Entrevista: secretário fala sobre o ano letivo de 2021

Ao LeiaJá, o secretário de Educação e Esportes explicou como será o ensino no próximo ano

por Lara Tôrres dom, 27/12/2020 - 08:00
Rafael Bandeira/LeiaJáImagens/Arquivo Fred Amancio, secretário de Educação e Esportes Rafael Bandeira/LeiaJáImagens/Arquivo

A pandemia de Covid-19 afastou os estudantes de todos os níveis de ensino das salas de aula, substituindo o ensino presencial pelas aulas remotas (a distância) e, consequentemente, criando defasagens de aprendizado e no conteúdo programático do ano letivo de 2020. Mesmo com o início do processo de retorno às escolas acontecendo aos poucos no estado, muitas são as dúvidas e incertezas de pais, alunos e educadores pernambucanos a respeito de como será 2021, que ainda nem chegou, e já traz expectativas em torno das aulas, vacinas, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e da reposição dos conteúdos que não foram concluídos neste ano. 

Segundo o secretário de Educação e Esportes de Pernambuco, Fred Amancio, o próximo ano contará ainda com aulas remotas, ensino híbrido com rodízio de alunos e protocolos de segurança contra o vírus a serem seguidos nas escolas durante todo o período do ciclo de ensino 2020/2021, que se encerrará no final do próximo ano. O ciclo englobará conteúdos do ano letivo e buscará suprir lacunas de aprendizado até o final de 2021. 

Para esclarecer dúvidas a respeito do ensino nas escolas de Pernambuco no próximo ano, o LeiaJá entrevistou o secretário de Educação, abordando temas como rodízio de alunos, ensino híbrido, avaliações, ciclo de ensino e reposição de conteúdos, entre outros. Confira, a seguir, a entrevista completa: 

Atualmente, como está o calendário escolar no que se refere aos períodos de aulas, férias e retomada das aulas? 

Fred Amancio: Ainda não retomamos as aulas do fundamental, ainda não temos a autorização do Comitê de Enfrentamento à Covid. Na rede estadual a gente basicamente tem escolas de ensino médio e anos finais do ensino fundamental, a gente praticamente não tem escola de anos iniciais. Noronha foi uma exceção, nós retomamos primeiro inclusive a educação infantil, um caso específico.  

Não retomamos os anos finais, os estudantes continuam com aulas remotas, o que nós retomamos foi o ensino médio, mas dentro daquela filosofia que é uma decisão dos pais se deixa o menino menor de idade na retomada dos estudantes. Nós temos em média, no estado, 50% de retorno. Varia de escola para escola, turma para turma, ano para ano, mas em média a gente está estimando aí algo em torno de 50% dos estudantes que retomaram as suas atividades no sistema híbrido, variando um pouco de escola para escola por causa do cumprimento dos protocolos, e sistema de rodízio, enfim. 

O andamento dos conteúdos varia muitíssimo de escola para escola e até diria de estudante para estudante, porque algumas escolas conseguiram avançar mais, outras menos, e assim por diante. Nós trabalhamos com dois grandes sistemas, nós tivemos uma oferta de aulas na plataforma Educa PE, onde a gente tem todo dia aulas pela internet e pela TV, com um volume ‘x’ de aulas. Nem de longe é o que ele tem todo dia na escola, mas várias escolas nossas fizeram suas próprias plataformas de oferta de aula e essas conseguiram avançar bem mais. Dentro da rede têm situações que variam muito de escola para escola. Consequentemente as escolas têm estágios diferentes desse processo de retomada e reposição de aulas. Tem escolas que têm um número grande de estudantes da zona rural, aí teve que se adaptar melhor a isso e consequentemente teve menos oferta de aulas a distância, enfim, várias questões.

A gente tem grandes diretrizes, naturalmente a gente já sabia que isso ia acontecer,  ter situações diferentes entre escolas. A nossa diretriz dentro do processo é buscar trabalhar para ajudar a todos os estudantes para que eles possam ter o máximo possível de aulas, recuperar o máximo possível de conteúdos e reduzir os prejuízos de um momento tão complexo como esse. Não tem solução perfeita nem aqui e nem em nenhum lugar do mundo para esse contexto de pandemia, a gente teve que criar uma alternativa para poder atender a esse momento com todas as dificuldades aí envolvidas. 

A decisão que nós tomamos aqui no estado para o [ensino] público, entendendo essa diversidade e as dificuldades de vários estudantes, tomamos a decisão de adotar um sistema de ciclo, que é uma coisa prevista excepcionalmente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e também referendado recentemente por pareceres do Conselho Nacional da Educação (CNE). A gente não vai ter o final do ano de 2020, na realidade vai tratar os dois anos como sendo um ano só. Mesmo esse período de férias não é que acabou o ano de 2020 e vai começar o ano de 2021 na prática, falando do ponto de vista do calendário escolar. A gente vai tratar como se fosse um ano só, inclusive do ponto de vista de avaliações, variando com a situação e nível de avanço de cada escola. 

Os estudantes terão uma pausa, até porque os professores precisam também do seu período de férias, como os estudantes, depois retomamos as aulas normalmente, nesse ciclo único 2020/2021, dentro da filosofia que no ano de 2021 a gente não só avançar nos conteúdos que seriam do ano escolar 2021, mas cada escola de acordo com a realidade de cada uma,  ajudar os estudante a recuperar aprendizagens que eventualmente não foram consolidadas em 2020, que vai acontecer em vários casos, tanto para escolas como um todo como em situações específicas de estudantes. 

A gente passou orientações para as escolas para que elas realizem uma avaliação diagnóstica com seus estudantes. Nem tanto para dar nota, mas para os professores entenderem a situação e programar que iria poder avançar neste ano. No mês de março a gente está programado para fazer uma grande avaliação diagnóstica da rede como um todo, independentemente do planejamento individual da escola. 2021 é o ano em que a gente vai buscar avançar mas recuperar muitas aprendizagens. Novamente, isso vai variar muito de escola para escola. 

Neste final de 2020, estamos com as aulas liberadas em todos os níveis de ensino, mas nas escolas públicas, as aulas do ensino infantil e fundamental ainda não foram retomadas. Há previsão de retorno ainda em 2020 ou tudo ficará para 2021? As escolas estão sendo estruturalmente preparadas para receber os estudantes?

Fred Amancio: Quando no meio do ano a gente começou a se preparar para poder iniciar em julho, fazer aquisição de itens para as escolas, fizemos esse trabalho para todas, seja as do ensino médio, que já retomamos, seja para o ensino fundamental, apenas não saiu ainda a autorização. Elas já estão prontas. A gente sugere uma fase de preparação da escola de 15 dias, mas não tem nada a ver com o físico, tem a ver que primeiro a gente faz uma etapa de fase preparatória, que é receber primeiro as equipes de limpeza, para poderem fazer uma limpeza geral da escola, para a gente poder passar orientações para as equipes administrativas, gestão da escola e terceirizados. 

A gente passa orientações, na semana seguinte voltam os professores para fazer o planejamento da retomada das aulas e na semana seguinte voltam os estudantes. A gente só precisa de 15 dias para fazer esse passo a passo de orientação, mas do ponto de vista de estrutura física, elas estão preparadas já há alguns meses, como aconteceu nas escolas do ensino médio.

Estou falando da rede estadual. Vai ter um outro desafio das redes municipais, que não é conosco. Vai variar, tem o desafio da transição, maior dificuldade dos municípios mesmo, de estrutura, transição de gestões, aí é um outro nível de desafio. Tudo que estou contando é sobre a rede estadual, porque o estado não manda nas redes municipais, ele só autoriza [o retorno] e as redes municipais vão decidir quando retomam. 

O comitê de enfrentamento tinha estabelecido a retomada do ensino médio nas redes pública e privada. Tivemos debates, questões judiciais que acabaram retardando, criando uma diferença de 15 dias entre a retomada da rede pública e da rede privada. Fizemos o início da retomada, depois [o comitê] autorizou a retomada da rede privada e estávamos prestes a iniciar a retomada da rede pública. 

Como a maior parte dos municípios estavam em fim de gestão, acabaram sinalizando, pelo menos essa foi a posição do presidente da Amupe [Associação Municipalista de Pernambuco], que a posição dos municípios é de não mais retomar esse ano. No caso da rede estadual é uma quantidade bem menor de estudantes porque a gente não tem anos iniciais, não tem educação infantil. Agora as redes municipais, independentemente da autorização, já anunciaram que não vão mais retomar esse ano. 

Como será o calendário desse ciclo para o ensino médio? E para os demais níveis, a partir da autorização para retomada das aulas?

Fred Amancio: Como eu disse, pode variar de escola para escola, de rede para rede. Está tendo aula, bem ou mal. Para efeito de carga horária é feita a contagem. Sobre datas, cada rede tem autonomia para estabelecer suas datas, seja privada, municipal ou estadual. A gente deve ter férias em janeiro, ter a data de retomada e seguir até o final do ano complementando carga horária e principalmente aprendizagem para chegar ao fim de 2021 tendo avançado nos conteúdos de 2020 e 2021.

Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo

As escolas avançaram, mas varia muito. A rede estadual tem diferença entre escolas, tem escolas particulares que avançaram quase integralmente. Dificuldade não tem a ver só com estrutura, tem gente com dificuldade. Na rede estadual, a gente só está observando o fator autorização, quando autorizar, no dia seguinte a gente retoma. 

Os municípios têm o desafio de estruturar as escolas, preparar as escolas e estão em final de gestão. Estamos com pouco mais de 100 prefeitos novos, então eu acho que tudo isso pesou no processo decisório dos municípios de deixar para o início do ano que vem. 

Quais são as maiores dificuldades a enfrentar na reposição dos conteúdos para você enquanto gestor, para estudantes e profissionais da educação nas redes pública e privada de ensino? 

Fred Amancio: Os professores tiveram que se reinventar, porque ninguém no mundo se preparou para ensino remoto em larga escala. Os primeiros meses foram muito difíceis, os professores foram se adaptando nesse processo. Nós demos cursos on-line sobre técnicas e ferramentas, e a gente percebe a evolução das escolas nas aulas a distância, mas ainda assim as melhores aulas para os estudantes são as aulas presenciais. 

Tem o desafio não apenas da preparação da escola, mas do dia a dia da escola no ponto de vista de manutenção dos protocolos. Você tem uma rotina diferente na escola, eu diria que durante um contexto de pandemia que vai perdurar durante todo o ano de 2021. É uma mudança cultural. A gente achou muito positivo ter começado o processo de retomada ainda em 2020, porque ela vai acontecer ao longo de 2021 inteiro. O próprio sistema híbrido com oferta de aulas presenciais e não-presenciais é um desafio para todas as escolas. É uma coisa muito nova, mas eu diria que tem avanços importantes de estrutura, do trabalho que é feito em si. 

Tanto professores como escolas evoluíram com relação a isso, mesmo a própria rede, além de ter criado plataformas a gente acabou criando estruturas diferenciadas. O local onde a gente transmite nossas aulas tem três estúdios diferentes permitindo diferentes configurações de aula, a gente tem agora um programa que não existia de oferta de internet gratuita para os estudantes, o Conecta Aí, muita coisa aconteceu, evoluímos muito, mas é um desafio muito grande. 

Os estudantes também estão se adaptando a mudar seu sistema de estudo e aprendizagem nesse processo. As pessoas diziam ‘ah, o grande desafio é a questão da estrutura das escolas’, estrutura é uma parte, talvez o maior desafio seja o dia a dia, a mudança cultural. Não é ter álcool em gel, é você usar. Não é você ter uma pia para lavar a mão, é você ter o hábito de lavar as mãos constantemente. Não é ser obrigatório o uso de máscara e dar máscara, como a gente deu a todos os estudantes, face shields e tudo o mais, e não ser utilizado. 

A mudança cultural no dia a dia da escola de utilizar isso, e que vai estar presente conosco, sem dúvida, durante muito tempo, é um desafio. Talvez a gente já ter começado e estar agora nesse trabalho de que isso faça parte do dia a dia das escolas sem dúvida é importante, mas um desafio sem dúvida alguma.

 Vamos viver esse contexto ao longo de todo o ano de 2021, acho que o estado tomou uma decisão acertada de iniciar o processo de retomada, porque muitos disseram “vamos começar o processo de retomada só no próximo ano com a vacina’. Nós aqui já saíamos disso, alguns talvez tivessem uma esperança que não tinha base científica, mas nós sabemos que não tem nem previsão de vacinação para os jovens e crianças, e não tem porque são o público menos atingido mesmo. Mas tem perspectiva de ao longo do primeiro semestre ter uma vacinação para os mais idosos, aqueles que têm comorbidades, mas as crianças não podem ficar tanto tempo fora da escola. Tem uma série de prejuízos, mesmo na Europa com a segunda onda, tem estabelecimentos que foram novamente fechados, mas a escola está aberta.

Atualmente, temos estudantes nas escolas e também alunos que seguem vendo aulas de casa. Como está sendo estruturado o ensino híbrido neste final de ano e como será no próximo ano? O modelo será utilizado durante todo o ciclo 2020/2021? 

Fred Amancio: Vai seguir até o final. É muito provável que no ano todo a gente não vai ter vacinação de crianças e jovens. As que são grupo de risco devem entrar em uma etapa anterior, mas para os demais é necessária essa oferta para dar tranquilidade aos pais. A tendência é ir crescendo o número de alunos em sala até ter todos os estudantes, mas minha expectativa é que isso vá ocorrer ao longo do ano. 

Variando de escola para escola, dependendo do número de estudantes no [ensino] presencial, pois vai precisar ter rodízio se voltarem muitos estudantes, para cumprir o protocolo. Para dar conta do conteúdo, tem que ter parte presencial e parte não presencial, mas isso varia muito de escola para escola.

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