Mães ganham mais espaço em empresas digitais

Como companhias do meio tecnológico têm se tornado exemplos em políticas para abraçar a maternidade

por Katarina Bandeira dom, 12/05/2019 - 13:26

 

Maternidade. Essa condição inerente à mulher carrega uma mistura de amor e medos, principalmente para as que fazem parte do meio corporativo. O auge da idade reprodutiva é o mesmo em que milhares de mulheres se encontram quando estão ascendendo em suas carreiras, o que - culturalmente - sempre gerou receio entre os empregadores e também entre suas funcionárias.

Uma pesquisa divulgada pela Catho, realizada em 2018, apontou que 30% das mulheres costumam deixar o mercado de trabalho para cuidar de seus filhos. A pressão sobre ter ou não ter uma gravidez começa desde a entrevista de emprego e segue pelos anos, enquanto for possível gerar uma vida. Porém, remando contra a maré de uma sociedade que ainda assimila a maternidade com a perda de produção e lucro, empresas de tecnologia de todo o mundo tem mudado suas políticas para acolher as mães. O Porto Digital, em Recife, é uma delas.

Mais do que uma creche

Coordenadora do Programa MINAS, Natália Lacerda foi uma das pessoas, à frente das políticas de equidade de gênero dentro do Porto Digital, que enxergou a possibilidade de ampliar a participação feminina no mercado tecnológico. Grávida e consciente da dificuldade de encontrar espaços dentro das empresas que atendam mães, ela virou um dos muitos braços que têm ajudado a construir um espaço, no coração do bairro do Recife, específico para as mulheres.

“Dificilmente as empresas têm um espaço para atender essas mulheres, com privacidade e local de armazenamento de leite, por exemplo. Então, queremos que este local funcione para acolher essa demanda”, explica. Pensado para começar a funcionar no início do ano letivo de 2020, a creche do Porto Digital será muito mais do que apenas um prédio para deixar as crianças. A ideia aqui é aproximar a mulher, que volta da licença maternidade, da criação de seu filho e também de suas obrigações enquanto profissional.

“O espaço foi pensado para funcionar como creche, hotel de empresas e espaço de coworking, todo focado nas mulheres. Vamos tentar direcionar todo o prédio com atividades para elas e empresas feitas por elas”, afirma Natália. “Também queremos incluir um espaço de aleitamento materno que sirva para todas as profissionais que estão aqui no bairro (do Recife) e que precisem tirar o leite durante o expediente”, diz.

Queremos mulheres

Quem também investe na permanência de suas funcionárias durante e após a gravidez é a Accenture. Ocupando diversos armazéns também no bairro do Recife, a multinacional está entre as 100 melhores empresas para mães trabalharem, de acordo com o ranking anual da revista americana Working Mother's Best Companies.

Além dos direitos garantidos por Lei, a Acceture também oferece para suas funcionárias uma licença maternidade estendida de seis meses, home office, horário flexível para novas mães (através do programa Nova Mãe), acompanhamento multidisciplinar (programa Gestação Saudável), auxílio creche até 2 anos e meio, bolsa para material escolar até os 14 anos e madrinhas para acompanhar a carreira de gestantes enquanto não tiram a licença.

A empresa tem uma política forte de inclusão de mulheres, com uma meta para compor 50% de seu quadro de funcionários com mão de obra feminina, até 2025. A consultoria de gestão em serviços é um dos bons exemplos de como é possível manter um ambiente de funcional e atrativo para ambos os gêneros.

O futuro

Apesar do aumento nas políticas para a inclusão de mães dentro das grandes empresas o movimento ainda é pequeno. Para Natália, muitas organizações, não apenas da área tecnológica, precisam desmistificar as barreiras criadas para a contratação de mulheres em idade fértil. “Essa é uma questão que é boa para os negócios, boa para o faturamento da empresa, satisfação dos funcionários e é uma responsabilidade de formação dentro da sociedade” afirma.

Porém, o primeiro passo rumo à equidade de gênero é incentivar a participação feminina na área de tecnologia. "A gente percebe muito pouco interesse de meninas por cursos da área. Hoje, elas são apenas 13% das participantes dos cursos de ciência da computação e afins. No mercado de tecnologia estão em torno de 30%, mas quando você vê em posições de liderança o número é menor".

Como futura usuária do programa que ajudou a criar e que deverá beneficiar outras mulheres, Natália afirma que se sente mais tranquila em relação à maternidade. “Eu fiquei pensando como faria para voltar ao trabalho com um bebê de 4 meses ainda amamentando. Agora me sinto mais segura”.

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