Vaza Jato: procuradores temiam aliança de Moro a Bolsonaro

Novas mensagens da "Vaza Jato" mostram que os magistrados temiam que o aceno positivo de Moro 'queimasse' a Lava Jato e confirmasse, perante a opinião pública, que a operação tinha finalidades políticas

por Jameson Ramos sab, 29/06/2019 - 12:58
GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO

Antes do então juiz federal Sérgio Moro assumir o Ministério da Justiça do Governo Bolsonaro, as especulações geraram aflição nos procuradores do Ministério Público Federal. Novas mensagens da "Vaza Jato" mostram que os magistrados temiam que o aceno positivo de Moro 'queimasse' a Lava Jato e confirmasse, perante a opinião pública, que a operação tinha finalidades políticas. 

Novas divulgações do The Intercept mostram que no dia 1º de novembro, cerca de uma hora antes de Sérgio Moro aceitar publicamente o convite do presidente Jair Bolsonaro para se tornar o ministro da justiça, integrantes da Lava Jato alegaram que, aceitando ao cargo político, o então juiz colocaria dúvidas da legitimidade da operação. "Acho péssimo. Só dá ênfase às alegações de parcialidade e partidarismo", escreveu a procuradora da força-tarefa, Laura Tessler, de acordo com o The Intercept.

Já o também procurador Antônio Carlos Welter alegou que Moro enquanto ministro da justiça "vai ter que explicar todos os arroubos do presidente, vai ter que engolir muito sapo e ainda vai ser profundamente criticado por isso. Veja que um dos fundamentos do pedido feito ao comitê da ONU para anular o processo do Lula é justamente o de falta de parcialidade do juiz (sic)", disse Antônio.

Ele ainda falou que o aceno positivo de Moro ao cargo confirmaria para muitas pessoas a "teoria da conspiração". A "Vaza Jato" mostra que no dia 25 de outubro de 2018, a três dias do segundo turno das eleições presidenciais, os procuradores Jerusa Viecili e Paulo Roberto Galvão lamentaram que Sérgio Moro e a força-tarefa estavam passando a impressão de que estavam favorecendo o então candidato Jair Bolsonaro. 

A alegação era de que a força-tarefa não estava se manifestando diante de alguns posicionamentos dos candidatos à presidência. "Acho muito grave ficarmos em silêncio quando um dos candidatos manifesta-se contra a nomeação do PGR da lista tríplice, diante de questões ideológicas. Mais grave ainda, assistirmos passivamente, ameaças à liberdade de imprensa quando nós somos os primeiros a afirmar a importância da imprensa para o sucesso da Lava Jato (sic)", escreveu Jerusa Viecili. 

Com o passar dos dias e com os fortes indícios de que Moro iria aceitar o Ministério da Justiça, alguns procuradores começaram a admitir que as reclamações de perseguição por parte da Lava Jato contra o PT estavam se solidificando com o aceno político de Sérgio Moro. Além disso, os procuradores temiam que todo o trabalho da Lava Jato estaria sendo contaminado pelo aceno do juiz federal à Bolsonaro. 

Quando, enfim, confirmado que integraria o grupo de ministro do Governo Federal eleito, o procurador da República do Distrito Federal, Peterson de Paula Pereira disse: "Fica claro que ele (Moro) tinha Lula como troféu". Deltan Dallangnol também se expressou preocupado com a ocupação do cargo por Sérgio Moro, relatando que via com preocupação as alegações de parcialidade que viriam. "Tenho medo do corpo que isso possa tomar na opinião pública", escreveu Dellangnol.

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