Papa vai à Romênia em busca de entendimento com ortodoxos

O principal evento da viagem será a missa ao ar livre que será celebrada no sábado, numa região rural no centro-oeste do país

qua, 29/05/2019 - 19:40
Filippo MONTEFORTE Papa Francisco em 25 de maio de 2019 Filippo MONTEFORTE

O papa Francisco inicia na sexta-feira (31) uma viagem de três dias à Romênia com uma mensagem de concórdia para esse país ortodoxo, onde a minoria greco-católica tenta superar os sofrimentos vividos no período comunista.

A viagem, que tem como lema "Caminhemos juntos", ocorre vinte anos depois da visita de João Paulo II, que foi o primeiro pontífice a visitar um país ortodoxo desde a Grande Cisma de 1054, quando os líderes da Igreja de Constantinopla e da Igreja de Roma se excomungaram mutuamente e se dividiram em duas: Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa.

A visita de João Paulo se limitava a Bucareste, condição imposta à época pelo Patriarcado desse país e virou um momento chave para a aproximação entre as duas Igrejas.

Já o papa Francisco percorrerá boa parte da Romênia, um país de 20 milhões de habitantes e composto por um mosaico de religiões e idiomas, com 18 minorias oficialmente reconhecidas.

Os dois grupos étnicos minoritários mais importantes são os húngaros e os romanis, o povo cigano, que espera com impaciência a visita do papa defensor dos pobres e discriminados.

"Será um momento único", disse à AFP Maria, uma idosa romena que vive nos Estados Unidos e que viajou para a Europa acompanhar a visita do pontífice.

O principal evento da viagem será a missa ao ar livre que será celebrada no sábado numa região rural no centro-oeste do país, que é também a capital da minoria húngara.

Mais de 110 mil pessoas se registraram para assistir à missa no santuário mariano de Sumuleu Ciuc (centro), um importante local de peregrinação católica.

Dentro da comunidade católica romena, composta por 1,2 milhão de fiéis sobrevive um pequeno grupo de greco-católicos (200 mil pessoas), chamados também de uniatas, que terão atenção especial do chefe da Igreja Católica.

A maioria desses católicos de rito bizantino, que obedecem ao papa, residem na Transilvânia (centro). Essa igreja oriental católica é fruto de uma cisão dentro da ortodoxia ocorrida no fim do século XVII, quando essa região montanhosa era parte do Império Austro-húngaro e se submeteu à autoridade romana.

- "Superemos temores e suspeitas" -

Durante o regime comunista, essa Igreja foi declarada ilegal e seus líderes e fiéis foram perseguidos.

Para honrar sua memoria, o papa beatificará no domingo em Blaj sete bispos uniatas, que foram detidos e torturados por agentes do regime comunista em 1948, morrendo em total isolamento.

"Vou como peregrino e irmão", disse o papa após recordar os mártires dos tempos recentes, "aqueles que sofreram a ponto de oferecer suas vidas, um legado muito valioso para ser esquecido", afirmou Francisco no vídeo enviado na terça-feira ao povo da Romênia.

Francisco chega em Bucareste, a "ilha" latina em "um mar eslavo" dominado pela ortodoxia mundial.

A Igreja Ortodoxa Romena está "aberta ao diálogo ecumênico", explicou Teodor Baconschi teólogo e ex-embaixador da Romênia na Santa Sé.

Com a exceção de uma oração na capital, o patriarca ortodoxo Daniel e o papa não vão aparecer juntos em público, o que é interpretado por especialistas como um sinal de desconfiança por parte da Igreja Romena.

Francisco, empenhado em construir pontes com outros cristãos, reiterou seu desejo de diálogo com os ortodoxos durante sua viagem à Bulgária há três semanas.

"Superemos os temores e as suspeitas, eliminemos as barreiras que nos separam", pediu o papa no vídeo enviado aos romenos.

Nos últimos anos tem crescido na Romênia a posição conservadora de rechaçar as propostas ecumênicas do pontífice argentino.

Agora é raro ver sacerdotes de ambos cultos celebrando juntos missas ou serviços religiosos como casamentos ou funerais, como ocorria no passado.

Por outro lado, não houve nenhum progresso no espinhoso assunto da devolução das igrejas ortodoxas confiscadas em 1948 pelo regime comunista.

Criticada por sua conivência com o poder político, a Igreja Romena apoiou no ano passado um referendo com viés homofóbico convocado pelo governo para proibir casamento homossexual.

Boicotada pelos eleitores, a consulta fracassou.

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