Sintepe e Sinpro são contra reforma no ensino médio

Sindicatos que representam os professores das redes pública e privada afirmam que a medida provisória que quer reformular o ensino médio não será benéfica de forma alguma para a educação

por Camilla de Assis sex, 23/09/2016 - 11:53
Roberta Patu/LeiaJáImagens/Arquivo Reforma do ensino médio tem previsão de ser consolidada já em 2017 Roberta Patu/LeiaJáImagens/Arquivo

Os dois sindicatos de base do ensino médio público e particular de Pernambuco são contra a reforma na fase do ensino básico, anunciada nesta quinta-feira (22). O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) e o Sindicato dos Professores de Pernambuco (Sinpro-PE) afirmaram, em entrevista ao Portal LeiaJá, que a medida provisória (MP) apresentada pelo Ministério da Educação (MEC) é um “atentado ao ensino médio”.

A medida, que pegou de surpresa a sociedade pela falta de debate prévio, prevê um currículo chamado de “mais flexível” aos estudantes que estão no ensino médio. De acordo com a mudança, os jovens irão escolher a possibilidade de cursar as disciplinas de acordo com suas afinidades, a partir da segunda metade do segundo ano do ensino médio. Segundo o documento apresentado nesta quinta (22), artes, educação física, filosofia e sociologia estariam fora da obrigatoriedade de ensino, mas o MEC voltou atrás no mesmo dia, afirmando que nenhuma matéria seria dispensada.

Mesmo com todo o cenário ainda confuso sobre a nova maneira de ensinar a e aprender, o presidente do Sintepe, Fernando Melo, afirma que a categoria tem observado com preocupação essa reformulação. “Um dos aspectos considerados é a falta de discussão com os setores que vivem a educação. Não se trata a educação como medida provisória, então o governo que trata dessa forma nos faz atentar para o descaso com a educação brasileira”, aponta Melo.

Segundo o presidente do Sintepe, a categoria quer, sim, uma mudança na educação, mas de maneira discutida. “Não defendemos o processo educacional atual e queremos uma mudança, mas algo que mude de forma discutida”, afirma Fernando Melo. Além disso, ele conta que as escolas da rede estadual de Pernambuco não suportam essa reformulação. “Não somos contra o aumento da carga horária, mas as escolas não têm estrutura física para suportar alunos o dia todo, muito menos os professores conseguem acompanhar essa rotina”, salienta.

Quando questionado pelo Portal LeiaJá se o resultado de Pernambuco no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) alavancou a reformulação, Fernando Melo afirmou que o Estado não está nas condições apresentadas ao país. “Pernambuco têm exportado alguns elementos que são colocados na vitrine, mas a situação da maioria das escolas é de problemas na estrutura física e de falta de professores”, revela Melo.

Os professores da rede privada de Pernambuco também estão desgostosos com decisão de reformulação do ensino médio. Segundo o professor e secretário de Comunicação do Sinpro, Wallace Gonçalves, as mudanças podem trazer ainda mais dificuldade de acesso ao ensino superior. “A escola pública vai formar mão de obra, já a escola privada vai levar o aluno à universidade, isso por conta da mais liberdade de aplicação das disciplinas. E isso vai criar uma educação bancária para corroborar para o fenômeno da terceirização”, afirma Wallace.

Além disso, o professor também atenta para a possibilidade de haver uma maior evasão escolar, em contradição à argumentação do governo de que o ensino médio seria mais atrativo. “O aluno vai receber certificados por módulo, então, principalmente aqueles de baixa renda, podem trancar o ensino médio. E quando vão voltar?”, questiona Wallace Gonçalves.

Não somente os alunos podem ser prejudicados, que terão uma preparação para o mercado de trabalho e não para a sociedade, como salienta Wallace, mas os professores também sofrerão com as mudanças. “A escola privada vai ter que passar por uma reformulação muito grande que, inclusive, implica em demissões”, prevê o docente. 

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