'Gabinete paralelo' recorreu a guru negacionista nos EUA

Membros da assessoria informal queriam "referencial antivacina" junto à médica da extrema-direita Simone Gold

por Vitória Silva sab, 12/06/2021 - 13:38
Reprodução/Facebook/America's Frontline Doctors A ativista antivacina Simone Gold, fundadora da America's Frontline Doctors. Reprodução/Facebook/America's Frontline Doctors

O “gabinete paralelo”, investigado na CPI da Covid por assessorar informalmente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) paralelamente ao Ministério da Saúde, procurou pelos serviços de uma guru de extrema-direita estadunidense, conhecida internacionalmente pela sua atuação anticientífica. O objetivo da busca teria sido conseguir um referencial antivacina.

Segundo reportagem da UOL deste sábado (12), o comando do Palácio Planalto tomou conhecimento do ideário de Simone por intermédio do ex-assessor especial do Planalto Arthur Weintraub, que é irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub.

De acordo com a CPI,  Arthur Weintraub era responsável por realizar buscas em blogs, fóruns de discussão e outras fontes na internet, sem validação científica, para repassar informações sobre o assunto a Jair Bolsonaro.

Em publicações antigas nas redes sociais, é possível ver que o antigo secretário entrou em contato com a médica publicamente diversas vezes, supondo que no Brasil existe um preconceito com a hidroxicloroquina e falsamente afirmando que o medicamento seria eficaz contra a Covid-19.

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Tradução: “Sou assessor do presidente do Brasil, testemunhando a mesma supressão em todo o mundo. Temos usado a hidroxicloroquina nos últimos 70 anos no tratamento (e profilático) da malária, sem falar no lúpus e na artrite. Até 2016 (para a zika) a hidroxicloroquina era aconselhada para gestantes. Agora é mortal?”.

Acima, no mesmo fio, a ativista havia perguntado “quantas vidas foram perdidas e serão perdidas por causa da supressão da hidroxicloroquina nas redes sociais e políticas?”.

O medicamento é considerado ineficaz contra a Covid-19 por entidades da saúde no Brasil e em outros países, isso significando que não apenas não há eficácia comprovada, como os testes comprovando baixa ou nenhuma interferência no tratamento de casos leves e graves fez o remédio ser removido do radar do tratamento precoce utilizado mundialmente. Em alguns casos ainda sob estudo, a má administração do fármaco esteve associada a mortes pela doença.

Tradução: “Obrigado novamente, Dra. Gold. Como te falei dias atrás, aqui no Brasil o método é exatamente o mesmo. Aqueles que se atrevem a apenas discutir o assunto são censurados e perseguidos. Eles dizem que "é ciência". Quando a ciência se tornou dogmática e indiscutivelmente verdadeira? É explicitamente ideológico”, escreveu Weintraub em outra mensagem no mesmo fio.

A médica de extrema-direita Simone Gold, ativista contra a imunização, ficou conhecida por participar da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro desse ano. Na ocasião, ela acabou detida pela polícia de Washington e é investigada pelo governo.

Gold também é fundadora do "America's Frontline Doctors", organização que tem atuado desde o início da pandemia na difusão de ideias e crenças que vão na contramão da comunidade científica. Ela também prega a existência de um esquema global de corrupção e conflito de interesses dentro da indústria farmacêutica, a teoria conspiratória do "big pharma".

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