'Comecei a beber com meu pai', diz João Victor Ribeiro

Durante depoimento no julgamento do Caso da Tamarineira, réu disse que passou a utilizar álcool e cocaína ainda na adolescência

qui, 17/03/2022 - 12:03
Júlio Gomes/LeiaJáImagens O réu João Victor Ribeiro durante depoimento nesta quinta-feira (17) Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Às 9h desta quinta-feira (17), o terceiro dia do julgamento do Caso da Tamarineira, que ocorre no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, em Joana Bezerra, no Recife, começou com o depoimento do réu João Victor Ribeiro. Durante a sessão, ele se emocionou ao lembrar do pai e da avó e disse que começou a consumir álcool, tabaco e cocaína ainda na adolescência. João Victor pode ser condenado por três homicídios dolosos (com intenção de matar) e por duas tentativas de homicídio. 

O réu disse que foi um adolescente rebelde, em razão da separação de seus pais. De acordo com ele, seu padrasto traía sua mãe constantemente. Nessa época, a família residia em Aracaju-SE.

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"Comecei a fumar cigarro aos 13 anos, depois de muitas afrontas do meu padrasto. Ele já ameaçou me bater, minha mãe botou ele para fora. Uma vez que ele foi violento com ela, liguei pro meu pai e informei o que estava acontecendo. Foi quando esse cara saiu de casa. Eu já estava usando cigarro e cocaína", relatou. 

Aos 16 anos, João Victor concluiu o ensino médio e voltou ao Recife para ingressar no curso de administração. "Comecei a beber com o meu pai. Eu bebia de uma forma tranquila, quando acabava, pedia a conta e ia embora para casa. Até que fui fazer faculdade", declarou.

Segundo o réu, o uso da cocaína, que estava suspenso desde o retorno ao Recife, foi retomado neste período. A droga intensificava o efeito da bebida. "Vendi coisas de dentro da minha casa para comprar droga. Roupas, tênis. Chegou um certo tempo que não tinha mais controle de mim", afirmou. 

João Victor abandonou a faculdade e conseguiu seu primeiro emprego, por meio da indicação de um amigo. Segundo ele, seu salário passou a ser utilizado para o consumo das drogas. "Frequentava bares de noite e passei a usar cocaína com mais frequência. Consegui comprar um Palio vermelho e comecei a trabalhar. Sempre bebendo e usando cocaína escondido [da família]", acrescentou.

O réu alegou que o efeito das drogas sobre seu comportamento cotidiano o levou a ser demitido do emprego. Depois disso, ele conheceu o ecstasy, em uma rave na Paraíba, na qual sofreu uma overdose. 

"Cheguei para minha mãe e disse: 'me ajude, se não vou morrer'. Eu ia me matar por uma vício infantil, precoce, que me fazia mal", alegou.

O réu chegou a ser internado duas vezes em uma clínica de reabilitação, que deixou pela última vez em 2015. Ele afirma que já contou com acompanhamento psiquiátrico e que faz uso de medicação controlada.

A defesa alega que João Victor é dependente químico. O julgamento pode ser encerrado nesta quinta-feira, após realização dos debates entre defesa e acusação.

O caso

Na colisão, em 26 de novembro de 2017, a esposa Maria Emília Guimarães, de 39 anos, o filho Miguel Arruda da Motta Silveira Neto, de três anos, e a babá Rosiane Maria de Brito Souza, grávida de quatro meses, morreram. A filha mais velha do casal, Marcelinha, hoje com nove anos, sofreu um grave traumatismo craniano e ficou internada por dois meses após o acidente, e faz tratamento até hoje. A menina vive com o pai, o advogado Miguel Arruda da Motta Silveira Filho, de 49 anos, e único outro sobrevivente da tragédia.

De acordo com a Polícia Civil, João Victor havia ingerido álcool por muitas horas consecutivas, em uma festa local, misturando, inclusive, bebidas como cerveja e uísque. Perícias técnicas apontaram que o veículo conduzido pelo estudante de engenharia estava a 108 quilômetros por hora, quando o máximo permitido na via em que ele trafegava é de 60 quilômetros por hora.

A batida aconteceu por volta das 19h30, no cruzamento da Estrada do Arraial com a Rua Cônego Barata, no bairro da Tamarineira. Ainda de acordo com a polícia, o veículo onde viajava a família de quatro pessoas e a babá, que estava grávida, seguia pela Estrada do Arraial, no sentido Casa Forte, na mesma região, quando o outro carro avançou o sinal e causou a colisão. A caminhonete da família estava a cerca de 30 quilômetros por hora.

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