Seis meses: articulações políticas, crises e denúncias

O governador enfrentou o primeiro semestre de seu governo com desafios econômicos e artimanhas políticas, mas segundo especialista sua gestão ainda não tem “marca” própria

por Élida Maria sab, 11/07/2015 - 13:57

Seis meses. Esse é o tempo que o governador Paulo Câmara (PSB) já passou à frente do Governo do Estado de Pernambuco. Para à oposição, o período foi negativo e confirmou seu despreparo como gestor. Já a base governista acredita que o socialista soube destravar os desafios e vencer as adversidades. Apesar das opiniões distintas, são notórios alguns destaques como as articulações políticas com os ministros de Estado e as movimentações em prol da vinda hub da Latam, ao passo que ele enfrentou greve, paralisação e denúncias graves como falta de alimentos em abrigo e descaso no IML nesta última semana.

Nos bastidores da política à falta do ex-governador Eduardo Campos é vista, ainda, como uma ausência importante tanto como liderança, quanto como padrinho político e conselheiro. Por outro lado, a crise econômica vivenciada em todo o país é justificada como um dos motivos, ou refúgio, para algumas precariedades do Estado. 

“O governador disputou as eleições como um neófito em embates eleitorais. E foi logo para uma disputa para o executivo estadual. Venceu a eleição, ainda no primeiro turno com uma larga vantagem, sobretudo, em função da comoção que se criou em Pernambuco com a morte prematura e trágica do ex-governador Eduardo Campos, seu mentor e avalista de sua candidatura”, pontuou o cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Túlio Velho Barreto. 

Para o especialista, vencer as eleições devido à comoção da morte de Campos e, de fato, liderar Pernambuco, são ações distintas. “Uma coisa é vencer a eleição à sombra do ex-governador e da tragédia, outra, é governar sem a presença de Eduardo Campos e em uma conjuntura adversa. Do ponto de vista político, na oposição ao governo Dilma Rousseff; do ponto de vista econômico, enfrentando uma grave crise econômica”, frisou, enfatizando as dificuldades como o desemprego. “Um exemplo é a difícil situação de Suape, com desemprego em massa, e os valores transferidos para o consórcio que construiu e administra a Arena Pernambuco”, destacou.

Segundo Barreto, o primeiro semestre da gestão de Câmara ainda é tímido e sem ‘marcos’ importantes até então. “Nos primeiros seis meses de governo a ação do executivo estadual tem sido muito tímida e discreta, sem uma marca importante. As eleições municipais de 2016 serão um bom momento para testar a capacidade do governador de vir a ser uma liderança política no Estado, o que não demonstrou ser ainda por inteiro”, analisou. 

De acordo com o deputado estadual Edílson Silva (Psol), Câmara não cumpriu as promessas feitas e o Estado passa por problemas em várias áreas. “Eu faço uma avaliação que é um governo que frustrou as expectativas da sociedade. Nós estamos vendo, as principais áreas do Estado estão com problemas gravíssimos. Uma crise na segurança pública. Tem uma crise no sistema previdenciário, tem a questão na educação que os professores não recebem nem o piso, na saúde pública e um monte de obras inacabadas e que não funcionam”, detalhou, fazendo uma avaliação negativa do socialista. “O balanço que nós fazemos é que as coisas estão ruins, e as promessas que ele fez não se cumprem”, criticou. 

Edílson relembrou algumas promessas de campanha como o não aumento de passagem de ônibus. “Uma promessa que ele fez foi a do bilhete único para fazer o sistema eletrônico de transporte. Prometeu não aumentar a passagem e aumentou. Mentiu descaradamente para a população”, disparou. O parlamentar acredita que o socialista tinha sobrevido até agora de “factoides”. “Inaugurando ruas de prefeituras, reinaugurando placas como foi o caso de Palmares”, denunciou, vendo a vinda do hub da Latam como a única coisa positiva. “O governo só fala do hub da Latam. Parece que o hub da Latam é a salvação do Estado, uma das poucas, ou talvez a única agenda positiva do Estado. Ele é um fiasco, um governo que prometeu”, acrescentou. 

Corroborando com as alfinetadas de Edílson Silva, o líder da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Sílvio Costa Filho (PTB), vê os seis meses de gestão como continuidade do governo de Eduardo Campos. “Na nossa avaliação é um governo que é menos do mesmo. Não é nem mais do mesmo, porque é um governo de continuidade que está no seu nono ano de gestão e a gente observa que nada de novo foi apresentado aos pernambucanos”, alegou. 

Para o petebista, as problemáticas vivenciadas em Pernambuco demonstram um déficit de liderança. “O processo eleitoral passou, e hoje ele é governador. Ele tem que honrar os compromissos assumidos em praça pública, naturalmente, os pernambucanos passam a perceber um déficit da liderança em relação às articulações anunciadas. Entretanto, ele se elegeu com a confiança da maioria do eleitorado e é preciso que ele possa trabalhar nesses próximos anos e a oposição vai está cumprindo o seu papel institucional”, prometeu. 

Outras críticas feitas ao governo partiram da deputada estadual Teresa Leitão (PT). Para a petista, o problema não está apenas na crise, porque o Governo Federal tem enviado recursos, mas na falta de liderança e de uma marca própria. “A marca de Paulo vai demorar a se consolidar. Ninguém consegue, a não ser que seja uma liderança muito forte, fazer isso com seis meses, mas eles estão mais preocupados a manter uma marca de Eduardo Campos”, ressaltou. 

A petista também comentou à falta de articulações políticas. “A política do PSB está sofrendo as consequências do tipo de liderança centralizadora que Eduardo Campo exerceu. Era uma grande liderança, sem dúvida, mas a ocupação deste espaço está difícil e o que a gente ver são brigas, disputas internas, a ponto de precisar deslocar o prefeito de São Lourenço para fazer articulação política. Vai para Arpe para fazer articulação porque você tem secretários que não conhece fazer”, cravou a deputada. 

Em meio às avaliações negativas da oposição, a base governista de Paulo Câmara defende o gestor e acredita que ele soube driblar as dificuldades desses primeiros meses. “Eu avaliou como seis meses de muita luta em Pernambuco para enfrentar as adversidades causadas pelo desastre da política econômica do governo Dilma, mas de muitos avanços também, apesar dessas adversidades”, destacou o líder do governo na Alepe, deputado Waldemar Borges (PSB). 

De acordo com o socialista, o governo já investiu mais de R$ 300 milhões no Estado. “Ele entregou duas novas escolas técnicas e três escolas de referências, enfrentou e tem conseguido reverter a linha ascendente da violência. Inaugurou empreendimento do porte da Fábrica da Jeep, e no campo político uniu Pernambuco em defesa do hub da Latam”, contabilizou.

Questionado sobre as crises enfrentadas em Pernambuco, Borges reconheceu algumas dificuldades, mas garantiu serem enfrentadas pelo governador. “Acho que dificuldades pontuais sempre vão existir, e algumas são rapidamente superadas, outras, são mais estruturais que um governo comprometido deve enfrentá-las como o governo de Paulo Câmara tem enfrentado”, elogiou. 

Sobre as greves como a da educação, por exemplo, o líder do governo enfatizou a existência de diálogo. “Uma greve  terminou em acordo e revela a capacidade do governo negociar e de ir ao máximo que pode para atender as reivindicações da melhor forma que pode. Não conheço o ato de governar que esteja imune as dificuldades, mas nada parecido a esse caos de uma economia nacional desgovernada e despencada em cada livre, causando todo tipo de ameaças as economias dos Estados”, disse o parlamentar, como crítica ao governo Dilma. 

Outro socialista defensor de Câmara foi o deputado estadual Vinicius Labanca (PSB). “A minha avaliação é positiva para quem assumiu o governo após a perda de um grande líder que foi Eduardo Campos, e num momento que vive a classe política, num país completamente arrasado de escândalos e vendo a sua economia fundar por falta do Governo Federal”, avaliou. 

Labanca também comentou as problemáticas da greve, mas ressaltou que o governador tem pulso forte. “É natural que todo início de governo se passe por mudanças, independente que seja um governo de continuidade, novas licitações tiveram que ser feitas. Ninguém acha que é justo o salário de um policial ou de um professor, porém, é preciso entender que  arrecadação do governo de Pernambuco ficou em dúvida por cauda da crise econômica que vive o pais, isso é uma prova de guerra e ele teve pulso forte”, destacou. 

Diferente de Vinicius Labanca, o cientista político Túlio Velho Barreto, analisou as greves como dificuldade enfrentada pelo governo. “Sem sombra de dúvidas, a greve dos professores da rede estadual e a paralisação dos policiais civis demonstram o grau de dificuldade do governo Paulo Câmara de lidar com importantes categorias do serviço público estadual nesses primeiros seis meses”, expôs. 

Na visão de Barreto, a tão comentada articulação para a vinda do hub da Latam não pode ser encarada como uma marca de Paulo Câmara, mesmo apesar de seus esforços e empenho. O especialista também acredita que, caso não consiga trazer o hub, o governo terá uma derrota. “Em relação à atração do centro de voos internacionais e nacionais da Latam no Nordeste para o Estado, o governador tem buscado mostrar liderança. E caso alcance sucesso, terá dado um grande salto nessa direção e isso poderá ser uma marca relevante de seu início de governo; caso contrário, terá perdido uma oportunidade e essa será uma derrota política para ele e, igualmente, uma derrota econômica para o estado. Nesse sentido, a louvar, apenas, as iniciativas que ele tem tido com relação ao 'hub' da Latam”, ressaltou.        

O que diz Câmara - Apesar de avaliações de especialista e políticos do governo e da oposição, o próprio governo reconhece as dificuldades nesses primeiros meses. "Nós tivemos um semestre muito difícil. Um semestre que toda esta crise econômica está nos atingindo. Não só o Estado de Pernambuco, mas todos os municípios e todos os Estados da Federação”, reconheceu.  Ele também comentou que as receitas não atenderam as expectativas. "São desafios muito grandes porque o crescimento da receita está bem aquém de qualquer tipo de expectativa criada no início e nós estamos priorizando a manutenção dos serviços, a manutenção do nível de qualidade, finalizar obras que são importantes que precisam ser finalizadas, e ao mesmo tempo, planejar”, detalhou. "



 

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