Grécia organiza ajuda a migrantes após incêndios em Lesbos

O campo abrigava 12.700 demandantes de asilo, número quatro vezes acima de sua capacidade

qui, 10/09/2020 - 07:09
Manolis LAGOUTARIS Migrantes no campo em chamas de Moria, na ilha grega de Lesbos, em 9 de setembro de 2020 Manolis LAGOUTARIS

Dois navios da Marinha da Grécia seguiam nesta quinta-feira (10) para a ilha de Lesbos para ajudar os migrantes do campo de Moria, o maior e mais insalubre do país, que foi devastado por dois incêndios que deixaram milhares de pessoas desabrigadas.

A Proteção Civil declarou "estado de emergência" em Lesbos, ilha do Mar Egeu com 85.000 habitantes. Esta é a principal porta de entrada para os migrantes na Grécia por sua proximidade da Turquia.

O campo abrigava 12.700 demandantes de asilo, número quatro vezes acima de sua capacidade. Entre os migrantes estão 4.000 menores de idade.

"Ao menos 3.500 migrantes estão desabrigados e adotamos medidas de urgência para estas pessoas: os mais vulneráveis, quase 1.000, serão abrigados em uma balsa que chegará ao porto de Mitilene", anunciou o ministro da Migração, Notis Mitarachi.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expressou "profunda tristeza" e destacou que a UE está "disposta a ajudar". A Comissão anunciou que assume a responsabilidade pela transferência imediata de 400 crianças e adolescentes para a Grécia continental.

A Alemanha, que exerce a presidência semestral da União Europeia, pediu aos países do bloco que recebam os migrantes do campo. Milhares de pessoas protestaram na quarta-feira em várias cidades do país para exigir que o governo ajude os migrantes.

A Áustria não parece concordar com a ideia. "Se esvaziarmos o campo de Moria, o locai vai lotar de novo imediatamente", disse o ministro das Relações Exteriores, Alexander Schallenberg. Viena deve propor uma ajuda de um milhão de euros, por exemplo, para a compra de "barracas e mantas" na Grécia, completou.

A França afirmou que está disposta a "participar na solidariedade".

"Não temos informações sobre vítimas, feridos ou desaparecidos", afirmou o ministro da Migração da Grécia, que elogiou a "rápida intervenção" dos bombeiros e da polícia.

Vítimas do pânico, milhares de homens, mulheres e crianças fugiram das chamas.

"O que vamos fazer agora? Para onde vamos?", perguntou Mahmut, do Afeganistão. A seu lado, a compatriota Aisha procurava os filhos: "Dois filhos estão ali, mas não sei onde estão os outros".

Cornille Ndama, uma congolesa, também fugiu de Moria durante a noite. "Perdemos tudo. Não tenho nada, nada aqui e não sabemos onde vamos dormir.

Um novo incêndio foi registrado na quarta-feira à noite em uma parte do campo de migrantes que não havia sido atingida pelas chamas de terça-feira.

O primeiro caso de coronavírus foi detectado em Moria na semana passada e o campo foi imediatamente colocado em isolamento por quinze dias.

Segundo Mitarachi, os requerentes de asilo começaram o incêndio. "Vários focos de incêndio foram relatados na noite de quarta-feira (...) Os incidentes em Moria foram iniciados por requerentes de asilo devido à quarentena imposta", frisou.

Pouco antes, o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, expressou sua "tristeza pelos incidentes" e sugeriu que o desastre pode ter ocorrido devido às "reações violentas contra os controles de saúde.

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