:10
Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil O ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, procurador Deltan Dallagno Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Em mais uma reportagem do InterceptBR sobre as mensagens vazadas da Lava Jato, o site revelou detalhes de como investigação encabeçada pela Polícia Federal do Paraná quase prendeu o ex-presidente Lula tendo como fundamentação uma pista falsa retirada da internet. O material divulgado, nesta quinta-feira (11), relata que havia uma suspeita correndo, dentro da Lava Jato, que Lula teria roubado um crucifixo que ficava em seu gabinete presidencial durante seu mandato.

A peça, de aproximadamente 1,5m de altura, era de um Cristo crucificado, feita de madeira de tília, e acreditava-se que havia sido feita por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, em meados do século XIX.

O que o ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, procurador Deltan Dallagnol, também acreditava, era que, ao levar a peça consigo após o seu mandato, o ex-presidente havia cometido o crime de peculato, e poderia ser preso em flagrante, uma vez que o Cristo fosse encontrado em sua posse.

A articulação foi feita junto com outros investigadores da Operação. Em março de 2016, foram descobertas caixas de papelão armazenadas em um cofre de uma agência do Branco do Brasil em São Paulo, no nome da então mulher do ex-presidente, Marisa Letícia, e de Fábio Luis, o Lulinha, seu filho mais velho. Agentes da Polícia Federal foram à agência no dia 9 daquele mês e encontraram 132 itens guardados em 23 caixas lacradas. Os objetos estavam sendo procurados pela Lava Jato havia muito tempo, e os policiais federais comemoraram ao confirmar que o crucifixo estava no cofre.

Em conversas divulgadas pela reportagem, houve uma animação e um dos grupos de mensagens no Telegram, entre delegados e agentes da PF. O delegado Igor Romário de Paula informava “pegamos tudo”, enquanto o delegado Marcio Anselmo confirmava o possível crime de peculato: “prende em flagrante”, orientou.

Enquanto aguardavam a liberação do mandado de busca e apreensão para tomar posse do crucifixo, em conversa com o então juiz Sergio Moro, Dallagnol informava os passos que estavam sendo tomados. “Caro, já deve ter sido informado de que acharam o Cristo… Aguardamos confirmação de 100% de que é o mesmo”, informou o procurador.

No entanto, pouco tempo depois, ele recebeu outra mensagem, dessa vez do procurador Januário Paludo, um dos veteranos da Operação. Era uma reportagem da revista Época, datada de 2011, informando sobre a procedência da escultura de madeira, entre outros bens pessoais do ex-presidente. A informação de que a peça havia sido roubada era, de fato, falsa.

“Em princípio, não é proibido que o presidente receba um presente de um particular. No caso do crucifixo, se correta a história da Época, não haveria irregularidade em ele levar o crucifixo se recebeu durante o mandato. Poderia haver alguma irregularidade administrativa por não se submeter à tal comissão especial, mas não seria peculato.”, informou o procurador Paulo Roberto Galvão, em uma das conversas interceptadas e divulgadas.

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