Marília rebate misoginia e luta para concorrer ao Governo
Mesmo com bons rendimentos em pesquisas de intenção de voto, a petista encontra resistência em sua candidatura ao Governo de Pernambuco em 2022
Destacada no Congresso pela recente aprovação da sua proposta de entregar absorventes às estudantes de escolas públicas no Brasil, a deputada Marília Arraes (PT-PE) cobra maior abertura política às mulheres. Em entrevista à Universa, ela comentou sobre a misoginia enfrentada ao longo da carreira e recordou fatos desagradáveis na trajetória, como a disputa a Prefeitura do Recife em 2020 e uma cadela batizada com seu nome no comitê do PSB.
"Nas eleições de 2020, realmente fiquei um pouco abalada emocionalmente [...] vivi uma campanha onde nunca uma mulher tinha ido para o segundo turno da eleição, e foi violentíssima. Muitas vezes me perguntavam como eu estava aguentando, e respondia que tinha que suportar e mostrar força para outras mulheres", admitiu a parlamentar ao recordar o último ciclo eleitoral que encerrou com uma vitória apertada do primo João Campos (PSB) à Prefeitura do Recife.
Sobre o vínculo familiar, Marília explica que não tem proximidade com João e lembra que é a neta mais velha do ex-governador de Pernambuco e fundador do PSB, Miguel Arraes, descrito como inspiração. "Não tenho relação familiar [com João Campos] há muitos anos, e não é um primo legítimo. Gostam de fazer sensacionalismo com parentesco", apontou.
A petista deixou o partido do avô em 2014 para defender a reeleição da ex-presidente Dilma Roussef (PT). Na ocasião, ela tomou a contramão e não apoiou o presidente do PSB, e também seu primo, o ex-governador Eduardo Campos, pai de João, considerado um forte nome ao Planalto antes de morrer em um acidente aéreo às vésperas da eleição.
Atual segunda secretaria da Câmara dos Deputados após brigar pela oportunidade com o próprio PT, que apostava no deputado João Daniel, a pernambucana repreendeu um episódio da campanha à eleição do atual governador Paulo Câmara, quando teve seu nome batizado em uma vira-lata do comitê e foi chamada de 'traidora' após deitar o partido em 2014.
A desconfiança do PT em apostar na sua candidatura ao Governo do Estado de 2022 foi acentuada pelo recente realinhamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o núcleo pernambucano do PSB, que podem unificar as chapas.
"Somente quatro mulheres se elegeram na história do Estado como deputadas federais, nunca teve uma senadora e governadora", constatou Marília, que admitiu tratamento diferente aos homens na política, já que alcança bons resultados em pesquisas de intenção de voto e, ainda assim, não tem sua capacidade reconhecida no partido.
"Um homem, pontuando bem nas pesquisas ou não, tem uma participação diferente nas decisões. Em 2018 eu já tinha força política, e agora sou deputada federal, então essa inclusão da gente na discussão nos espaços de decisão dificulta pelo fato de ser mulher", exemplificou.
Para a deputada, a misoginia no meio político é mantida desde as primeiras civilizações datadas. "A violência de gênero vem desde Cleópatra. Fazem isso quando mulheres atingem certo patamar de liderança", pontuou.
Embora enxergue um avanço singelo na pauta ao longo dos seus 14 anos de carreira, ela destaca que ainda há pouca participação feminina, especialmente em Brasília, que representa um retrato da sociedade. "Tem poucas mulheres pois muitas vezes elas sequer têm a chance de pensar em querer ocupar esses espaços, porque para a gente é tudo muito mais difícil: a carga mental, do trabalho doméstico, e tem também toda essa violência de gênero a qual a gente é suscetível quando está na política", analisou.
Grávida da segunda filha, ela critica a leitura da licença-maternidade parlamentar por parte da própria Câmara, já que o próprio site se reserva a tratar o período fundamental de afastamento como "falta justificada". "Deputadas, temos quatro anos de mandato e se ausentar por seis meses é complicado. E se você não quiser viver em Brasília, já é obrigada mesmo a se ausentar por dois meses, porque a partir de 28 semanas não pode mais andar de avião”, concluiu a deputada, que estuda passar menos tempo com a filha que está por vir do que lhe é permitido por lei.