Humanas: professores comentam possível corte de verbas

Declaração de que ministro estuda diminuir investimento em faculdades de humanas foi feito nesta sexta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro

por Marcele Lima sex, 26/04/2019 - 11:19
Agência Brasil / Arquivo Presidente Jair Bolsonaro e ministro Abraham Weintraub Agência Brasil / Arquivo

O Presidente Jair Bolsonaro utilizou o Twitter na manhã desta sexta-feira (26) para dizer que o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, estuda descentralizar investimentos para instituições de ensino superior voltadas para Ciências Humanas. De acordo com o presidente, alunos já matriculados em cursos como sociologia e filosofia não serão afetados. Mas o que isso significa na prática?

Para o professor de filosofia e sociologia Salviano Feitoza, as disciplinas de humanas são ligadas diretamente ao raciocínio e à percepção de mundo. Ele acredita que a fala do presidente é a demonstração de ignorância e um direcionamento ideológico em relação à natureza do que é produzido por essas disciplinas. “Mostra uma visão que ele tem desde antes ser presidente. Acusando os cursos de não terem resultados práticos. Entretanto, vale a pena considerar que não se vive só de conhecimentos práticos”, afirma o docente.

Uma das justificativas para a aversão aos cursos de humanas é justamente por Bolsonaro e apoiadores dizerem que existe um ‘doutrinação’ nas aulas dessas matérias, prejudicando o país e a educação. “Quais são os dados matemáticos que confirmam que essa doutrinação acontece? Se ele não apresenta esses dados que são origem a essa suposta pesquisa que ele busca usar para legitimar o corte de verbas, então a conclusão possível é que o desejo dele também é ideológico. É uma demonstração de uma prática não explícita de deixar à míngua aquilo que ele considera ser o ponto de grandes males da sociedade. Ele não vai declarar o fim, o encerramento desses cursos. Ele vai deixá-los à míngua”, analisa o professor Salviano.

O Ministro da Educação Abraham Weintraub fez o anúncio sobre o tema em uma transmissão no Facebook, na noite desta quinta-feira (25). Ele trouxe como exemplo casos do Japão, país no qual o dinheiro público não financia cursos como o de filosofia. Para o professor Salviano, se isso se cumprir no Brasil, todo mundo sai perdendo. “Só vai reafirmar esse atraso  e essa barbárie que aparentemente e praticamente tomou conta da gestão do estado brasileiro. É para se preocupar. Perde todo mundo em um país em que você não investe em humanidades, e o pouco que investe se pensa em cortar e redistribuir. Nenhum ser humano é so contar, so escrever ou só ler. Existem todos os elementos que compõem essa existência e não é uma questão técnica” conclui o professor.

Já para a professora de história, Cristiane Pantoja, este é um posicionamento incoerente com o que é Educação. “Dentro do quadro "educação", existem vários métodos de ensino, porque é entendível que cada pessoa pode necessitar de processos diferentes de aprendizados. É responsabilidade estrutural do Ministério da Educação saber disso, desenvolver estratégias para isso, contando sempre com a parte que cabe ao investimento. Impostos esses, pagos por uma população que tem diversas particularidades de aprendizados. Logo, são no minimo incoerentes as colocações que excluem diversidade de métodos de ensino", afirma.

COMENTÁRIOS dos leitores