Raquel diz que não encontrou pessoas pretas para o Governo

A governadora assumiu que falta diversidade racial em Pernambuco e foi criticada pela deputada Dani Portela

ter, 27/06/2023 - 11:49
João Velozo/LeiaJá Imagens/Arquivo Raquel Lyra foi eleita a primeira mulher a governar Pernambuco João Velozo/LeiaJá Imagens/Arquivo

O esforço para indicar mulheres ao secretariado não se manteve para nomear pessoas pretas no alto escalão de Pernambuco. Convidada ao Roda Viva que foi ao ar nessa segunda (26), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), revelou que encontrou dificuldades encontrar mais pessoas pretas para participar da gestão.   

Depois de assinar o Estatuto da Igualdade Racial, Raquel prometeu uma reflexão permanente sobre o combate ao racismo e um legado de oportunidades. No entanto, a primeira governadora do Estado, que nomeou maior secretariado feminino da história, admitiu que a diversidade racial ainda é insuficiente no Palácio do Campo das Princesas.  

Raquel observou que é preciso um esforço maior para encontrar pessoas pretas para assumir postos de gestão: "eu preciso chegar a elas", assumiu. "Eles não estão colocados, não são os primeiros nomes, como não são de mulheres. A gente vai buscar uma indicação, as vezes recebe um currículo, dois, três, se a gente não olhar o nome, todos eles vão ser de homens brancos e, de mulheres, na maioria das vezes, também brancas. Eu me coloco como alguém que precisa ainda garantir mais participação", considerou. 

Deputada indica conivência com o racismo

O discurso não foi bem recebido pela líder da oposição na Assembleia Legislativa (Alepe), a deputada estadual Dani Portela (PSOL). Em seu perfil nas redes sociais, ela afirmou que o processo de invisibilidade pontuado pela governadora faz parte do racismo estrutural que ela diz querer enfrentar.  

"Raquel Lyra afirmou em cadeia nacional que teve dificuldade de encontrar pessoas negras para ocupar espaços de relevância em seu governo. Invisibilidade é racismo estrutural, mas a branquitude não vê", criticou a deputada.

O próprio entrave com os deputados da Alepe foi levado à mesa. Sem conseguir apoio em pautas importantes do governo e, após algumas derrotas na Casa, a governadora passou a ser chamada de "autoritária" e "controladora". Ela encarou as tensões como naturais, e indicou que os adjetivos partem da cultura machista.

"Adjetivos como esses não são utilizados com homens. O homem é controlador? Não, ele é firme. A gente tem muito de um machismo estrutural muito forte", comentou Raquel. "Eu gostaria de chegar a um momento em que eu não fosse avaliada pelo meu gênero", prosseguiu. 

No muro

Sobre a estratégia de se distanciar da polarização da Política nacional, a gestora entende que teria um caminho mais fácil à eleição se tivesse se escorado em uma das candidaturas e declarado apoio a Lula ou Bolsonaro. "O que se fala de uma falta de posição é uma posição", resumiu.

Ela agradeceu ao presidente Lula pela solidariedade ao lhe defender do mar de vais durante sua última passagem por Pernambuco e permaneceu em cima do muro quando questionado sobre o processo que pode culminar na inelegibilidade de Jair Bolsonaro. 

"Eu lamento muito que um ex-presidente esteja sendo julgado e possa se tornar inelegível", sintetizou sem indicar se é favorável ou discorda da eventual perda dos direitos políticos do ex-presidente. 

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