2022: Polarização dificulta candidato da terceira via

A polarização entre Lula e Bolsonaro nas eleições presidenciais acaba dificultando a atuação dos candidatos que se colocam como terceira via: Moro, Ciro e Doria

por Alice Albuquerque seg, 28/02/2022 - 20:53
Governo do Estado de São Paulo João Doria e Sergio Moro se classificam como candidatos de direita distante das ideias bolsonaristas Governo do Estado de São Paulo

A mais recente pesquisa Ipespe para as eleições presidenciais de 2022 divulgada na última sexta-feira (25), mostra o ex-presidente Lula (PT) à frente, com 43% das intenções de voto. Em seguida, está o presidente Bolsonaro (PL), com 26% das intenções. Já os principais pré-candidatos que se intitulam como uma terceira via, Sergio Moro (Podemos), e Ciro Gomes, aparecem com 8% e 7%, respectivamente. 

Por sua vez, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), segue na pesquisa com 3% das intenções. Já a senadora Simone Tebet (MDB), Eduardo Leite (PSDB), André Janones (Avante) e Felipe d’Avila (Novo), registram apenas 1% das intenções. O pré-candidato Alessandro Vieira (Cidadania), também foi citado na pesquisa, mas não chegou a 1%. 

Assim como aconteceu em algumas cidades nas eleições de 2020 com os candidatos se colocando como o “candidato de Bolsonaro”, alguns candidatos à presidência vêm se colocando como uma terceira via, como Ciro Gomes e Sergio Moro, por exemplo.

Terceira via

De acordo com a cientista política Priscila Lapa, há uma cristalização na percepção das pessoas sobre o processo eleitoral, o que acaba dificultando os atores que se colocam como terceira via. “A desconfiança do eleitor de que é possível que esses adversários, - Moro como uma alternativa a Bolsonaro e Ciro como uma alternativa a Lula - sejam realmente capazes de vencer o pleito, de enfrentar essa polarização que o eleitor já entendeu estar presente no cenário. Diante disso, muito mais do que aprovar ou reprovar esses players, o eleitor tem feito a opção majoritariamente por Lula ou Bolsonaro, de acordo com as pesquisas de opinião até o momento. Isso acontece muito mais por eles serem verdadeiramente capazes de derrotar um ao outro”. 

Ela explicou que o eleitor ficou mais atento às opções de voto e, neste caso, levando em conta as pesquisas, a opção de terceira via acaba sendo defasada. “Acho que mesmo que o eleitor não queira optar por Lula, por exemplo, e prefira votar em Ciro para fugir dessa polarização, ele pode observar que Ciro não tem a capacidade eleitoral suficiente para bater Bolsonaro, e a mesma coisa o possível eleitor de Moro, que não quer votar em Bolsonaro porque acha que ele pode não ter feito um bom governo, mas quando olha para o cenário não consegue enxergar em Moro a capacidade de derrotar Lula”, analisou. Como já mencionado, a pesquisa apresenta Sergio Moro com 8% das intenções de votos e Ciro Gomes com 7%, com uma grande diferença entre os candidatos majoritários, que são Lula (43%) e Bolsonaro (26%). 

Lulismo e bolsonarismo

A cientista política detalhou que os poucos fatores que podem mudar o enredo dessa corrida ao pleito são grandes acontecimentos, como a pandemia ou algum grande escândalo, por exemplo.“Continuam presentes no cenário atual os movimentos do lulismo e do bolsonarismo, e do antipetismo e do antibolsonarismo. Essas macrovariáveis que orientam a percepção do eleitor impedem que um candidato de terceira via, por melhor performance que ele possa ter discursiva e narrativa de emplacar nas pesquisas de opinião até o momento e de instalar, de fato, a campanha, que é quando alguns elementos da conjuntura podem interferir nisso. Grandes escândalos, denúncias, variáveis que a gente não consegue prever hoje, mas algo do nível da pandemia, que ninguém poderia prever em 2018 nas eleições presidenciais. Talvez, se as pessoas tivessem visualizado essa possibilidade de uma pandemia, não tivessem votado em alguém como Bolsonaro, que demonstrou a incapacidade técnica de gerenciar o País no processo da crise”.

Lapa chamou atenção para a diferença entre terceira via e terceira colocação nas pesquisas, o que confunde muitas pessoas. “Esse lugar de terceira via vai além disso, tem a ver com projetos alternativos às candidaturas que estão colocadas como oposição principal e situação principal e, aí sim, tanto Doria, como Moro e o próprio Ciro Gomes são candidaturas de terceira via nesse sentido. Eles nem comungam 100% com as ideias bolsonaristas e nem comungam 100% com as ideias do lulismo. Nesse cenário que estamos das eleições, qualquer candidatura que se coloca como ‘não sou bolsonarista, não defendo o que Bolsonaro defende na pauta de costumes, na economia, mas também não defendo o modelo que o PT governa’, tanto Ciro, como Doria e Moro tentam ocupar esse espaço nesse debate e dizer que as ideias são diferentes das principais, mas não têm encontrado muito respaldo no eleitor”, afirmou.

Na corrida para ser o candidato preferido da terceira via, Sergio Moro se coloca como principal ator e melhor opção por ter sido juiz da Operação Lava Jato, que levou à prisão de Lula, além de ter se desvinculado do governo Bolsonaro após ser exonerado do cargo de ministro da Justiça. “Nesse sentido, Sergio Moro se coloca como um ator que é fora da política, tem essa ideia de ser um outlier, que nunca tinha sido filiado e fez parte de um governo, mas como ministro, que é um cargo técnico. Ou seja, ele não era político, e isso tem um certo respaldo da opinião pública. O próprio Doria é fruto um pouco desse discurso do político não-político, da solução para a política vindo de fora da política. Além disso, quando ele [Moro] se coloca como quem vai resolver os problemas da política a partir da Operação Lava Jato, ele se coloca como alguém que enxerga criticamente a política, como ‘eu não faço parte disso’, porque ainda existe muito forte essa questão do antipetismo como combate à corrupção”. 

“Moro também fez parte de um governo porque ele ajudou a eleger esse governo quando conseguiu ajudar a dar força a essas ideias do combate à corrupção, porém ele rompe com esse governo no sentido de que chegou uma hora que ele passou a discordar das práticas e foi buscar o seu caminho. É nesse sentido que ele coloca-se, sim, como uma alternativa a Bolsonaro, e ele tem alguns ingredientes que o colocam como terceira via. Agora, ele disputa votos em um lugar marcado ideologicamente. Lembra de Bolsonaro falando de uma nova política, só que ele não tinha nada de nova política e conseguiu colar na imagem dele? Sergio Moro mostra-se como ‘eu não vim da política, participei de um governo porque fui ludibriado’, e essa é a dificuldade dele de captar o eleitor que descole de Bolsonaro sem ser o eleitor que vai para a esquerda”, completou. 

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