Bolsonaro não consegue ser reeleito presidente do Brasil

Pela primeira vez, desde a redemocratização do país, um presidente eleito não consegue ser reconduzido ao cargo na disputa do segundo mandato

por Jameson Ramos dom, 30/10/2022 - 19:59
João Velozo/LeiaJá Imagens/Arquivo Presidente Jair Bolsonaro deve entregar a faixa presidencial ao líder petista João Velozo/LeiaJá Imagens/Arquivo

Neste domingo (30), o presidente Jair Bolsonaro (PL) não conseguiu ser reeleito presidente do Brasil. Esta é a primeira vez na história, desde a redemocratização, que um chefe do Executivo disputa pela continuidade do poder e não consegue ser reconduzido ao cargo.

Os mais de 57.805.057 de votos não foram suficientes para manter Bolsonaro no poder e a partir do próximo ano, será Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recebeu 59.790.720 dos votos, quem assumirá a dianteira do Brasil.

Governo 

Eleito em outubro de 2018, após vencer Fernando Haddad (PT) com 55% dos votos válidos, Bolsonaro tomou posse em 1º de janeiro de 2019. Em todo o seu governo, o presidente protagonizou incontáveis polêmicas e recuos imediatos. O cenário também foi marcado por suspeitas envolvendo o seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL), no escândalo das "rachadinhas", quando parte do salário dos assessores eram supostamente devolvidos para o parlamentar. 

Enfraquecimentos dos órgãos de investigação

Ainda no início do seu mandato, o presidente atuou diretamente no enfraquecimento de órgãos que participam do combate à corrupção do Brasil. Entre as medidas tomadas na época estão a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Economia para o Banco Central, também trocou, por quatro vezes, o diretor-geral da Polícia Federal. Todas essas modificações foram enxergadas como uma forma de proteger o Flávio das investigações.

Troca de ministros 

A gestão Bolsonaro também foi marcada pelas constantes mudanças de seus ministros. Foram, ao menos, 28 trocas feitas desde que ele assumiu à Presidência da República.

Isso sem contar a descompatibilização de alguns ministros que concorreram a algum cargo do Legislativo neste ano, como Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes; na Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina; Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas e, por fim, Damares Alves que comandou a pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Inclusive, Milton Ribeiro deixou o comando do Ministério da Educação após vir à tona que um grupo de pastores, que não tinham vínculo nenhum com o setor de ensino e sem possuir cargo público, passou a comandar a agenda de Milton, formando uma espécie de "gabinete paralelo" que definia para onde seria liberado recurso da educação. 

Para isso, os líderes religiosos cobravam propina em ouro. O ex-ministro Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, apontados como lobistas no Ministério da Educação, foram presos pela Polícia Federal.

Atuação pandemia

No início da pandemia da Covid-19, Bolsonaro desdenhou da possível gravidade da doença. O presidente também demorou para comprar vacina. Em carta da Pfizer às autoridades brasileiras, a empresa declarou a intenção de tornar o Brasil uma espécie de vitrine da vacinação na América Latina, se comprometendo a reduzir a entrega dos imunizantes e auxiliar na logística. No entanto, cerca de 53 e-mails foram ignorados pelo governo federal e nove propostas foram recusadas. 

Bolsonaro também foi defensor ferrenho do tratamento com Cloroquina, remédio este que a comunidade científica sempre afirmou que não tinha eficácia contra a doença. 

Suspeita de propina na vacina

O representante da Davati Medical Supply Luiz Paulo Dominguetti Pereira, denunciou que recebeu um pedido de propina de US$ 1 por dose para que o governo assinasse o contrato de venda de vacinas AstraZeneca com o ministério da Saúde. 

Esses casos foram determinantes para que iniciasse a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o Palácio do Planalto. Em relatório final, a comissão apontou emprego irregular de verbas para compra de remédios ineficazes no combate ao coronavírus e charlatanismo. 78 pessoas foram indiciadas, entre elas o presidente Bolsonaro.

Auxílio Brasil

Considerado o principal acerto do governo Bolsonaro, o Auxílio Brasil já foi motivo de embate entre o presidente e a oposição. No ponto mais difícil da pandemia, quando quase tudo parou por conta da alta contaminação, foi pensado um auxílio para dar aos brasileiros mais atingidos. O governo queria dar R$ 200, a oposição queria R$ 600. 

Depois de vários atritos, o auxílio pagou R$ 600 por mês nos três primeiros meses do programa. Nesse período, foi garantido até dois benefícios por família, com exceção da mulher sozinha chefe de família, que recebia em dobro e poderia cumular com mais um membro da família que recebesse o benefício. O valor máximo por família era de R$ 1.800.

O programa de emergência atendeu  68,3 milhões de pessoas maiores de 18 anos com renda familiar de até três salários mínimos, ou meio salário mínimo per capita.

Os últimos dados do Ministério da Cidadania confirmam que o Auxílio Brasil está sendo pago a 21,13 milhões de famílias, que recebem o repasse mínimo de R$ 600.

COMENTÁRIOS dos leitores