Putin pede 'patriotismo' em eleições sem opositores
Putin fez o apelo no momento em que se encontra fisicamente isolado, após a detecção de dezenas de casos de Covid-19 em seu entorno
O presidente russo, Vladimir Putin, pediu a seus concidadãos, nesta quinta-feira (16), que mostrem "patriotismo" durante as eleições legislativas marcadas para esta semana, marcada pela ausência dos principais adversários do Kremlin.
"Conto com seu senso cívico de responsabilidade, sensatez e patriotismo, com sua preocupação em eleger deputados que trabalhem para o bem e o nome da nossa Rússia querida", declarou Putin em um vídeo publicado no portal do Kremlin na madrugada desta quinta.
Putin fez o apelo no momento em que se encontra fisicamente isolado, após a detecção de dezenas de casos de Covid-19 em seu entorno. Esta situação ilustra as dificuldades da Rússia em controlar a pandemia em meio a uma complicada campanha de vacinação.
Devido a sua quarentena, seu porta-voz, Dmitri Peskov, considerou possível que o presidente use o sistema de votação eletrônica, em vez de ir votar presencialmente.
O breve discurso do presidente Putin foi divulgado poucas horas antes do início das eleições legislativas que ocorrerão de 17 a 19 de setembro.
As primeiras seções eleitorais abrem em Kamchatka, no Extremo-Oriente, às 17h de hoje (horário de Brasília). Os resultados devem começar a ser divulgados a partir das 15h de domingo (também horário de Brasília).
Quase 108 milhões de russos são esperados nas urnas para eleger os 450 deputados à Câmara Baixa do Parlamento. Metade dos congressistas é designada segundo votação proporcional das listas, e a outra metade, segundo o modo majoritário uninominal.
- 'Voto inteligente'
As eleições para a Duma (parlamento), que devem resultar em uma fácil vitória do partido da situação, o Rússia Unida, acontecem após uma repressão histórica que levou à prisão, ou ao exílio, dos mais proeminentes opositores do Kremlin.
É o caso, por exemplo, do principal inimigo de Putin, Alexei Navalny, que está preso. Seu movimento foi declarado proibido por "extremismo".
Nesta quinta, o poderoso Comitê de Inquérito russo anunciou que abriu uma investigação contra 11 pessoas. Elas são acusadas de convocarem, via Telegram, "distúrbios massivos" durante as eleições. Todas terão sua prisão preventiva solicitada.
Ontem, Navalny voltou a convocar os eleitores a fazerem uma "votação inteligente", apoiando o candidato mais bem posicionado em cada distrito e, com isso, colocar o da Rússia Unida em dificuldades.
"Desde 2003, ou seja, há quase 20 anos, nenhum candidato independente conseguiu uma vitória nas eleições para a Duma", lembrou Navalny, em mensagem publicada nas redes sociais na quarta (15).
Impopular, arranhado por escândalos de corrupção e em meio à queda do poder aquisitivo da população, o Rússia Unida teria menos de 30% de acordo com as pesquisas. Hoje, controla o Parlamento e apoia sem hesitar as políticas do Kremlin.
Ainda muito popular, Putin fez campanha por seu partido, à sua maneira, anunciando uma ajuda financeira excepcional para 42 milhões de aposentados, um eleitorado crucial, a poucas semanas das eleições.
Junto com isso, as autoridades russas multiplicaram os esforços para limitar o impacto do "voto inteligente" de Navalny, classificando-o como uma forma de "extremismo" e de exemplo da ingerência ocidental nas eleições.
- Contra os gigantes tecnológicos dos EUA
Moscou acusa, em especial, os gigantes americanos da Internet de se intrometerem nos assuntos russos, ao se recusarem a remover conteúdo considerado ilegal pelo governo.
Representantes da Apple e do Google foram convocados para comparecerem, nesta quinta-feira, a uma comissão da Câmara Alta do Parlamento, o Conselho da Federação. Eles terão de explicar por que não suprimiram o aplicativo "Navalny" de suas plataformas.
Twitter, Facebook e Telegram foram multados várias vezes nos últimos meses por se recusarem a deletar postagens, ou por não moderarem "adequadamente" seu conteúdo.
Na semana passada, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, denunciou "a recusa de toda uma série de plataformas de linha ocidental em suprimir conteúdo proibido".