Mãe de aluna autista luta por mudanças nas escolas

Ângela Dantas, mãe da jovem Vitória Lira, 15, quer criar adaptações para o atual currículo escolar, beneficiando pessoas especiais

por Nathan Santos sex, 14/02/2014 - 12:15

“O autista assusta”. O depoimento não é de uma pessoa que desconhece a realidade de pessoas que têm autismo. A frase é de Maria Ângela Dantas, mãe da jovem Vitória Lira, de 15 anos, que é autista. Desde a descoberta do diagnóstico da filha, Ângela busca ensinar a sociedade como conviver com os autistas, principalmente no contexto educacional. A proposta dela é criar adaptações para o atual currículo escolar, inserindo essas diretrizes na realidade educacional. A tarefa é difícil, porém, pouco a pouco as escolas tentam se adaptar.

Durante mais de cinco anos, Ângela – que atualmente é presidente da Associação de Famílias para o Bem-Estar e Tratamento da Pessoa com Autismo (Afeto) – circulou por escolas privadas em busca de ambientes e ensino que pudessem inserir Vitória no universo escolar. Em meio ao preconceito e a falta de conhecimento de educadores e dos donos desses estabelecimentos escolares, ela conseguiu uma escola que ofereceu boas condições para receber a garota autista. Trata-se da Escola Municipal Dom Hélder Câmara, localizada no bairro do Espinheiro, no Recife, onde Vitória estuda atualmente no quarto ano do ensino fundamental.

Segundo a proposta do currículo escolar de Ângela, a realização de cursos para professores e educadores em geral é um dos pilares do projeto. “É preciso adaptar o currículo ao especial. É importante entender o autista, porque, entendendo ele, os outros casos são ‘fichinha’. Um curso para professores e educadores sobre autismo é essencial. As formações universitárias ainda não trabalham esse tema e é aí que há uma problemática”, explica a presidente da Afeto.

A diretora da Escola Dom Hélder Câmara, Lucila Araújo (foto), que há 11 anos está no cargo, conta que a ideia não é criar disciplinas para autistas. “A criação de novas disciplinas só para crianças com autismo é uma exclusão. Devem sim ser criados conteúdos e atividades específicas para eles em relação às matérias e assuntos já existentes na educação regular”, diz.

Modelo atual

A diretora conta que no modelo atual de ensino os autistas não passam por provas e não são reprovados. A avaliação é feita por observação, e, conforme eles vão desempenhando as atividades de sala de aula, é realizada uma conclusão sobre a situação educacional dos alunos. No processo de integração com os estudantes típicos, chamados popularmente de normais, a aceitação dos amigos autistas é feita com êxito, fato que, segundo Lucila, faz cair uma ideia comum.

“As pessoas dizem que as crianças têm preconceito. Porém, posso dizer que criança não é preconceituosa. Quem tem preconceito é o adulto”, frisa a diretora. Segundo ela, os amigos de classe de Vitória e dos outros cinco estudantes autistas da escola, convivem de forma harmoniosa e muitos fazem questão de ajudá-los.

A professora polivalente Taciana Ferreira, que há um ano começou a atuar com autistas, revela que no início teve dificuldades. “No primeiro momento fiquei assustada. Isso aconteceu justamente pela falta de conhecimento que tenho, como outros professores. Mas, depois fui me adaptando e posso dizer que é prazeroso trabalhar com eles”, conta.

VÍDEO: para entender melhor como funcionam o ensino e a comunicação de alunos autistas nas salas de aula, confira um vídeo com a estudante de psicologia Camila Sousa e a jovem Vitória:





Números

Na Escola Municipal Dom Hélder Câmara existem 11 alunos especiais, em que desses, seis são autistas. De acordo com Ângela, Pernambuco não tem um levantamento sobre quantas pessoas autistas existem no Estado.

Segundo dados da Secretaria de Educação de Pernambuco (SEE), existem 91 alunos autistas na rede estadual de ensino. A maioria está matriculada.

Serviço

No dia 21 deste mês, a Afeto realizará um curso que vai trabalhar a proposta dessas adaptações do currículo escolar. O evento será no Auditório da Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Informações sobre o curso podem ser conseguidas no site da Associação. O Campus Recife da UFPE fica na Avenida Professor Moraes Rêgo, 1235, no bairro da Cidade Universitária, na Zona Oeste da cidade.

 

 

 

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