Pandemia muda hábitos e fortalece o universo on-line

Compras via internet, aulas remotas, relacionamentos virtuais são algumas das práticas sociais que ganharam relevância. A vida na rede oferece vantagens e riscos.

sab, 10/10/2020 - 09:09
Arquivo LeiaJáImagens Uso excessivo da internet mudou a vida das pessoas durante a pandemia Arquivo LeiaJáImagens

Com o isolamento social causado pela pandemia de covid-19, as pessoas se mantiveram conectadas nas redes sociais por mais tempo. Isso resultou em problemas como aumento de ansiedade e também gerou novos hábitos de consumo e relacionamentos.

O estudante André Maia disse que está entre as pessoas que ficaram a maior parte do tempo no celular. Ele contou que teve problemas de ansiedade por tentar imaginar o dia em que o isolamento social iria acabar.

“Eu passava basicamente o dia inteiro no celular, da hora que eu acordava até a hora de ir dormir. Não era a única opção, mas era a mais viável para ficar próximo das pessoas que faziam parte da minha rotina, porque via como um tipo de tratamento, como uma fuga do que estava acontecendo no mundo”, relatou.

Durante a pandemia houve um aumento exponencial no número de usuários e horas gastas nas redes sociais. Segundo dados da consultoria Kantar, a pandemia influenciou um aumento de 76% no número de usuários do WhatsApp, e de 40% do Facebook e Instagram, apenas no período da pesquisa. A pesquisa mostra, também, que entre março e abril houve um aumento de 33% do uso da rede social TikTok no mundo.

André disse que está utilizando bastante as redes sociais para lidar com os dias de isolamento, já que o sentimento de angústia tomou conta de sua vida. Além disso, informou, as atividades remotas causaram uma estranheza a ele por não ter aquele contato físico com as pessoas.

"Ficava pensando 'Quando vão aprovar uma vacina?', 'Quando eu vou poder encontrar as pessoas de novo?'. Isso era muito angustiante. Na faculdade, a gente aprendeu a estar todos os dias numa sala de aula com professor, com as pessoas ao nosso redor. E aí do nada tem que passar a assistir aula diariamente on-line, não é a mesma coisa, mas era a única opção. E o Home Office, onde a gente, apesar de tudo, tem que se manter produtivo, e isso nem todo dia é possível, porque ninguém é de ferro", afirmou.

André confirmou os dados da pesquisa: abusou das redes sociais. "Eu uso muito Instagram e o Twitter, porque na falta de interação de contato pessoal, a gente busca essas redes sociais para se conectar com amigos, família etc. E também uso a Netflix, assisto uma série ou um filme para esquecer o que está acontecendo, e evitar notícias ruins", conta o estudante.

De acordo com a psicóloga Danielle Almeida, as pessoas ficaram muito mais tempo reclusas, e isso permitiu que passassem mais tempo nas redes sociais, em aplicativos de séries e filmes. Um tempo maior na utilização da internet e dos aparelhos eletrônicos implica alguns malefícios pelo uso excessivo, como problemas de visão, por causa do tempo diante da tela do aparelho.

"Em virtude da pandemia, nós passamos um tempo maior utilizando a internet e os aparelhos eletrônicos. Com isso, nós temos alguns malefícios, problemas com relação à visão, em virtude do excesso do uso dos aparelhos, e também ao aspecto físico da coluna. A gente começa a perceber essas dificuldades, por passar a maior parte do tempo sentado e deitado. Com isso, o corpo em algum momento acaba reclamando", assinalou a psicóloga.

Segundo Danielle, no aspecto psicológico, há o problema da reclusão. "As pessoas passam a ficar em casa, criando uma zona de conflito e não uma zona de conforto. Então, você começa a perceber que os comportamentos são outros, a ausência do abraço, do beijo e do aperto de mão, por isso a pessoa desenvolve uma depressão, uma ansiedade, e até manias de limpeza", explicou.

Compras pela internet

As compras on-line aumentaram até 40% com o impacto do novo coronavírus. A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico informa que as lojas virtuais registraram alta de mais de 180% em transações nas categorias de alimentos e saúde.

Já a pesquisa Impactos da Pandemia no Comportamento do Consumo do Brasileiro, realizada pelo Instituto Locomotiva, revela que uma média de 40% dos entrevistados que frequentam lojas físicas de livrarias, perfumarias, lojas de departamentos, entre outros, pretendem não fazer mais compras nesses espaços, optando por compras pela internet.

O economista Nélio Bordalo analisa que isso foi um efeito da pandemia, refletindo as limitações impostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelos governos à população.

"Por causa do lockdown, no Brasil e no resto do mundo, as pessoas optaram por compras on-line. As lojas que atuavam no e-commerce tiveram um faturamento além da média, principalmente porque o comércio tradicional não estava podendo funcionar. A projeção para 2020 é que a receita e o faturamento do comércio eletrônico no Brasil girem em torno de R$ 11 bilhões. Em comparação com o ano passado, nós tivemos ao todo, R$ 75 milhões", informou.

Segundo Nélio, as empresas começaram a praticar as vendas por comércio eletrônico como uma questão de sobrevivência. Ele acredita que, após a pandemia, as empresas que atendiam somente fisicamente deverão começar a ofertar as duas modalidades.

"Eu vejo com bons olhos essa mudança do varejo para as vendas no e-commerce, porque o mundo todo está utilizando esse artifício. Sim, isso altera um pouquinho a estrutura, a logística. Essa comercialização exige uma redução no custo operacional das lojas físicas, e as empresas deixam de pagar aluguel, pois não têm muito custo com energia, nem com empregados. O comércio eletrônico tem uma estrutura mais enxuta. É uma tendência que o Brasil certamente vai acompanhar", disse.

Como tudo na internet exige cautela, o economista alerta para o aumento de novos golpes também. "O consumidor tem que ficar atento a essa situação. Tem que ter cuidado com relação aos pagamentos dos fornecedores através do comércio eletrônico para também evitar qualquer tipo de golpe", alertou.

A estudante Erika Castro é uma das pessoas que não compravam pela internet, mas que agora está aproveitando a pandemia e comprando bastante em lojas virtuais. "Eu não costumava fazer compras on-line, mas eu comecei a partir da quarentena. Como eu não podia sair e eu precisava comprar, então eu comecei a comprar sapatos, fazer compras no mercado, frutas e verduras, enfim eu comecei a comprar muita coisa. Eu gosto muito de comprar pessoalmente, de tocar naquilo que eu vou comprar, mas os benefícios do comodismo, de estar em casa e poder receber as coisas é um ponto positivo", comentou.

Por Ana Caroline Barboza, com o apoio de Cristian Corrêa.

 

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