"Queiroz Galvão representa todos os crimes da Lava Jato"

Afirmativa é do procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima. A empreiteira é acusada de pagar propinas para Sérgio Guerra (PSDB), morto em 2014,para impedir andamento da CPI da Petrobras em 2009

por Giselly Santos ter, 02/08/2016 - 11:39

A empresa Queiroz Galvão, alvo da 33ª fase da Operação Lava Jato, repassou, de acordo com o núcleo responsável pela investigação, mais de R$ 20 milhões em propinas e teria cometido todas as “espécies de crimes” já identificados pela Polícia Federal (PF). Além das doações para campanhas regulares camufladas e irregularidades, de acordo com o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, a empreiteira também teria mantido funcionários no exterior e obstruído investigações, como a CPI da Petrobras em 2009.

“Ela representa todos os pecados e espécies de crimes que verificamos na Lava Jato”, cravou o procurador. “Pagamento de propina do ‘caixa 1’, sob o manto de uma suposta regularidade; do ‘caixa 2’ para campanha de reeleição do ex-presidente Lula em 2006; manutenção de funcionários no exterior, longe da justiça; e o impedimento de investigações no caso da CPI de 2009 com o senador Sérgio Guerra”, acrescentou, detalhando.

O senador pernambucano, morto em 2014, era presidente do PSDB na época e negociou com operadores do esquema de corrupção para esvaziar a CPI sobre as suspeitas de superfaturamento nas obras da Refinaria Abreu e Lima (Renest), localizada em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife (RMR). A conversa entre o político e os empresários já havia sido relatada por diversos colaboradores, no entanto, segundo a delegada da Polícia Federal Renata da Silva Rodrigues a divulgação do vídeo do encontro corroborou os indícios. 

“Embora houvesse relatos da reunião, só recentemente o vídeo foi compartilhado pelo Supremo Tribunal Federal e passível de ser usado nas investigações. Ele mostra de forma muito clara a atuação das pessoas, num encontro de lobistas, com operadores financeiros, agentes públicos e parlamentares. No nosso entender, demonstra uma atuação direta dos investigados de obstruir as investigações”, salientou. 

Resta um

Entre os motivos que desencadearam na deflagração da Resta Um, como foi batizada a nova etapa da Lava Jato, estão indícios, segundo o Ministério Público Federal, de que foram pagos R$ 10 milhões para  evitar que "as apurações da CPI tivessem sucesso em descobrir os crimes que já haviam sido praticados até então".

A empreiteira é a última do “Club VIP” a ser alvo da Lava Jato. Segundo a delegada, os repasses de propinas teve o maior pico em 2012, com um contrato fictício entre a empresa e a KFC no valor de R$1,2 milhão destinados a pagamentos para o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. 

"Temos um novo contrato, num valor bastante alto, um contrato de R$ 1,2 milhão, que está sob análise pericial para demonstrar que foi usado para pagamento de propina. O rastreamento dos repasses ainda não foi concluído, mas já constatamos valores desde 2010. Entre eles, de doações eleitorais oficiais são R$ 7,5 milhões e um contrato simulado com o Consório Ipojuca de R$ 250 mil em 2011. No total, são R$ 20 milhões para pagamentos de propinas e R$ 24 bilhões de contratos com a Petrobras sob investigações”, listou. 

Os valores, sob a ótica da delegada, podem chegar a “números impressionantes”, isto porque, segundo ele, a apuração da PF identificou um dispositivo pessoal de Renato Duque com anotações que fazem um balanço das propinas da Queiroz Galvão. “A Queiroz devia cerca de 37 milhões. Para nós é muito claro que havia um controle de Renato Duque dos valores”, observou.

Consórcio Quip

Além das ações irregulares cometidas diretamente pelos executivos da Queiroz Galvão, a empreiteira também mantinha atos ilícitos a partir do consórcio Quip, do qual ela era a acionista líder. 

“É uma continuidade da Queiroz Galvão para a continuação da lavagem de dinheiro. Há uma série de doações identificadas, com parlamentares envolvidos, mas nosso objeto de investigação não são eles, pois têm foro privilegiado”, afirmou Renata. O consórcio agia mais diretamente com articulações no exterior e segundo a delegada envolve de três a quatro parlamentares.  

Mandados da 33ª fase

A PF prendeu de forma preventiva os ex- executivos da empresa Ildefonso Colares Filho e Othon Zanoide de Moraes Filho. Os dois, que já tinham sido detidos na 7ª fase da Lava Jato, ainda não tem prazo para serem liberados. Há ainda um mandato de prisão contra Marcos Pereira Reis, ligado ao consórcio Quip. Ele, no entanto, está no exterior. 

Além das prisões, foram cumpridas seis de condução coercitiva e 23 de busca e apreensão. As ordens judiciais são cumpridas em São Paulo, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, em Goiás, Pernambuco e Minas Gerais.

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