Como fica o futuro da Lava Jato após vazamentos?

Com cinco anos de atuação, a operação viu sua credibilidade abalada após vazamentos feitos pelo The Intercept, mas o fôlego ainda existe

por Pedro Bezerra Souza qua, 26/06/2019 - 13:27
Chico Peixoto/LeiaJa Imagens/Arquivo Moro era juiz federal e atuava na Lava Jato até se tornar ministro de Bolsonaro Chico Peixoto/LeiaJa Imagens/Arquivo

Iniciada em março de 2014, a Operação Lava Jato é um marco na história investigativa recente no Brasil. Ainda em curso, o trabalho é um conjunto de investigações da Polícia Federal e já cumpriu mais de mil mandados de busca e apreensão, de prisão temporária, de prisão preventiva e de condução coercitiva.

O objetivo principal da operação é investigar um esquema de lavagem de dinheiro que moveimentou bilhões de reais em propina. Com mais de 60 fases realizadas em diversas cidades brasileiras, a Lava Jato tem o nome do então juiz federal Sergio Moro como um dos seus principais protagonistas.

À frente da operação - antes de se tornar ministro da Justiça e Segurança Pública do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) -, Sergio Moro foi responsável por prisões polêmicas e políticos e empresários de renome no país, principalmente da estatal petrolífera Petrobras.

Ao prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em abril de 2018, Sergio Moro e a operação Lava Jato chegam a um êxtase de sucesso e popularidade entre os brasileiros, que tanto acreditavam - e, talvez, ainda acreditem - na força tarefa em prol da luta contra a corrupção.

“Nesse momento o Brasil vivenciou um divisor de águas em sua história. A Lava Jato é elevada a potência máxima e a maioria da população aplaudia o trabalho desempenhado. A operação condenou a 12 anos de prisão um dos presidentes mais populares do país por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O país ficou em polvorosa”, lembra o cientista político Thales Fernandes. 

Nove meses após a prisão de Lula, Moro é empossado como ministro de Bolsonaro - um dos principais adversários políticos do petista encarcerado. A partir daí, alguns questionamentos começam a ser feitos pela população. Entretanto, naquele momento, Moro segue reafirmando e garantindo a sua imparcialidade e idoneidade enquanto juiz federal.

Para “engrossar o caldo” da polêmica, neste mês de junho o site The Intercept divulgou uma série de conversas particulares entre o então juiz Sergio Moro e procuradores da Lava Jato. O episódio balançou as estruturas de Moro e colocou sua popularidade em uma corda bamba. O país ficou mais uma vez dividido entre os que defendiam o ministro da Justiça e os que o rechaçavam.

Paralelo a esses acontecimentos, a credibilidade das ações realizadas pela Lava Jato ao longo dos seus cinco anos também foi colocada em questão. A inquietação que pairou no ar foi a possibilidade de um comportamento parcial da operação ao longo de suas investigações.

“Não dá para dizer que a operação perdeu fôlego, mas também não tem como afirmar que sua credibilidade continua a mesma de dois anos atrás. Os brasileiros começaram a se questionar e a procurar mais informações antes de levantar alguma bandeira. Porém, mesmo abalado, o nome de Moro ainda tem um peso positivo muito grande para diversas camadas da população”, pontua Thales Fernandes.

Além de Lula, a operação Lava Jato mexeu diretamente com nomes como Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Geddel Vieira Lima. Porém, o que ninguém esperava era que Sergio Moro passasse a ser o principal motivo de questionamentos.

Considerada pela Polícia Federal como a maior investigação de corrupção da história do país, sabe-se que a operação não vai parar nem tão cedo. “Ainda há muito pano para manga com a Lava Jato em atuação. Um trabalho que vem atuando fortemente contra crimes como de corrupção, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça não é esquecido com o tempo. Mas como ela vai se sustentar daqui pra frente, isso só os próximos capítulos da história vão dizer”, finaliza o cientista político Thales Fernandes.

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